Nos últimos anos, a medicina tem avançado em direção a inovações que parecem saídas de um filme de ficção científica. Desde órgãos de animais sendo adaptados para transplantes em humanos até o uso de inteligência artificial (IA) em pesquisas, essas novidades podem fazer a diferença na vida de muitas pessoas.
De acordo com o biólogo Helder Nakaya, que é pesquisador sênior no Hospital Israelita Albert Einstein e professor na Universidade de São Paulo (USP), a área da saúde está sendo profundamente impactada pela IA. Nakaya destaca que a cada semana surgem novas descobertas e inovações rápidas nesse campo.
A IA tem se mostrado especialmente útil na realização de diagnósticos médicos. No entanto, Nakaya ressalta que o toque humano ainda é essencial no processo, pois o diagnóstico envolve muitos aspectos além de dados. “Enquanto a IA se torna mais competente na integração de informações de diferentes fontes, a interação humana e as nuances do contexto médico continuam sendo fundamentais”, explica.
A seguir, conheça quatro inovações promissoras que estão sendo pesquisadas e que podem transformar a saúde.
1. Xenotransplante de rim de porco
Com a crescente demanda por transplantes de órgãos, a ciência está testando alternativas para atender a necessidade de pessoas que aguardam por doações. Atualmente, das 47 mil pessoas na fila por um transplante no Brasil, 44 mil precisam de um rim, conforme dados do Sistema Nacional de Transplantes.
Para enfrentar essa situação, pesquisadores estão realizando ensaios clínicos utilizando órgãos de porcos geneticamente modificados. Esses órgãos apresentam menor risco de rejeição, oferecendo uma solução temporária para pacientes com falência renal.
Recentemente, um estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine mostrou avanços nessa área. Os pesquisadores conseguiram melhorar técnicas de edição de DNA, facilitando a integração do rim transplantado ao corpo do receptor. Nakaya explica que as novas ferramentas de edição genética e o conhecimento das causas da rejeição ajudaram a entender quais genes podem ser alterados nos porcos para que o transplante seja mais eficaz.
2. IA que cria remédios
Outro avanço significativo foi apresentado em julho na revista Nature Medicine. Um sistema de inteligência artificial foi capaz de identificar uma nova proteína como alvo para combater a fibrose pulmonar idiopática e, em seguida, desenhar uma molécula capaz de inibi-la.
Esse estudo se destacou por duas razões: a escolha da proteína, que não havia sido considerada antes, e a capacidade da IA em projetar um medicamento para combatê-la. O experimento envolveu 71 participantes ao longo de 30 meses e teve resultados positivos. Embora a IA tenha liderado o processo de criação, a pesquisa foi supervisionada por especialistas, garantindo a responsabilidade e a segurança no desenvolvimento do novo tratamento.
3. Prognóstico tecnológico
Outra inovação relevante é um modelo de IA que prevê a progressão de doenças com base em grandes bancos de dados. Apresentado em setembro na Nature Medicine, essa tecnologia se baseia em uma lógica semelhante a ferramentas como o ChatGPT, mas, em vez de palavras, foca em eventos de saúde.
O sistema utiliza registros de diagnósticos e internações como “tokens” para aprender sobre a sequência de eventos na vida dos pacientes. Essa abordagem permite estimar quais doenças podem surgir no futuro, ajudando médicos a planejar atendimentos e estratégias de prevenção com base em dados populacionais.
4. Análise de sinais cerebrais
Por fim, um estudo recente que foi publicado na Science Advances explora a análise de sinais cerebrais para descrever pensamentos. Pesquisadores mapearam regiões do cérebro que se ativam quando os voluntários pensam em objetos específicos, permitindo prever conteúdos imaginados.
Nakaya esclarece que a pesquisa não tem como objetivo acessar pensamentos íntimos, mas sim reconhecer padrões de resposta do cérebro a estímulos já conhecidos. Assim, este avanço se assemelha mais a uma tradução de sinais cerebrais do que à leitura da mente.
Essas quatro inovações representam o potencial transformador da ciência e da tecnologia na área da saúde, com a promessa de melhorar tratamentos e diagnósticos, além de oferecer novas esperanças para os pacientes.
