Saúde Mental de Mães: A Importância do Reconhecimento da Psicose Pós-Parto

    A saúde mental das mulheres pode ser fortemente impactada durante e após a gravidez. Para entender melhor as doenças psiquiátricas que podem surgir nessa fase, pesquisadores de diferentes países se reuniram para discutir o tema. Um grupo de especialistas defende que a psicose pós-parto deve ser reclassificada como uma categoria própria de doença mental, o que ajudaria a garantir diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais adequados, contribuindo para a segurança de mães e bebês.

    A psicose pós-parto é uma condição psiquiátrica séria que afeta 2,6 a cada mil mulheres que dão à luz. Os sintomas incluem episódios de mania, depressão com características psicóticas, pensar de maneira desorganizada, agitação, irritabilidade, alucinações, paranoia e insônia. Se não for tratada, pode levar a consequências extremas, como suicídio ou até homicídio do bebê. Portanto, é considerada uma emergência psiquiátrica que, muitas vezes, requer hospitalização.

    Atualmente, a psicose pós-parto ainda não é reconhecida como um diagnóstico independente em manuais médicos essenciais, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e a Classificação Internacional de Doenças. Esses documentos apenas mencionam o “início periparto”, uma definição que não abrange casos que surgem semanas ou meses após o parto. Essa falta de reconhecimento pode dificultar diagnósticos e inspecionar tratamentos.

    Jennifer Payne, uma especialista em psiquiatria reprodutiva, destaca que a ausência de uma categoria diagnóstica autônoma pode levar a subdiagnósticos. Muitas vezes, sintomas iniciais como insônia severa e comportamentos desorganizados são vistos como reações normais ao pós-parto, atrasando o tratamento necessário.

    Um estudo recente, realizado por pesquisadores do Mount Sinai nos Estados Unidos, analisou dados de mais de 1,6 milhão de mulheres e identificou 2.514 casos de psicose pós-parto nos três meses seguintes ao primeiro parto. Os resultados mostraram que o risco de desenvolver a condição aumenta significativamente se uma irmã já tiver passado por isso. Gestantes com histórico familiar de transtorno bipolar apresentam um risco ainda mais elevado.

    Veerle Bergink, coautora do estudo, reforça a importância da conscientização sobre os riscos e sintomas da psicose pós-parto. Muitas mulheres não sabem que estão em risco e acabam enfrentando essa situação sozinhas, o que torna o apoio fundamental nesse momento delicado.

    Apoio Digital Para Mães no Pós-Parto

    Diante da necessidade de apoio à saúde mental das mães, o Sistema Único de Saúde (SUS) lançou um novo programa chamado Aurora, que oferece suporte 24 horas a mulheres no pós-parto e a seus recém-nascidos. Desenvolvido pela L2D Saúde Digital, o programa combina telemonitoramento, conteúdos educativos e uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos.

    Essencialmente gratuito, o programa visa acompanhar mães e bebês nos primeiros 60 dias após o parto. A Santa Casa de Tatuí, uma das principais maternidades da região, foi o cenário do projeto-piloto, atendendo a uma população que frequentemente enfrenta dificuldades para ter assistência adequada após o parto.

    Atualmente, 192 puérperas são acompanhadas pelo programa. A equipe de profissionais de saúde realiza 69% dos atendimentos, com forte atuação da enfermagem e apoio de psicólogos e nutricionistas. O suporte emocional oferecido ajuda a prevenir condições como o baby blues e a depressão pós-parto.

    Tatiana Barbosa, psicóloga clínica e coordenadora de psicologia do programa Aurora, explica que o acompanhamento permite que as mães compartilhem abertamente seus sentimentos, sem medo de julgamento. A abordagem acolhedora e sigilosa ajuda a identificar precocemente sinais de problemas emocionais.

    A médica ginecologista Maria Laura Matias, interventora da Santa Casa de Tatuí, destaca que o projeto trouxe melhorias significativas no atendimento pós-parto, preenchendo uma lacuna que existia nesse suporte. O acompanhamento contínuo permite detectar precocemente problemas que antes passaram despercebidos.

    Com a implementação deste programa, espera-se não apenas oferecer suporte a mães e bebês, mas também sensibilizar a população sobre a importância da saúde mental no pós-parto e garantir que todas as mulheres recebam a assistência necessária nesse período tão delicado.

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