Roteirista Elisio Lopes Jr. Fala Sobre Representatividade e Narrativas Negras na Televisão
Elisio Lopes Jr., reconhecido como o primeiro roteirista negro a assinar uma novela na TV Globo, levanta uma importante questão: “Nenhuma pessoa preta sai de casa com o objetivo de ser discriminada. Por que os personagens precisam ficar a serviço dessa narrativa?”. No mês da Consciência Negra, essa reflexão se conecta com a proposta de Lopes, que busca sempre colocar pessoas negras no centro das histórias que conta, sem que o racismo seja o tema central. “A humanidade existe para quem tem história, desejos e é desejado”, destaca.
Sua estreia como autor titular foi na novela “Amor Perfeito” (2023), onde trabalhou com Duca Rachid e Júlio Fischer. Ambientada na década de 1930, a trama trouxe personagens negros da alta sociedade, desafiando estereótipos. Em sua próxima novela, “A Nobreza do Amor”, prevista para março de 2026, Lopes promete mais representatividade. A história traça um romance entre o continente africano e o Nordeste do Brasil, tendo Duda Santos como protagonista e Lázaro Ramos como vilão. “Quero que o Brasil se orgulhe da sua história”, comentou o autor, que vê esta nova novela como um passo importante para a cura de feridas sociais.
No processo criativo, Elisio diz que não há uma fórmula exata. “Vem do incômodo, da admiração por alguém ou das surpresas da vida. A vida real sempre será mais fascinante do que qualquer ficção”, afirma. Esta busca por sentido está presente em todos os seus projetos, incluindo o musical “Torto Arado”, uma adaptação do livro de Itamar Vieira Junior, e a série “Reencarne”, lançada em outubro no Globoplay. Em “Reencarne”, a atriz Taís Araujo vive uma protagonista preta em uma trama de terror, gênero que oferece novas oportunidades criativas. Lopes explica que durante a pandemia, a história o levou a explorar temas como a vida e a morte.
O roteirista também está trabalhando em um longa-metragem intitulado “Quando Casa Maria Helena?”, que está sendo produzido nos Estúdios Globo, com Cacau Protásio no papel principal. Ele possui vasta experiência na dramaturgia, com mais de 30 peças teatrais e participações em filmes e programas de TV. Para ele, o que sempre o motiva é a conexão com o público: “Vemos e sentimos o que impacta as vidas das pessoas”.
Lopes também destaca a importância da representatividade nos bastidores da produção audiovisual. Ele acredita que essa inclusão é um avanço significativo, embora lento. “A presença negra na criação de projetos é essencial”, ressalta, lembrando que levará tempo até que todos tenham seu espaço garantido.
Ele enfatiza que a arte e a educação são ferramentas poderosas para mudar o imaginário coletivo, defendendo que é necessário questionar antigas referências e se adaptar ao novo contexto mundial. “Não podemos cultivar os conceitos antigos sem uma nova compreensão”, afirma.
Como pai de três meninas, Elisio também reflete sobre como a paternidade influenciou sua visão. “Sinto medo pelo futuro delas. Ensinamos o que é justo, mas o mundo muitas vezes não é”, diz. Apesar disso, ele permanece esperançoso sobre o legado que quer deixar: “Desejo passar os próximos 40 anos contando histórias que promovam bem-estar e identidade para este país. Não é sobre ser genial, mas sobre ter intenção”.
