A Controvérsia da Restauração de Obras de Arte na Espanha
Recentemente, um caso em Valência chamou a atenção por sua polêmica. Um colecionador de arte pagou 1.200 euros a um restaurador de móveis para limpar uma cópia de uma famosa pintura do século 17, intitulada Imaculada Conceição dos Veneráveis. Essa obra é uma criação do artista barroco Bartolomé Esteban Murillo.
O resultado da restauração foi desastroso. A primeira tentativa de recuperação da pintura não teve sucesso, e a segunda só piorou a situação. O retrato original mostrava a Virgem Maria vestida com um manto branco e azul, rodeada por anjos, com uma expressão serena. Após os reparos, no entanto, a imagem da Virgem Maria ficou irreconhecível.
A restauração falhou, e a imagem da Virgem Maria perdeu detalhes fundamentais, como os cachos de cabelo e os contornos do rosto. Em um momento, sua aparência chegou a remeter a uma figura fantasmagórica, semelhante ao que se vê na famosa obra O Grito. Na segunda tentativa, seus traços assumiram uma forma que poderia ser considerada demoníaca, o que gerou grande indignação entre os especialistas em arte.
Especialistas em arte estão pedindo uma reforma urgente das leis de restauração artísticas na Espanha. Fernando Carrera, professor da Escola Galega de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural, destacou que somente restauradores qualificados deveriam realizar esse tipo de trabalho. Ele fez uma comparação clara: “Imagina se qualquer um pudesse operar pessoas ou vender remédios sem uma licença?”, questionou.
Atualmente, a legislação espanhola permite que qualquer pessoa com os utensílios adequados faça a restauração de obras de arte, sem exigir formação específica. Isso representa um risco sério, especialmente em um país com uma rica tradição artística que remonta a vários séculos.
María Borja, vice-presidente da Associação de Restauradores e Conservadores, declarou que o caso da Virgem Maria não é isolado. Muitas vezes, situações semelhantes ocorrem, mas poucos ficam sabendo, já que esses eventos só vêm à tona quando reportados pela mídia ou redes sociais. “Incidentes envolvendo restaurações inadequadas são muito mais comuns do que se imagina”, observou Borja.
Outros exemplos de restaurações fracassadas incluem o famoso incidente com a escultura Figuras de Rañadoiro, que em 2018 foi alterada de forma tão grotesca que parecia um enfeite de Natal. Outro caso notável, o da escultura La Dolorosa de Arucas, ocorreu em junho de 2020, resultando em uma obra igualmente comprometida.
Entre os exemplos mais conhecidos está o caso de uma pintura de Jesus Cristo, danificada em uma pequena capela na Sierra de Moncayo, em 2012. A restauração recebeu ampla atenção primeiro devido ao dano, mas se tornou um símbolo de devoção religiosa. Inicialmente, foi apelidada de “Jesus Macaco” e “Jesus Batata” devido à sua aparência grotesca.
A notoriedade deste último caso, junto com o ocorrido com a Virgem Maria, intensifica o chamado por uma reforma. Especialistas acreditam que essa situação serve como um alerta quanto à importância de proteger o patrimônio artístico.
Concluindo, a restauração de obras de arte é uma tarefa que deve ser levada a sério. É fundamental que profissionais capacitados assumam essa responsabilidade para preservar a história e a estética das obras de arte. Enquanto isso, espera-se que mudanças nas leis em Espanha ajudem a evitar que tais situações desastrosas voltem a ocorrer.
