Uma análise dos resultados das últimas cinco edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revela que, embora o teste mantenha uma distribuição semelhante de candidatos em diferentes faixas de desempenho, há grandes variações no número de estudantes que alcançam as notas mais altas, ano após ano. Este fenômeno é especialmente relevante para os estudantes que disputam vagas em cursos concorridos, como Medicina, nas universidades federais.
A próxima edição do Enem acontece de amanhã até domingo, e deve mobilizar cerca de 4,8 milhões de candidatos em todo o Brasil. A crescente diversidade de notas obtidas, especialmente nas faixas mais altas, levanta questões sobre a uniformidade das provas e seus impactos nas oportunidades oferecidas aos estudantes.
A partir de 2026, o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) começará a aceitar as notas das três últimas edições do Enem. Essa mudança gerou preocupações entre os alunos do último ano do ensino médio, que só terão um exame para usar, enquanto outros candidatos poderão escolher a melhor nota entre três provas.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirma que o Enem utiliza a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para sua correção. Esse modelo permite a comparação de notas de diferentes edições, pois considera parâmetros que garantem a comparabilidade entre as provas realizadas em anos diferentes. No entanto, dados recentes indicam que em algumas edições, um número menor de candidatos atingiu as notas mais altas, sugerindo que algumas provas foram mais difíceis do que outras.
Por exemplo, em Matemática, apenas 0,2% dos candidatos obteve uma nota acima de 900 em 2023, enquanto em 2021, esse percentual foi reduzido para 0,1%. Essa diferença é significativa em relação à alta concorrência por vagas em Medicina, onde detalhes mínimos nas notas podem fazer a diferença.
Em 2024, a quantidade de estudantes que alcançou as notas mais altas também caiu em várias disciplinas, comparando-se ao ano anterior. A edição de 2024 revelou menos candidatos com alto desempenho especialmente em Ciências da Natureza e Linguagens, com uma diminuição de 40% nas contagens desses alunos em relação a 2023.
Os dados apontam que, ao comparar Matemática, a discrepância foi menor, mas ainda assim notável. Em Humanas, mais alunos conseguiram alcançar altas pontuações em 2024 do que em 2023. Para a Redação, as notas também mostraram uma leve diferença percentual entre os dois anos, mas com uma metodologia diferente de correção, que não utiliza a TRI.
Análises anteriores mostram que cerca de 10% dos candidatos atingiram notas acima de 900 em 2023 e 2024, enquanto em 2020 esse número foi de 6,8% e em 2021, 7,1%. Os especialistas afirmam que, apesar das variações nas notas, o padrão geral de desempenho dos alunos ao longo dos anos permanece semelhante.
A TRI, adotada pelo Enem desde 2009, utiliza um conjunto de modelos matemáticos que avaliam tanto a dificuldade das questões como o desempenho dos estudantes. Cada pergunta do exame é classificada conforme sua dificuldade, o que ajuda a garantir que todos os alunos sejam avaliados de forma justa.
O estatístico Thiago Valentim, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, reforça que as análises indicam que o nível de desempenho dos candidatos mostra uma consistência estatística ano a ano. A TRI foi desenvolvida para permitir que provas diferentes possam ser comparadas, diferenciando notas entre os 4,8 milhões de inscritos e minimizando empates.
A metodologia, segundo especialistas, foi criada para garantir que todos os alunos que atingem a mesma pontuação, independentemente da edição do Enem, estejam colocados em uma posição comparável na escala de proficiência.
