Quem foi “Lola”?

    Floripes Dornellas de Jesus, conhecida popularmente como “Lola”, nasceu em 9 de junho de 1913 em Mercês, Minas Gerais. Quando era criança, se mudou para Rio Pomba, também em Minas. Ela faleceu no dia 9 de abril de 1999.

    Na juventude, Lola sofreu um acidente. Ela caiu de uma jabuticabeira e teve uma fratura na coluna, o que a deixou paraplégica. Depois desse evento, de acordo com o que familiares e pessoas da comunidade contam, as necessidades básicas dela foram diminuindo. O apetite, a sede e até a necessidade de sono quase desapareceram ao longo do tempo.

    O fenômeno da “inédia eucarística”

    O termo “inédia” refere-se a uma habilidade especial de viver por longos períodos sem comer alimentos normais. No caso de Lola, esse fenômeno é chamado de “inédia eucarística”. Segundo relatos, ela se alimentou somente de hóstias, ou seja, da comunhão, por mais de sessenta anos.

    Além disso, dizem que Lola quase não dormia ou dormia muito pouco. Ela também não tinha sede e, aparentemente, não precisava de água nem de comida convencional. Médicos que a acompanharam ao longo da vida afirmaram que, mesmo com a paralisia e o tempo em que ficou acamada, ela nunca teve escaras, que são feridas comuns em pessoas imobilizadas. Isso continua sendo um mistério para muitas pessoas que estudam o corpo humano.

    Por que a UFJF investiga este caso?

    O Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) decidiu investigar a vida de Lola. Eles aprovaram uma pesquisa científica que examina documentos de sua vida, incluindo relatos, laudos médicos e depoimentos. O estudo é coordenado pelo psiquiatra Alexander Moreira-Almeida e inclui gastroenterologistas, geriatras e especialistas em saúde e espiritualidade.

    O objetivo da pesquisa é explorar três hipóteses principais:

    1. Se Lola tinha distúrbios alimentares ou psicossomáticos muito graves.
    2. Se houve erros de observação ao longo dos anos, ou seja, se realmente ela não comia e não dormia.
    3. Se existiu um fenômeno místico ou espiritual, relacionado à fé que não pode ser explicado pelos métodos científicos tradicionais.

    Os pesquisadores adotaram uma abordagem chamada “ceticismo saudável”. Isso significa investigar sem fazer julgamentos prévios, mas também sem acreditar em tudo automaticamente.

    Fontes, documentação e desafios

    No entanto, a investigação enfrenta alguns desafios. Lola faleceu em 1999, o que significa que não podem fazer exames nela agora. A equipe está entrevistando familiares e pessoas que conviveram com ela. Além disso, estão coletando laudos antigos, documentos e registros históricos sobre as visitas que Lola recebeu.

    Um dos médicos que a acompanhou primeiramente, o geriatra Cláudio Bomtempo, comentou que ela sempre foi uma católica praticante e que a falta de comida e bebida não parecia ter causado problemas sérios de saúde. Porém, isso só pode ser confirmado por meio de relatos e registros antigos, o que complica uma validação científica completa.

    O que está em jogo?

    Esse caso levanta muitas questões importantes:

    • Para a ciência: Ele desafia os limites do que sabemos sobre o corpo humano, pois geralmente, sem comer, beber ou dormir, o corpo não consegue sobreviver. Se os relatos se confirmarem, isso mostraria algo realmente extraordinário.

    • Para a fé: Lola é vista como “Serva de Deus” pela Igreja Católica, um passo inicial para uma possível canonização. A pesquisa científica poderia agregar credibilidade a esse processo e ao testemunho de vida dela.

    • Para a cultura popular: O caso atrai a atenção de muitos devotos, peregrinos e curiosos. O local onde Lola viveu em Rio Pomba se tornou um ponto de fé e visitação.

    Além disso, essa investigação destaca a necessidade de um diálogo entre ciência e espiritualidade, que muitas vezes não se comunicam, mas que neste caso, se entrelaçam.

    Próximos passos da investigação

    A equipe da UFJF já recebeu aprovação ética para a pesquisa, e está em fase de coleta de dados. Eles vão realizar entrevistas com testemunhas que ainda estão vivas, analisar laudos antigos e procurar por inconsistências ou lacunas nas informações reunidas. Ao mesmo tempo, o processo de canonização de Lola está sendo acompanhado de perto.

    O padre que lidera esse processo, Rodney Francisco Reis da Silva, explica que essa pesquisa científica pode se tornar um “instrumento de credibilidade moral e de fé” para a Igreja.

    Assim, o caso de Lola não só fascina pela singularidade, mas também pela possibilidade de contribuir para um entendimento mais profundo entre a ciência e a fé. Essa história de vida, marcada por fenômenos extraordinários, continua a ser um tema de estudo e reflexão.

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