Na semana passada, a vitória de Zohran Mamdani nas eleições municipais de Nova York chamou a atenção em todo o mundo. Ele se destacou não apenas pelas consequências que sua eleição pode trazer para a política americana, mas também por oferecer lições valiosas sobre mobilização e engajamento social.

    A inesperada atenção global que a votação em uma cidade americana recebeu é notável. Mamdani rapidamente se tornou uma figura admirada em diversos países, como o Brasil e a França, onde políticos de esquerda aproveitaram a oportunidade para se associar à sua proposta. Essa atenção, entretanto, não costuma ser dada a eleições em grandes cidades da América Latina, Ásia ou mesmo na Europa, o que levanta questões sobre o interesse seletivo do público internacional. Parte dessa curiosidade decorre do perfil de Mamdani: ele é um jovem de 34 anos, nascido em Uganda, muçulmano e de ideologia socialista.

    O que torna a vitória de Mamdani ainda mais significativa é a estratégia populista usada em sua campanha. O termo “populismo”, frequentemente mal interpretado, remete a uma luta pela inclusão dos grupos marginalizados na política. Ao invés de se restringir à simples oposição entre “povo” e “elites”, sua proposta mobilizou segmentos da população que, habitualmente, se sentem excluídos do processo eleitoral.

    A mobilização de Mamdani se deu em duas frentes principais. Primeiro, ele abordou questões que impactam diretamente a vida financeira dos cidadãos, propondo medidas como o congelamento dos aluguéis e a expansão do transporte público e das creches. Essas propostas foram bem recebidas em um momento em que muitos moradores enfrentam altos custos de vida.

    A segunda frente envolveu a defesa de causas importantes, incluindo direitos feministas, questões raciais e diversidade sexual. Durante seu discurso de vitória, Mamdani enfatizou a importância da solidariedade entre trabalhadores que enfrentam dificuldades financeiras e aqueles que sofrem discriminação. Sua campanha também se destacou pelo uso eficaz das redes sociais, mobilizando cerca de 90 mil voluntários para registrar eleitores, um esforço impressionante, especialmente considerando que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório.

    Apesar das críticas que sugeriam que sua vitória era fácil por se tratar de Nova York, há lições que podem ser aplicadas em outros contextos. A campanha de Mamdani quebrou recordes, contabilizando mais de um milhão de votos, e indiscutivelmente reflete uma abordagem centrada na mobilização, ao invés de uma estratégia defensiva.

    Mamdani rejeitou a ideia de moderar suas posições. Quando sua campanha enfrentou ataques que o acusavam de antissemitismo, ele respondeu gravando um vídeo em árabe, demonstrando sua firmeza em suas crenças e em sua comunicação.

    A vitória de Mamdani sugere que um caminho viável para as forças democráticas, não apenas no Partido Democrata dos Estados Unidos, mas globalmente, é a recuperação da criatividade e do imaginário político. Se há um aprendizado em sua trajetória, é a importância de provocar um engajamento real e emocional das pessoas com a política, buscando sempre trazer à tona as vozes que costumam ser silenciadas.

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