Mudança de Postura dos EUA em Relação ao Brasil

    Recentemente, a postura dos Estados Unidos em relação ao Brasil e a algumas autoridades do Judiciário brasileiro passou por mudanças significativas. De acordo com John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá, essa alteração é mais influenciada pelo comportamento de Donald Trump do que por avanços concretos na diplomacia sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

    Feeley, que deixou o cargo em 2018 durante o primeiro mandato de Trump, acredita que a percepção de Trump sobre Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, mudou drasticamente após a prisão de Bolsonaro. Para ele, quando Bolsonaro foi condenado e preso, Trump o considerou um “perdedor”, um termo que não condiz com a postura do ex-presidente americano, conhecido por evitar associar-se a figuras que não estão em alta.

    Em entrevista, Feeley afirmou que Trump não se dedica a pensar sobre o Brasil e que, com a queda de Bolsonaro, o ex-presidente dos EUA simplesmente o descartou. O diplomata ainda ressaltou que, em suas interações com o Brasil, Trump é muitas vezes imprevisível e narcisista, dificultando qualquer negociação.

    Feeley destacou que, em julho, os EUA impuseram tarifas altas sobre produtos agrícolas brasileiros e foram além, sancionando figuras do Supremo Tribunal Federal, como o ministro Alexandre de Moraes. Essas ações ocorreram em um contexto em que Trump pareceu buscar influência sobre o julgamento de Bolsonaro, o que, segundo Feeley, pode ter sido impulsionado pelo lobby de Eduardo Bolsonaro em Washington.

    Essas medidas foram posteriormente revertidas, algo que Feeley atribui mais à sorte de Lula do que a qualquer habilidade negocial específica. Ele aconselha Lula e outros líderes a se manterem distantes da “órbita” de Trump sempre que possível.

    Nos últimos meses, a relação entre os dois países demonstrou um certo desconcerto, evidenciado pelo contraste nas altas tarifas impostas inicialmente e a subsequente reversão delas. Essa oscilação, segundo Feeley, pode ser vista como um reflexo das flutuações na política americana, que carece de uma estratégia clara e consistente.

    Além disso, Feeley acredita que o bloqueio imposto pelos EUA a embarcações que operam na Venezuela é uma forma mais eficaz de agir contra o regime de Nicolás Maduro do que as operações anteriores. Ele pontua que, apesar disso, as sanções costumam ter efeitos colaterais que impactam as populações dos países afetados, mas que não são a causa principal das dificuldades enfrentadas por estas.

    Com as recentes mudanças na política externa americana, o papel do Brasil na América Latina e na relação com os EUA pode se revelar crucial. Contudo, Feeley não vê Lula como um mediador viável entre Maduro e os EUA, embora sugira que o exemplo brasileiro de respeito às instituições democráticas possa servir de inspiração para a política americana em um futuro próximo.

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