Corrida e Tecnologia: A Revolução dos Smartwatches
A expectativa é palpável. Sou um dos competidores em uma corrida comunitária de 5 km, realizada em um sábado pela manhã. À medida que nos preparamos para a largada, notei a agitação dos corredores próximos a mim. A preparação não se limita apenas ao aquecimento; muitos estão ajustando seus smartwatches.
Com a contagem regressiva iniciando: três, dois, um… Ah, preciso garantir que meu relógio Garmin esteja configurado. Ao meu lado, outro corredor faz o mesmo. Há um murmúrio de ansiedade, e em meio à confusão da largada, ficou claro que o uso de smartwatches se tornou comum entre os participantes. Não somos apenas nós, corredores; essa tendência se espalhou por todos os lugares.
Os smartwatches se transformaram em uma indústria bilionária, com marcas como Apple, Samsung, Garmin, Huawei e Fitbit oferecendo várias opções que atendem a diferentes estilos de vida. Dependendo do modelo, os preços variam de centenas a milhares de reais.
Os relatos de usuários revelam a relação mista que muitos têm com esses dispositivos: “Isso me deixa louco, não consigo desconectar” e “É como um amigo que me apoia” são algumas das opiniões coletadas. Porém, também há quem sinta que o relógio é mais uma fonte de estresse, lembrando que dormiu mal ou que está fora de seu ritmo.
Atualmente, esses dispositivos vão muito além de apenas contar passos. Eles podem monitorar sono, pressão arterial, frequência cardíaca, oxigenação do sangue, níveis de glicose e muito mais. A dúvida que surge é se esses dados realmente ajudam na saúde e bem-estar ou se apenas aumentam a ansiedade diária.
Um exemplo é o depoimento de Rachael Fairclough, que descobriu que seu Apple Watch não era muito útil durante a gravidez, já que sempre alertava sobre sua produtividade. Agora, com um bebê de seis meses, ela se irrita ao receber notificações sobre a qualidade do seu sono. Ela reconhece que poderia simplesmente parar de usar o relógio, mas admite ter uma relação de amor e ódio com ele.
Os smartwatches possuem sensores que monitoram sinais vitais, como frequência cardíaca, através de luzes LED que analisam o fluxo sanguíneo. Modelos mais avançados até realizam eletrocardiogramas, alertando usuários sobre eventuais irregularidades cardíacas. No entanto, a interpretação dos dados pode ser desafiadora.
Niels Peek, professor de Ciência de Dados, aponta que embora essa tecnologia possa salvar vidas, ela também pode gerar preocupação excessiva sobre a saúde. E estudos indicam que o uso frequente de smartwatches por pessoas com doenças cardiovasculares pode aumentar a ansiedade, levando-as a verificar os dados repetidamente.
Por outro lado, alguns usuários conseguem manter uma abordagem mais equilibrada. O veterinário Mark Morton, por exemplo, percebeu como as melhorias em seu sono, proporcionadas pelos dados do seu rastreador de atividades, impactaram positivamente sua vida.
De volta à minha corrida, sinto que aumentei o ritmo. Consulto meu relógio várias vezes, mas me pergunto sobre a precisão dos dados. Kelly Bowden-Davies, professora de Ciências do Esporte, explica que, embora os smartwatches não ofereçam medições tão precisas quanto um laboratório, eles podem servir como uma referência pessoal para acompanhar o progresso ao longo do tempo.
Após cruzar a linha de chegada, olho para meu smartwatch que registrou um tempo de 22 minutos e 28 segundos. Não é meu melhor, mas estou satisfeito. Agora, é hora de analisar meus dados. Esses dispositivos se tornaram companheiros importantes na busca por um estilo de vida saudável, oferecendo informações que, mesmo que não sejam perfeitas, contribuem para nossa jornada.
