Pessoas que ficam sentadas ou sedentárias por mais de 14 horas por dia podem ter um risco maior de problemas cardíacos ou até morte no ano seguinte a um tratamento hospitalar por sintomas de infarto, como dor no peito. Essa descoberta é de uma pesquisa recente publicada por pesquisadores da American Heart Association.
Estudos anteriores indicaram que pessoas que já tiveram infarto estão sedentárias de 12 a 13 horas diariamente, sendo essa condição definida como qualquer atividade acordada que envolve pouco ou nenhum movimento. Neste novo estudo, os pesquisadores usaram um acelerômetro de pulso para acompanhar o tempo que cada participante passou se movendo ou parado por cerca de 30 dias após a alta médica.
Os acelerômetros de pulso medem a aceleração do movimento em três direções: para frente e para trás, de lado a lado, e para cima e para baixo. Essas medições ajudaram os pesquisadores a inferir a intensidade da atividade física dos participantes, oferecendo dados mais precisos em comparação com perguntar aos participantes quanto tempo passaram se movendo. Atividades de intensidade moderada incluem caminhada rápida, hidroginástica, dança, jogar tênis em duplas ou cuidar de plantas. Atividades de alta intensidade são correr, nadar, fazer trabalho pesado no quintal, jogar tênis sozinho ou pular corda.
Keith Diaz, o autor principal do estudo e professor de Medicina Comportamental, destacou que as diretrizes atuais de tratamento após eventos cardíacos focam principalmente em incentivar a prática regular de exercícios. Ele e a equipe se questionaram se o tempo sedentário, por si só, poderia aumentar os riscos cardiovasculares.
Os pesquisadores monitoraram mais de 600 adultos, com idades entre 21 e 96 anos, que foram tratados por infarto ou dor no peito em um hospital de Nova York. Durante os 30 dias após a alta, os participantes usaram o acelerômetro para checar quanto tempo passaram sentados ou sem atividades. Um ano após a alta, eventos cardíacos e mortes foram avaliados por meio de entrevistas telefônicas e registros de saúde eletrônicos. O estudo tinha como objetivo entender o risco associado ao comportamento sedentário e identificar fatores que podem ser mudados para melhorar a saúde a longo prazo desse grupo vulnerável.
Os resultados mostraram que quem se exercitava menos tinha 2.58 vezes mais chances de sofrer outro problema cardíaco ou morrer no ano seguinte, se comparado aos mais ativos. Trocar 30 minutos de sedentarismo por 30 minutos de atividade moderada ou intensa diariamente diminuiu o risco de eventos cardíacos ou morte em 61%. Já substituir o tempo parado por atividades leves reduziu o risco em 50%, e trocar por mais 30 minutos de sono diminuiu o risco em 14%.
Os dados dos acelerômetros indicam que o grupo mais ativo teve uma média diária de 143,8 minutos de atividade leve, 25 minutos de atividades moderadas a intensas, 11,7 horas sedentárias e 8,4 horas dormindo. Já os menos ativos ficaram em média 15,6 horas sem se mover e apenas 2,7 minutos em atividades moderadas ou intensas.
Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que trocar sedentarismo por sono também ajudou. O sono é importante para restaurar o corpo e a mente, especialmente após uma situação de saúde grave como um infarto. A pesquisa sugere que não é necessário correr maratonas para ver benefícios. Simplesmente se mover mais ou dormir um pouco mais pode fazer diferença. A mensagem é que mais atividade física e sono são melhores do que ficar sentado.
A atividade física e o sono são partes fundamentais dos “Oito Essenciais da Vida” da American Heart Association, que lista comportamentos saudáveis para um bom coração. Dormir mal é um fator de risco conhecido para doenças cardíacas, que matam mais gente nos EUA do que todos os tipos de câncer juntos e doenças respiratórias crônicas, segundo dados recentes da associação. Além da duração do sono, destaca-se a continuidade, horário, satisfação, regularidade e a estrutura do sono para a saúde cardiovascular.
O estudo teve algumas limitações. Por exemplo, a definição de comportamento sedentário considerou apenas a intensidade do movimento, o que pode ter superestimado o tempo em que os participantes estavam parados. Não se teve informações sobre renda e características dos bairros onde esses indivíduos vivem, o que limita a análise de fatores sociais que poderiam influenciar eventos cardíacos e mortalidade. Além disso, dados sobre como os pacientes foram tratados após a alta não foram coletados, dificultando entender se o local de recuperação impactou na melhora dos participantes.
Esses resultados reforçam a estratégia “sente-se menos, mova-se mais”. Para aqueles que foram hospitalizados recentemente, aumentar a atividade leve em 30 minutos por dia pode reduzir significativamente os riscos de eventos cardíacos no ano seguinte. Substituir o sedentarismo por tarefas simples, como arrumar a casa ou dar uma leve caminhada, se mostrou quase tão benéfico quanto exercícios mais intensos. Trocar apenas 30 minutos de tempo sedentário por qualquer atividade física diminui pela metade o risco de eventos cardíacos no ano seguinte.
O estudo envolveu 609 adultos tratados em um hospital pela dor no peito e suspeita de infarto entre setembro de 2016 e março de 2020. Ao deixar o hospital, os participantes receberam um acelerômetro para monitorar seus hábitos de sedentarismo e atividade física. Após a alta, eles passaram por entrevistas telefônicas um mês e um ano depois.
Os participantes foram instruídos a usar o acelerômetro por 30 dias consecutivos, e a maioria fez isso. Todos que usaram o dispositivo por pelo menos 4 dias foram incluídos na análise. A média de dias que os participantes usaram os acelerômetros foi de 30 dias. Os dispositivos tinham uma bateria que durava cerca de 45 dias, então não precisaram ser retirados para recarga.
A idade média dos participantes foi de 62 anos, sendo que 48% eram mulheres e 52%, homens. Aproximadamente 58% se identificaram como hispânicos, 22,8% como negros não hispânicos, 11% como brancos não hispânicos e 8,2% como pertencentes a outras raças ou etnias. No primeiro ano após a alta, 8,2% dos pacientes enfrentaram um evento cardíaco ou faleceram.
Esse estudo representa um avanço importante na compreensão do impacto do sedentarismo e da atividade física na saúde do coração, especialmente para pessoas que sofreram complicações cardíacas. A troca de hábitos simples pode levar a grandes melhorias na saúde a longo prazo.
