As praças, parques e orlas se tornam essenciais na rotina dos capixabas durante o verão, especialmente nas férias. Esses espaços não são apenas opções de lazer, mas também desempenham um papel importante para a saúde física, emocional e social da população. Especialistas, como psicólogos e urbanistas, destacam a importância desses ambientes, especialmente diante do aumento de transtornos mentais entre crianças e adolescentes.

    Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que a ansiedade afeta cada vez mais jovens. Em 2023, a taxa de ansiedade entre crianças de 10 a 14 anos atingiu 125,8 casos por 100 mil habitantes, enquanto na faixa de 15 a 19 anos, esse número subiu para 157, superando pela primeira vez os índices entre adultos, que é de 112 por 100 mil. Esse aumento acontece em um contexto de crescente uso de tecnologia, com 131,5 milhões de usuários de redes sociais no país.

    Os especialistas apontam que os ambientes ao ar livre servem como uma alternativa saudável ao tempo passivo diante das telas, promovendo movimento, conexão com a comunidade e uma sensação de liberdade que não pode ser encontrada em ambientes fechados ou digitais.

    ### Desenvolvimento infantil além das telas

    A psicóloga Kamila Vilela argumenta que o contato com praças e parques é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Ela afirma que “crianças precisam habitar esses espaços, sentir diferentes texturas, interagir com outras pessoas e desenvolver suas habilidades motoras.” Passar tempo em ambientes controlados, como escolas e casas, pode limitar a autonomia das crianças e prejudicar seu crescimento emocional e motor.

    Kamila também enfatiza que esses espaços oferecem oportunidades para as crianças aprenderem a negociar e lidar com frustrações, experiências essenciais para a vida. Com o aumento da ansiedade e da depressão entre jovens, ela observa que a presença em ambientes públicos pode ajudar a desacelerar e promover conexões sociais, permitindo que as crianças utilize sua criatividade e explore o mundo sem o estímulo constante das telas.

    ### Saúde mental coletiva

    O impacto das praças e parques não se resume apenas às crianças. Para adultos, esses ambientes funcionam como uma pausa revigorante na rotina. Kamila destaca que, em uma sociedade que valoriza a produtividade e o cansaço, estar em um espaço aberto como um parque permite uma descontração necessária.

    Ela alerta também para o aumento do isolamento social, especialmente entre adolescentes, um problema que se tornou mais evidente após a pandemia. Os jovens têm dificuldade em interagir em ambientes reais, o que pode acarretar problemas de saúde mental.

    ### Áreas verdes e bem-estar

    Organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecem praças e parques como “equipamentos de saúde”, que podem trazer benefícios como a redução do sedentarismo, melhora da saúde cardiovascular e fortalecimento da saúde mental. O professor André Lima, coordenador de Arquitetura e Urbanismo, explica que o acesso a áreas verdes pode reduzir gastos com saúde pública, uma vez que promovem bem-estar e atividades físicas.

    No entanto, Lima aponta que apenas 6,9% das cidades no país dispõe de áreas verdes, e a distribuição dessas áreas é desigual. Muitas vezes, esses espaços são desenvolvidos em regiões mais ricas, deixando de lado as periferias. Ele reforça a importância de investir em áreas de lazer em locais carentes, para que toda a população possa se beneficiar.

    ### Encontro e criação de laços

    A experiência de Nayara Souza, mãe de um garoto pequeno, ilustra como esses espaços ajudam na formação de comunidade. Ela mudou sua rotina para incluir visitas diárias a praças, onde seu filho interage com outras crianças. Graças a essas saídas, Nayara também criou uma rede de apoio entre as mães do bairro, onde elas compartilham experiências e se ajudam mutuamente.

    ### Saúde coletiva e desenvolvimento

    O crescente número de transtornos mentais reforça a importância de priorizar a criação e manutenção de espaços públicos. A ansiedade entre adolescentes já ultrapassou a de adultos, e a depressão entre jovens aumentou significativamente. Considerando que o país é um dos líderes em uso de redes sociais, que estão associados a problemas de autoestima, é urgente promover áreas de lazer que favoreçam o bem-estar coletivo.

    ### Caminho para cidades mais acolhedoras

    Especialistas afirmam que usar espaços públicos é uma maneira de torná-los mais seguros e acolhedores. Quando crianças e famílias se apropriam de praças, elas constroem laços e um senso de pertencimento, transformando suas cidades.

    Como conclui a psicóloga Kamila Vilela, ao se sentir parte do espaço, a população se torna mais engajada em cuidar e preservar sua cidade.

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