Mamografias e Inteligência Artificial: Uma Nova Forma de Avaliar a Saúde
Um estudo recente apresentado na conferência anual do Colégio Americano de Cardiologia mostrou que as mamografias, geralmente utilizadas para detectar câncer de mama, podem oferecer mais informações sobre a saúde cardiovascular das mulheres. Essa descoberta vai além do que se imaginava, pois as mamografias também podem revelar acúmulo de cálcio nas artérias, um sinal importante de problemas no coração.
Recomendações de Saúde para Mulheres
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos recomendam que mulheres de meia-idade e mais velhas façam mamografias a cada um ou dois anos. Isso ajuda na detecção precoce do câncer de mama. Nos Estados Unidos, cerca de 40 milhões de mamografias são realizadas anualmente. Embora essas imagens mostrem calcificações nas artérias mamárias, os radiologistas normalmente não informam essas informações às pacientes ou aos médicos.
Uso de Inteligência Artificial
O estudo que analisou essa questão utilizou uma nova técnica de análise de imagem baseada em inteligência artificial (IA), nunca antes aplicada em mamografias. A pesquisa mostrou que a IA pode, de forma automática, analisar o acúmulo de cálcio nas artérias mamárias e transformar esses dados em um escore de risco cardiovascular.
Theo Dapamede, médico e autor principal do estudo, comentou que essa abordagem oferece uma oportunidade valiosa: a possibilidade de realizar um rastreio para câncer e, ao mesmo tempo, verificar a saúde do coração. Ele destacou que a calcificação das artérias mamárias é um bom indicador de doenças cardiovasculares, especialmente em mulheres com menos de 60 anos.
Importância da Detecção Precoce
Doenças cardíacas são a principal causa de morte nos Estados Unidos, mas muitas vezes são diagnosticadas tarde, especialmente em mulheres, e a consciência sobre isso ainda é baixa. O uso da tecnologia de IA nas mamografias poderia identificar mais mulheres com sinais precoces de doenças do coração, ajudando a prevenir problemas maiores.
O acúmulo de cálcio nas artérias é um sinal de danos cardiovasculares, que pode estar ligado ao início da doença cardíaca ou ao envelhecimento. Estudos anteriores indicaram que mulheres com esse acúmulo têm 51% mais chances de desenvolver doenças do coração ou sofrer um derrame.
Desenvolvimento do Modelo de Rastreio
Para criar a ferramenta de rastreio utilizada nesta pesquisa, os cientistas treinaram um modelo de IA com aprendizado profundo para separar os vasos calcificados nas mamografias, que aparecem como pixels brilhantes. Isso permite calcular o risco futuro de eventos cardiovasculares com base em dados de prontuários eletrônicos de saúde.
Esse modelo se destaca por sua abordagem de segmentação, que é diferente de outras ferramentas de IA desenvolvidas anteriormente. Além disso, a equipe de pesquisa utilizou um grande banco de dados para treinamento e teste, incluindo imagens e registros de saúde de mais de 56 mil pacientes que realizaram mamografias entre 2013 e 2020 e tinham pelo menos cinco anos de dados eletrônicos de saúde.
Avanços em Aprendizado de Máquina
Dapamede destacou que os avanços em aprendizado profundo e IA tornaram mais viável extrair informações cruciais das imagens, contribuindo para um rastreio mais eficaz. Os resultados do estudo mostraram que o modelo se saiu bem na caracterização do risco cardiovascular das pacientes como baixo, moderado ou grave, com base nas mamografias.
Os pesquisadores calcularam o risco de morte por qualquer causa e de sofrer infarto, derrame ou insuficiência cardíaca em dois e cinco anos. Os resultados mostraram que a taxa de eventos cardiovasculares graves aumentava conforme o nível de calcificação nas artérias mamárias, especialmente em mulheres com menos de 60 anos e em idades entre 60 e 80 anos.
Risco e Sobrevida
Outro ponto importante é que as mulheres com o maior nível de calcificação arterial mamária (acima de 40 mm²) apresentaram uma taxa de sobrevida significativamente menor em cinco anos em comparação às que tinham o nível mais baixo (abaixo de 10 mm²). Por exemplo, 86,4% das mulheres com alta calcificação sobreviveram por cinco anos, em contraste com 95,3% das que apresentaram níveis baixos. Isso significa um risco 2,8 vezes maior de morte em cinco anos para pacientes com calcificações severas.
Futura Disponibilidade do Modelo
O modelo de IA foi desenvolvido em colaboração entre a Emory Healthcare e a Mayo Clinic, mas ainda não está disponível para uso. Os pesquisadores afirmaram que, se o modelo passar por validação externa e for aprovado pela FDA, poderá ser introduzido em sistemas de saúde para serem usados em mamografias normais e no acompanhamento das pacientes.
Além disso, a equipe pretende investigar como modelos de IA similares podem ser utilizados para avaliar biomarcadores de outras condições, como doenças arteriais periféricas e problemas renais, que também podem ser identificados a partir das mamografias.
Conclusão
Esse estudo abre novas possibilidades para as mamografias, que podem ser mais do que uma ferramenta para detecção de câncer de mama. Com a ajuda da inteligência artificial, mulheres podem se beneficiar de uma avaliação completa da saúde cardiovascular, permitindo diagnósticos precoces e intervenções que podem salvar vidas.
