Glen Powell está pendurado em uma corda a oito andares de altura, usando apenas uma toalha, em uma filmagem no frio da Bulgária. O diretor Edgar Wright, todo agasalhado e tomando um espresso, observa da base do prédio. A produção de “The Running Man” está em suas etapas finais, marcando uma das filmagens mais caras e frias da carreira de Wright. Recentemente, uma nevasca cobriu a Bulgária com uma camada espessa de neve. Powell, que interpreta um concorrente de um reality show em uma corrida pela sobrevivência na adaptação do romance distópico de Stephen King, sabia que precisaria enfrentar temperaturas geladas neste cenário em que seu personagem se joga pela janela de um hotel, descendo a fachada do prédio, quase sem roupas.
Powell brinca dizendo que “é sempre uma dor temporária para uma glória cinematográfica eterna”.
Edgar Wright, conhecido por seus filmes únicos que misturam gêneros, como “Hot Fuzz” e “Baby Driver”, é exigente em relação às cenas de ação e busca sempre o melhor ângulo. Durante as filmagens, Powell ficou preso em uma harness por 30 minutos enquanto a câmera era ajustada, uma maneira de Wright homenagear os desafios enfrentados por Bruce Willis em “Duro de Matar”, ampliando essas situações para um novo patamar e com menos roupas.
A filmagem na Bulgária foi extremamente fria, mas isso não se compara às temperaturas em Glasgow, na Escócia, onde as gravações também ocorreram. Wright lembrou que quase perdeu a circulação das pernas devido ao frio intenso, mesmo com várias camadas de roupas. Ele desabafou que não tinha certeza se conseguiria se aquecer novamente.
Oito meses depois, Wright está em Nova York, em um dia de outono surpreendentemente quente. Faltam cinco semanas para a estreia de “The Running Man”, marcada para 14 de novembro. Durante uma sessão de autógrafos e fotos na New York Comic-Con, ele se divertiu com os fãs. Enquanto isso, o evento estava lotado de cosplayers que lembravam os zumbis de “Shaun of the Dead”, um feito por Wright. Ele se refugiou em um camarim longe da agitação, abastecido com doces e água.
O romance de King, escrito em 1982, retrata um futuro distópico em 2025, antes das redes sociais dominarem o mundo. A história, que inicialmente parecia uma fantasia sombria, agora tem semelhanças perturbadoras com a realidade atual. Para Wright, essa adaptação é uma oportunidade de dar seu toque único a uma trama que já havia sido transformada em um filme de ação em 1987, estrelado por Arnold Schwarzenegger.
Na nova versão, o programa de maior popularidade nos Estados Unidos é “The Running Man”, onde o prêmio de um bilhão de dólares é oferecido ao competidor que conseguir sobreviver a um caça-homens em todo o país por 30 dias, sem recompensa para quem não conseguir. A premissa é sombria, mas Wright procura humanizá-la, mantendo a ação intensa. O protagonista Ben Richards, interpretado por Powell, é descrito como um pai lutador que arrisca tudo para conseguir dinheiro para o tratamento de seu filho doente, em contraste com a imagem muscular inicialmente apresentada por Schwarzenegger.
Powell afirmou que as gravações foram desafiadoras. Wright queria que a cena tivesse um tom brutal e, antes de se juntar ao projeto, Powell garantiu a Wright que ele se entregaria totalmente ao trabalho, disposto a colocar seu corpo à disposição para que o diretor conseguisse a visão que tinha para o filme.
Wright, filho de artistas e fã de King desde a adolescência, guarda até hoje seus livros do autor, que influenciou sua forma de contar histórias. Ele compartilhou seu apreço pela obra de King, ressaltando que a escrita do autor vai além do terror, capturando humor e construção de mundos.
Em 2017, Wright comentou no Twitter que, se pudesse refazer qualquer filme, escolheria “The Running Man”. Oito anos depois, teve a chance de realizar sua própria versão, que não considera um remake, mas uma nova adaptação mais fiel à obra original.
Wright comparou seu trabalho a outras adaptações significativas, destacando que existem filmes que mantém a essência do material de origem enquanto se tornam novas criações.
Desde seu sucesso inicial com “Shaun of the Dead”, Wright construiu uma base de fãs nos EUA. Ele começou a ser reconhecido por outras grandes figuras do cinema, que se identificavam com sua abordagem única às histórias.
Com o crescimento de sua carreira, Wright teve acesso a orçamentos maiores, mas também enfrentou desafios. “Scott Pilgrim vs. the World”, apesar de bem recebido, não teve sucesso comercial imediato. No entanto, ao longo do tempo, conquistou um status de cult e ganhou um mini-série animada no Netflix.
Wright também lidou com a frustração ao desenvolver um filme de “Ant-Man” para a Marvel, que foi cancelado após não se alinhar com a visão da Disney. Essa experiência foi um aprendizado em como as mudanças na indústria podem impactar projetos criativos.
“Baby Driver”, lançado em 2017, trouxe Wright de volta ao sucesso, com uma abordagem que equilibra seu estilo pessoal com as expectativas das grandes produções. No entanto, seu filme “Last Night in Soho” teve dificuldades de promoção durante a pandemia.
Com “The Running Man”, Wright espera se reconectar com as audiências nos cinemas, embora a produção de grande orçamento não garanta sucesso, especialmente em um clima de incertezas. A temática do filme, que toca em políticas fragmentadas, também levanta questões sobre a aceitação do público para uma história que reflete a realidade atual.
A mídia também está atenta ao papel crescente da inteligência artificial, um tema presente em “The Running Man”, que aborda como essa tecnologia pode manipular opniões públicas. Recentemente, a indústria reagiu à criação de Tilly Norwood, uma “atriz” de inteligência artificial, levantando questões sobre a autenticidade na atuação.
Wright enxerga a IA como uma nova realidade, mas questiona o apelo de uma “atriz” que não é real.
Com entusiasmo, Wright compartilha suas lembranças do Comic-Con, relembrando a época em que, em 2004, ninguém o conhecia. Hoje ele tem um público de milhares de fãs e é reconhecido como uma figura icônica no cinema. Recentemente, entrou em contato com King para assegurar que o autor estivesse satisfeito com sua adaptação. King respondeu com entusiasmo, elogiando a fidelidade ao material original ao mesmo tempo em que introduz novidades.
A felicidade de Wright ao receber essa mensagem é evidente, refletindo sua paixão e dedicação ao projeto.
