Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975)
O filme “Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, de Chantal Akerman, tem ganhado cada vez mais destaque nas listas de melhores filmes. Essa lista da revista Sight and Sound é reconhecida como uma das mais respeitadas do mundo do cinema.
Em 2022, um resultado surpreendente chamou atenção: o filme de Akerman foi eleito o melhor por essa pesquisa. Com um título longo e chamativo, a obra dura quase 3 horas e meia. No filme, a protagonista, interpretada pela atriz Delphine Seyrig, é uma dona de casa que se perdeu em sua rotina.
A narrativa é simples em termos de ação. O foco está em Jeanne, que realiza tarefas do dia a dia, como cozinhar, limpar e cuidar da casa, tudo mostrado em tempo real. Essa abordagem torna o filme bastante único e, para alguns, até desafiador. A história só ganha um giro chocante quando Jeanne comete um ato de violência inesperado.
Este longa é reconhecido como um dos primeiros filmes feministas e também é um representante do chamado “cinema lento”. A produção é considerada por muitos como um clássico cult que, aos poucos, vem ganhando mais reconhecimento fora do seu público original. Este filme é essencial para quem quer entender melhor o que uma obra cinematográfica pode transmitir.
O enredo aborda temas como a solidão, a rotina e o papel da mulher na sociedade, colocando em discussão questões pertinentes à condição feminina. O ritmo mais lento pode parecer cansativo para alguns, mas é intencional. Ele convida o espectador a entrar na psicologia da protagonista e a sentir cada nuance de sua vida solitária.
As cenas se prolongam, e isso pode gerar uma sensação de imersão. A experiência se torna quase uma observação da vida de Jeanne, onde cada pequeno gesto carrega um significado profundo. A ideia de transformar ações comuns em algo significativo oferece um novo olhar sobre o cotidiano.
A escolha de Delphine Seyrig para o papel principal foi acertada. Sua atuação carrega um peso emocional que ressoa com o público, mostrando a fragilidade e a força de Jeanne. A conexão que a atriz estabelece com a câmera faz com que cada olhar e expressão pareçam relevantes.
A cinematografia do filme também é um destaque. A forma como a câmera captura os gestos simples de Jeanne, click a click, proporciona uma experiência quase íntima. Os planos longos dão a sensação de que o tempo está se estendendo e que estamos vivendo aqueles momentos com a protagonista.
Ao longo do filme, pequenas mudanças no ambiente e na vida da personagem se tornam notáveis. Cada detalhe traz à tona a tensão crescente até o momento culminante. Essa construção é um dos aspectos mais intrigantes da obra, pois o espectador é levado a sentir a pressão da rotina de Jeanne.
O clima de solidão é outro ponto forte. Jeanne vive em um mundo quase isolado, onde as interações humanas são escassas. A ausência de diálogo em muitas cenas faz com que a solidão dela se torne palpável, e o público parto disso é levado a refletir sobre a vida urbana.
Além disso, o filme também é uma crítica social. Ele questiona os papéis de gênero e a pressão social sobre as mulheres. A repetição das tarefas diárias de Jeanne reflete a luta de muitas mulheres que, ao longo da história, foram restringidas ao espaço doméstico. Esse realismo desafia o espectador a considerar a seriedade e a profundidade dessa questão.
Jeanne Dielman também modifica a noção do que é considerado entretenimento. A estrutura do filme foge dos padrões tradicionais, o que pode ser intimidante para quem está acostumado a narrativas mais rápidas e dinâmicas. A lentidão oferece um espaço para a introspecção.
Por tudo isso, a produção de Akerman se destaca como uma obra que transcende o simples ato de contar uma história. É também uma experiência cinematográfica que provoca reflexão sobre a vida, a identidade e o empoderamento feminino. Para quem gosta de cinema, esse filme é imperdível.
O impacto cultural de “Jeanne Dielman” é inegável. A obra está se tornando cada vez mais evidente em debates sobre cinema, especialmente em questões de gênero. Muitos críticos e cineastas atuais citam o longa como uma influência importante na forma como o cinema pode ser abordado.
Contudo, mesmo com todo o seu prestígio, o filme ainda é considerado desafiador. A linguagem visual e a construção da narrativa não são convencionais. Então, é importante ter em mente que a experiência de assisti-lo pode ser muito diferente do que se poderia esperar.
A recepção inicial do filme foi mista. Em sua época, não teve o reconhecimento imediato que merece, mas com o tempo, sua importância na história do cinema foi sendo redescoberta. Agora, é frequentemente mencionado em conversas sobre o que é considerado arte cinematográfica.
Os diretores contemporâneos também têm se inspirado no trabalho de Akerman. Sua abordagem única e inovadora de contar histórias está influenciando a nova geração de cineastas. A forma como ela construiu Jeanne Dielman abriu portas para novos estilos narrativos e estéticos.
É interessante ver como a percepção do filme mudou com o tempo. O que antes era visto como “chato” ou “demorado” agora é reconhecido como uma obra-prima que redefine o que um filme pode ser. Essa reavaliação mostra que o cinema está sempre em evolução.
Além disso, para muitos, essa obra é mais do que um filme; é um convite à reflexão. Ao assistir, o público é desafiado a sair de sua zona de conforto e considerar novas formas de narrativa cinematográfica. O que parece ser monotonia a princípio se transforma em uma análise profunda da vida de uma mulher.
Assim, “Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles” se torna uma experiência marcante, cheia de camadas e significados. É uma produção que continua a gerar conversas e debates importantes sobre a condição humana e o papel da mulher na sociedade contemporânea.
Por tudo isso, se você está em busca de ampliar seus horizontes no cinema, esse filme é um lugar perfeito para começar. Ele não é apenas uma obra fundamental, mas também uma oportunidade de ver o mundo sob uma nova perspectiva.
