Um dos grandes pensadores da história, o norte-americano James Baldwin, afirmou que ser negro e consciente implica viver constantemente com raiva. Essa frase destaca como a saúde mental de pessoas não brancas é colocada à prova diariamente, devido ao racismo que se manifesta em diversas situações cotidianas. A discriminação pode aparecer, por exemplo, em um supermercado, onde segurança pode seguir uma pessoa negra sem motivo aparente, ou em relações pessoais, onde frequentemente são vistas como “outros”.

    Mas os efeitos do racismo vão além do psicológico. Estudos indicam que a pressão constante do preconceito torna as pessoas negras mais vulneráveis a problemas de saúde graves, como Acidente Vascular Cerebral (AVC). No Brasil, o AVC é uma das principais causas de internação e o estresse gerado pelo racismo pode levar a invalidez permanente ou até mesmo ao falecimento.

    A situação é ainda mais alarmante em um país onde um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. Esse genocídio, muitas vezes resultante de ações do próprio Estado e perfeitamente evitável, causa um impacto significativo no sistema de saúde pública. Com a morte de pessoas negras, os recursos financeiros e humanos destinados ao setor são drenados, afastando investimentos que poderiam melhorar a saúde da população negra.

    Infelizmente, muitos profissionais de saúde desconhecem ou ignoram políticas importantes, como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada em 2009. Essa política é crucial, especialmente considerando que mulheres negras enfrentam taxas mais altas de mortalidade materna e são mais propensas a condições como eclampsia, doença falciforme e câncer de colo do útero. Além disso, a população negra registra elevados índices de diabetes e hipertensão, e homens negros têm os maiores diagnósticos de câncer de próstata.

    Se a raça é um fator que influencia o surgimento de várias doenças, é essencial que a abordagem na saúde leve essa realidade em consideração. O racismo não pode ser tratado como um detalhe; ele deve estar no cerne de qualquer política pública de saúde. É crucial que os profissionais de saúde adotem práticas que reconheçam e abordem as particularidades de saúde da população negra, integrando essa compreensão no atendimento diário.

    As questões raciais precisam ser parte da rotina dos serviços de saúde. Considerando que o país tem uma maioria negra e indígena, não faz sentido que o tratamento de todos os pacientes seja baseado unicamente em dados referentes a brancos. Essa perspectiva não apenas é inadequada, mas pode ter consequências fatais.

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