Resumo:
Quando você imagina um mapa na sua cabeça, o cérebro usa caminhos diferentes do que quando você olha para um mapa fisicamente. Um estudo focou na atenção espacial, onde participantes lembraram o mapa da França e disseram qual cidade ficava mais perto de Paris.
As gravações do cérebro mostraram que a atenção visual utiliza áreas da parte posterior do cérebro, enquanto a imaginação mental usa mais áreas na frente. Isso revela que o cérebro processa espaços imaginados e vistos de forma separada, ativando mecanismos diferentes em cada caso.
Fatos Principais:
- Caminhos Neurais Distintos: A atenção visual usa regiões posteriores do cérebro, enquanto a imaginação mental depende de redes frontais.
- Navegação pela Mente: As pessoas podem direcionar a atenção espacial em imagens mentais, assim como fazem ao olhar para visuais reais.
- Dualidade da Atenção: Imaginar e perceber o espaço ativa mecanismos separados, dando uma visão mais ampla sobre memória e consciência.
A atenção espacial melhora o processamento de áreas específicas de uma cena visual, semelhante a um holofote. Mas será que as pessoas direcionam a atenção espacial da mesma forma ao interpretar imagens mentais da memória?
Os pesquisadores Anthony Clément e Catherine Tallon-Baudry, da École normale supérieure, investigaram se os mecanismos neurais da atenção espacial diferem ao discriminar locais em imagens mentais e em visuais exibidos na tela.
No artigo que publicaram, os pesquisadores descreveram uma tarefa experimental que possibilitou registrar a atividade cerebral enquanto os participantes realizavam tarefas de discriminação espacial.
Em uma das tarefas, os participantes foram incentivados a ativar a “visão interior”, lembrando o mapa da França e focando sua atenção à direita ou à esquerda de seus mapas mentais.
No final de cada tarefa, surgiam dois nomes de cidades na tela. Os participantes precisavam imaginar onde essas cidades ficavam no mapa e decidir qual delas estava mais próxima de Paris.
As pessoas conseguiam direcionar a atenção espacial ao recuperar imagens da memória, mas os mecanismos cerebrais eram diferentes daqueles usados para discriminar imagens exibidas.
Enquanto a percepção visual se baseava em regiões posteriores do cérebro, a imaginação mental contava mais com áreas frontais. Assim, pode haver mecanismos distintos para a atenção espacial, dependendo se as pessoas estão imaginando ou vendo.
Segundo Clément, “nossas descobertas sugerem que quando exploramos uma imagem mental em nossa ‘visão interior’, não apenas reutilizamos os mecanismos do cérebro que usamos ao olhar para o mundo. Essa distinção pode nos ajudar a entender melhor experiências internas como imagens mentais, memória e até mesmo consciência.”
Sobre esta pesquisa em neurociência
Os pesquisadores buscavam compreender como a atenção espacial é aplicada em imagens mentais. A imaginação mental geralmente é vista como compartilhando mecanismos com a percepção visual e a memória visual de curto prazo. A atenção espacial, tanto na percepção visual quanto na memória de trabalho, afeta o comportamento e a atividade cerebral.
Porém, a memória de trabalho só captura uma parte da imaginação mental, que também pode se apoiar na memória de longo prazo. Assim, a pergunta era se a atenção espacial funciona em imagens mentais obtidas de conhecimento geral e se utiliza os mesmos mecanismos neurais da percepção visual.
Os cientistas registraram atividades elétricas do cérebro em 28 voluntários saudáveis enquanto eles realizavam duas tarefas de discriminação com pistas espaciais. Uma tarefa envolvia a visualização mental de um mapa de longo prazo (o mapa da França) e a outra usava estímulos visuais.
Os resultados mostraram que a atenção espacial reduzia o tempo de resposta em ambas as tarefas, mas por meio de mecanismos distintos. Os benefícios comportamentais da atenção não estavam correlacionados entre as tarefas, e a atenção espacial na imaginação envolveu diferentes mecanismos neurais.
Além disso, foram reveladas diferenças fundamentais nas estruturas espaciais de imagens mentais e da percepção visual. As imagens mentais tiradas da memória semântica de longo prazo são organizadas espacialmente e podem receber atenção espacial, mas os mecanismos neurais subjacentes diferem dos da percepção visual.
Nossos resultados mostram, portanto, diferenças marcantes entre a imaginação mental proveniente da memória de longo prazo e a percepção visual. Essas descobertas ampliam nosso entendimento sobre como o cérebro trabalha com informações que são vistas e aquelas que são imaginadas, desvendando a complexidade do processamento da mente humana.
Entender esses processos separadamente pode abrir um leque de possibilidades para pesquisas futuras. Isso pode ajudar em áreas como educação, terapia e até no desenvolvimento de tecnologias que interajam melhor com a cognição humana. Cada vez mais, a maneira como o cérebro lida com informações, sejam elas reais ou imaginadas, se mostra como um campo fascinante e cheio de nuances para a neurociência.