A Enel, distribuidora de energia em São Paulo, apresentou o pior desempenho entre as empresas do setor no restabelecimento de eletricidade após eventos climáticos severos. Os dados, coletados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), mostram a dificuldade da companhia em prestar serviços eficientes em situações adversas.

    Após um ciclone extratropical que atingiu a região, até as 11h da última sexta-feira, mais de 667 mil consumidores estavam sem energia, equivalente a 7,85% da base de clientes da Enel. As áreas mais afetadas foram Juquitiba, Embu, Cotia e a cidade de São Paulo. Em contraste, a Energisa Sul-Sudeste, que ficou em segundo lugar no ranking de interrupções, teve apenas 8.953 clientes sem energia, representando 1,01% de sua base.

    Outras distribuidoras, como a Neoenergia Elektro e a CPFL, também enfrentaram problemas, mas em menor escala. A Neoenergia registrou 13 mil clientes sem luz, enquanto a CPFL contabilizou 3.678 afetados, com dificuldades concentradas em regiões específicas.

    A Enel justificou seu desempenho citando as características da área de concessão, que possui uma densidade de clientes por quilômetro de rede 20 vezes maior do que a média nacional. Esse argumento, porém, foi questionado por especialistas, que apontam que uma maior concentração de clientes pode, na verdade, facilitar um restabelecimento mais ágil dos serviços.

    Dados de ocorrências anteriores indicam uma tendência preocupante para a Enel. Em um evento de setembro, quando ventos fortes também causaram interrupções, apenas 31% das unidades afetadas foram religadas até o final do dia. Comparativamente, a Elektro e a CPFL conseguiram recuperar 45% e 55% de suas linhas, respectivamente.

    Recentemente, a Aneel enviou um ofício à Enel pedindo explicações sobre os problemas de fornecimento, alertando sobre a possibilidade de perder a concessão se a situação não melhorar. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sugeriu uma intervenção federal na empresa, enquanto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, criticou essa proposta, indicando que a questão está sendo politizada.

    A Enel já enfrenta um processo de fiscalização pela Aneel, que poderá resultar na perda de seu contrato. Em resposta a esse cenário, a empresa apresentou um plano de recuperação que será avaliado pela agência reguladora. Essa análise comparará desempenhos anteriores e durante períodos de chuvas até 2026.

    A legislação sobre concessões permite que o poder público intervenha para garantir o cumprimento das normas, embora especialistas alertem que esse processo pode ser complexo e arriscado. A intervenção seria coordenada pela Aneel, que elaboraria um plano para o gerenciamento do serviço.

    Além dos desafios enfrentados, a Enel também se beneficia de uma situação favorável em um processo que poderá permitir a renovação antecipada de suas concessões, que têm término previsto entre 2025 e 2031. A validade da renovação, no entanto, foi suspensa pela Justiça até que a análise sobre a caducidade do contrato seja concluída.

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