Alta Rotatividade de Secretários de Saúde em São Paulo Compromete Políticas Públicas

    A gestão da saúde nos municípios de São Paulo enfrenta um desafio significativo: a elevada rotatividade de secretários municipais. Entre janeiro de 2021 e agosto de 2025, foram registradas 535 trocas de gestores em 365 cidades, o que representa 83% dos municípios do estado. Esse panorama tem sido monitorado de perto por entidades responsáveis pela gestão da saúde no estado, que buscam entender as consequências dessa instabilidade.

    Enquanto a troca de secretários no início de mandatos é uma prática comum, o número de substituições observadas nos últimos anos ultrapassa o que seria considerado normal em ciclos políticos. Essa frequência elevada levanta preocupações sobre os impactos na administração da saúde, especialmente na continuidade das políticas públicas e na qualidade dos serviços oferecidos.

    Análise de Trocas ao Longo dos Anos

    A análise das trocas de secretários nos últimos anos mostra um comportamento instável:

    • 2021: 166 trocas em 132 municípios, típicas de início de gestão.
    • 2022: 149 trocas em 226 municípios, indicando uma instabilidade que persistiu mesmo após a fase inicial.
    • 2023: 95 trocas em 75 municípios, sinalizando uma redução e possível estabilização.
    • 2024: 234 trocas em 177 municípios, um aumento alarmante de 146% em relação ao ano anterior, evidenciando um pico de instabilidade.
    • Parte de 2025 (fev–ago): 128 trocas em 101 municípios, mostrando que a rotatividade continua relevante mesmo após a transição de mandatos.

    Impacto da Rotatividade

    A alta rotatividade de secretários de saúde compromete a continuidade administrativa e dificulta o planejamento e a execução de ações de saúde. Esses problemas incluem:

    • Dificuldade no planejamento e execução de ações a médio e longo prazo.
    • Instabilidade nas equipes técnicas.
    • Desafios na implementação das políticas de saúde em nível nacional e estadual.
    • Dificuldades na articulação regional entre os municípios.
    • Comprometimento do monitoramento e análise de indicadores de saúde.

    Embora muitos municípios tenham registrado apenas uma troca de secretário, um número significativo enfrentou múltiplas trocas. Por exemplo, 123 municípios tiveram duas trocas, enquanto 35 passaram por três substituições. Em casos extremos, houve cidades com até oito mudanças de gestores.

    Cobertura Regional e Desafios

    As 62 regiões de saúde do estado sofreram com essa rotatividade, com algumas alcançando até 97% de cobertura em anos específicos. Regiões maiores e mais diversificadas politicamente costumam ter índices de substituições mais altos. Isso mostra que a complexidade na coordenação entre um número maior de municípios aumenta a probabilidade de mudanças frequentes.

    Essa dinâmica afeta a governança regional, dificultando a formulação de estratégias conjuntas fundamentais nas áreas de regulação, comunidades de atenção e serviços especializados.

    Ação do COSEMS/SP

    Diante desse cenário, as entidades responsáveis pela saúde em São Paulo estão trabalhando para apoiar novos secretários com suporte técnico e capacitação. O objetivo é fortalecer a governança municipal do Sistema Único de Saúde (SUS) e garantir que os gestores tenham as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios da saúde em suas cidades.

    Esse apoio é especialmente importante durante as transições administrativas, quando os novos secretários precisam se familiarizar rapidamente com as demandas locais e as responsabilidades do SUS. A capacidade de construir uma gestão mais estável, com foco na formação e valorização das equipes, é crucial para garantir que as políticas de saúde se tornem mais duradouras e eficazes para atender às necessidades da população.

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