O início do ano trouxe preocupações para a luta contra as mudanças climáticas, especialmente após a volta do ex-presidente Donald Trump ao poder. Em sua campanha, Trump desqualificou o aquecimento global como “a maior farsa” da história, deixando muitos temendo que sua postura pudesse influenciar outros países. Com o maior emissor de gases de efeito estufa recuando nas iniciativas de transição energética, havia receio de um retrocesso global no combate à crise climática.
Em várias partes do mundo, populações sentem os efeitos do aumento das temperaturas. No Brasil, o agronegócio, vital para a economia, não pode ignorar as questões climáticas. O especialista em Sustentabilidade Gustavo Loiola, que leciona em instituições como FGV e PUC-PR, destaca que os produtores rurais são os primeiros a sofrer com a irregularidade das chuvas e as mudanças climáticas, que impactam diretamente a produção agrícola. Além disso, ele alerta que o setor financeiro deve estar atento a esses riscos, já que a concessão de crédito se torna mais arriscada em um cenário de instabilidade climática.
A China, em contrapartida, tem se beneficiado do recuo dos Estados Unidos na transição energética e expandido suas iniciativas nesse sentido. O custo de tecnologias renováveis, como painéis solares e baterias, caiu significativamente, resultando em uma marca histórica: em 2025, a geração de eletricidade de fontes renováveis, pela primeira vez, superou a dos combustíveis fósseis. A Agência Internacional de Energia estima que em 2026 as energias renováveis terão um crescimento ainda maior, com mais de 750 gigawatts de capacidade adicionada, principalmente através da energia solar.
Contudo, o aumento da demanda por energia deve se acelerar ainda mais nos próximos anos, especialmente com os avanços em tecnologia e inteligência artificial, que já são responsáveis por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa. Especialistas afirmam que as empresas enfrentam um desafio considerável para atingir a neutralidade de carbono, especialmente com o crescente consumo de energia relacionado ao uso de IA.
No contexto da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas realizada no Brasil, vozes de comunidades vulneráveis foram ouvidas. Em países em desenvolvimento, a disputa por minerais essenciais para a eletrificação, como lítio e cobalto, suscita preocupações. Elaine da Silva Barros, integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, argumenta que a transição energética não favorece a realidade local: “O Brasil já possui uma matriz energética de renováveis”, afirma, criticando a pressão para mudar essa estrutura em benefício de países desenvolvidos.
Benedito de Souza Ribeiro, um pescador de 62 anos, expressa sua preocupação com a degradação ambiental em sua região, agravada por projetos de mineração que ameaçam sua fonte de sustento e poluem os rios. Suas palavras refletem a realidade de muitos que dependem dos recursos naturais para viver.
A COP30 enfatizou que a transição energética deve ser justa, garantindo que os trabalhadores de setores que serão deixados de lado tenham novas oportunidades de emprego e que as riquezas geradas pela economia de baixo carbono sejam distribuídas de maneira equitativa. Um dos resultados concretos do evento foi a aprovação de um programa de transição justa, algo que não havia sido alcançado em conferências anteriores.
Internamente, o Brasil enfrenta um grande desafio com o desmatamento, responsável por 80% das emissões nacionais. Porém, o país conseguiu reduzir a devastação na Amazônia e no Cerrado em 11% entre agosto de 2024 e julho de 2025, alcançando um dos níveis mais baixos desde 1988. Especialistas destacam que isso contribuiu para a estabilização das emissões globais em 2025.
Apesar dos avanços, questões políticas internas podem ameaçar esse progresso. Legislações que flexibilizam o licenciamento ambiental podem facilitar o desmatamento, colocando em risco os ganhos recentes. Análises da ONU indicam que, embora o mundo esteja avançando no combate às mudanças climáticas, é necessário acelerar esse progresso, especialmente com a próxima década se mostrando crucial para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C até o fim do século.
