A história do rock é repleta de talentos incríveis e vidas complicadas, mas poucos artistas refletem isso tão bem quanto Peter Green. Recentemente, ele foi nomeado o artista de rock mais “torturado” de todos os tempos pela BBC Music Magazine.

    Essa classificação vem de uma lista divulgada pela BBC Music, que analisou artistas cuja genialidade foi ofuscada por dificuldades pessoais, problemas de saúde mental, dependência ou solidão. No topo dessa lista está Green, que fundou e liderou o Fleetwood Mac. Seu curto, mas brilhante período criativo no final da década de 1960, mudou para sempre o som da guitarra blues e rock.

    Peter Green criou o Fleetwood Mac em 1967, após uma fase marcada no John Mayall’s Bluesbreakers, onde substituiu o guitarrista Eric Clapton. Em seguida, ele passou por um período de criatividade intensa. Como líder da banda, compositor e guitarrista, Green escreveu clássicos duradouros como “Albatross,” “Black Magic Woman,” “Oh Well,” “Man of the World,” e “The Green Manalishi (With the Two Prong Crown).” No Reino Unido, “Albatross” alcançou o primeiro lugar. Já “Black Magic Woman” virou um sucesso mundial quando foi regravada por Santana em 1970.

    Musicalmente, Green era muito respeitado por sua contenção. Ao invés de priorizar velocidade ou efeitos, ele optou por espaço, sustentação e emoção. Sua guitarra em instrumentais como “The Supernatural” mostrava um vibrato marcante e um tom denso que influenciou gerações de guitarristas. O famoso guitarrista B.B. King, por exemplo, afirmou: “Ele tem o tom mais doce que já ouvi; foi o único que me deu calafrios.”

    Rich Robinson, da banda Black Crowes, também elogiou Green: “Seu toque é altamente emocionante. Ouça o que ele faz em “Oh Well” e “Rattlesnake Shake,” é fantástico. Ele não toca demais. Green entende que a simplicidade pode ser a chave para o blues.”

    Entretanto, a genialidade de Green foi acompanhada por lutas pessoais profundas. No final dos anos 60, o uso excessivo de LSD começou a desencadear problemas sérios de saúde mental, como paranoia e esquizofrenia. Seu comportamento se tornou imprevisível, provocando tensões no Fleetwood Mac, o que levou à sua saída da banda em 1970, justo quando eles estavam se tornando estrelas globais.

    Nos anos seguintes, Green oscilou na indústria da música. Ele gravou de forma esporádica, passou um tempo em hospitais psiquiátricos e viveu longos períodos de anonimato.

    A biografia do Fleetwood Mac informa que “Green foi internado no passado devido a problemas psicológicos e passou por eletroconvulsoterapia em meados dos anos 70. Em 1977, foi preso por ameaçar seu contador, Clifford Davis, com uma arma. Após esse incidente, ele foi enviado para um hospital psiquiátrico em Londres.” Isso aconteceu antes do seu retorno como artista gravador com a PVK Records no final dos anos 70 e início dos anos 80. Em 1984, ele sofreu uma recaída e viveu uma vida isolada por seis anos, até ser resgatado pelo irmão Len e pela esposa, indo morar com eles em Great Yarmouth, recuperando um pouco de saúde e força.

    Apesar de mais tarde voltar a se apresentar com o Peter Green Splinter Group nos anos 90 e outros projetos, ele nunca conseguiu recuperar o ímpeto criativo de sua carreira inicial.

    Apesar disso, o legado de Green só cresceu. Ele foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame com o Fleetwood Mac em 1998 e sempre ocupa posições de destaque entre os maiores guitarristas da história. A revista Mojo o elegeu como o terceiro melhor guitarrista de todos os tempos, enquanto a Rolling Stone o colocou entre os 100 melhores guitarristas. Sua famosa guitarra Gibson Les Paul de 1959, chamada “Greeny,” se tornou um dos instrumentos mais lendários da história do rock.

    Peter Green faleceu em 2020, aos 73 anos, mas sua influência continua muito viva. É possível perceber seu impacto na forma como muitos guitarristas de blues modernos tocam, nas composições do rock clássico e no poder sutil de músicos que privilegiam o sentimento ao invés da exibição. A classificação da BBC Music destaca que sua história não é apenas uma de tragédia, mas de uma arte extraordinária cuja profundidade emocional ainda ressoa após o brilho dos holofotes ter diminuído.

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