Denúncia de “Turismo de Sniper” Durante a Guerra da Bósnia

    Um jornalista italiano, Ezio Gavazzeni, apresentou 22 páginas de evidências sobre o que ele chama de “turismo de sniper” durante a Guerra da Bósnia. Ele alega que italianos ricos pagavam para atirar em civis, incluindo mulheres e crianças, em Sarajevo na década de 1990.

    As autoridades em Milão estão investigando essas acusações, que descrevem um cenário chocante: cidadãos italianos supostamente se tornaram snipers para o exército sérvio da Bósnia durante o cerco de Sarajevo, que ocorreu de 1992 a 1996.

    O Que Realmente Aconteceu em Sarajevo

    O cerco de Sarajevo foi um dos mais longos da história moderna da Europa, durando quase quatro anos. Durante esse tempo, a cidade e seus habitantes enfrentaram bombardeios constantes, que resultaram em mais de 11 mil mortes. O sofrimento da população foi intenso e, segundo Gavazzeni, parte da elite italiana se divertia à custa disso.

    O promotor de contra-terrorismo Alessandro Gobbis está investigando as alegações de Gavazzeni, que estima que “pelo menos duzentas” pessoas teriam participado desse tipo de atividade, pagando valores que poderiam chegar a R$ 500 mil para participar desses “safáris”.

    A Revelação de Gavazzeni

    Gavazzeni, que já mencionou essas atrocidades em seus escritos há mais de 30 anos, só agora conseguiu reunir evidências mais sólidas. A inspiração veio de um documentário de 2022 chamado “Sarajevo Safari”, que trouxe à tona relatos de cidadãos de vários países, incluindo Itália e EUA, que pagavam para atacar alvos civis.

    No documentário, ex-soldados sérvios negaram com veemência as alegações, afirmando que eram histórias fabricadas. Mas o jornalista decidiu aprofundar sua investigação após assisti-lo, buscando provas e contatos que o levassem a coletar mais informações.

    Os Acusados e a Investigações

    No processo apresentado, Gavazzeni identificou cinco homens que teriam participado dos safáris, acusando-os de “homicídio qualificado por crueldade”. O objetivo agora é encontrar mais indivíduos que possam ter estado envolvidos nessas atividades. As autoridades italianas estão em busca de testemunhas que possam ajudar a esclarecer a situação.

    A alegação de que os “turistas de sniper” se reuniam na cidade italiana de Trieste antes de se deslocarem para Belgrado é uma parte importante da narrativa. Lá, teriam se encontrado com soldados do exército sérvio, sob o comando de Radovan Karadžić, que foi posteriormente condenado por genocídio.

    Os Alvos e o Preço da Vida

    De acordo com Gavazzeni, os participantes desse turismo recebiam uma lista de preços para diferentes alvos. Ele alega que crianças eram os alvos mais caros, seguidas por mulheres e homens, enquanto idosos poderiam ser atingidos sem custos. Essa brutalidade chocante levanta questões sobre a natureza da guerra e a desumanização das vítimas.

    Ceticismo e Esperança de Justiça

    Embora as alegações de Gavazzeni sejam alarmantes, nem todos aceitam essa narrativa sem questionar. Alguns veteranos britânicos que serviram em Sarajevo disseram não haver evidências de turismo de sniper, classificando as acusações como um “mito urbano”. Essa divisão de opiniões reflete a complexidade das verdades históricas e das narrativas de guerra.

    Ainda assim, a advogada Nicola Brigida, que assistiu Gavazzeni na elaboração do processo, acredita que a coleta de evidências pode levar a condenações. As investigações seguem em andamento, e as autoridades italianas planejam interrogar os suspeitos e possíveis testemunhas nas próximas semanas.

    Conclusão

    O tema do turismo de sniper durante a Guerra da Bósnia é uma reflexão perturbadora sobre os limites da moralidade em tempos de conflito. As alegações de Gavazzeni, se comprovadas, não só trariam à tona a crueldade do cerco a Sarajevo, mas também questões mais amplas sobre a identidade e a responsabilidade durante a guerra.

    À medida que a investigação avança, muitos esperam que a verdade venha à luz e que a justiça seja feita. A luta pela memória das vítimas e pela exploração dessa história continua sendo uma parte vital da luta contra a impunidade em conflitos passados e presentes.

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