A pesquisa crescente aponta que medicamentos usados para tratar diabetes e auxiliar na perda de peso, como Ozempic e Wegovy, também podem ajudar as pessoas a beberem menos álcool.

    Um estudo recente do Fralin Biomedical Research Institute, publicado este mês, descobriu que os agonistas de GLP-1 podem retardar a velocidade com que o álcool entra na corrente sanguínea. Isso retarda os efeitos do álcool no cérebro.

    Muita gente que bebe sabe que há diferença entre saborear um copo de vinho e tomar um shot de uísque. O professor Alex DiFeliceantonio explica que, embora uma dose padrão de cada um tenha a mesma quantidade de álcool, um shot provoca um aumento mais rápido da concentração de álcool no sangue.

    Esse aumento rápido gera uma sensação mais intensa por causa da forma como o corpo absorve e processa o álcool. DiFeliceantonio alerta que drogas de ação mais rápida podem ter maior potencial de abuso, afetando o cérebro de maneiras diferentes. Logo, se os agonistas de GLP-1 desacelerarem essa entrada do álcool no sangue, podem ajudar as pessoas a beber menos.

    Nos Estados Unidos, mais da metade dos adultos consome álcool e um em cada dez apresenta transtorno por uso de álcool. O consumo excessivo e crônico de álcool está ligado a doenças como hipertensão, problemas cardíacos, hepáticos e até alguns tipos de câncer. O cirurgião-geral dos EUA destacou que o uso de álcool é a terceira principal causa prevenível de câncer, atrás do tabaco e da obesidade.

    No estudo, participantes que tomaram medicamentos de GLP-1, como semaglutida, tirzepatida ou liraglutida, tiveram um aumento mais lento na concentração de álcool no sangue, mesmo consumindo a mesma quantidade de bebida que aqueles que não usaram os remédios. Eles também relataram se sentir menos embriagados.

    O estudo, apoiado pelo Fralin Biomedical Research Institute, queria entender os efeitos físicos e as percepções sobre o álcool em quem toma esses medicamentos. Os pesquisadores acreditam que essas descobertas iniciais podem ajudar a orientar estudos maiores sobre como esses tratamentos podem reduzir o consumo de álcool.

    Participaram do estudo 20 adultos com IMC de 30 ou mais. Metade estava usando medicamento de GLP-1 e a outra metade não. Antes da sessão, os participantes foram orientados a fazer um jejum e, em seguida, receberam uma barrinha de cereal para manter a consistência no estômago.

    Os pesquisadores mediram a pressão arterial, pulso, concentração de álcool no ar expelido e os níveis de glicose no sangue de cada participante. Após 90 minutos, eles foram servidos com uma bebida alcoólica, que deveriam consumir em até 10 minutos. Depois, responderam a várias perguntas durante uma hora, incluindo “Quanto você se sente embriagado agora?” em uma escala de zero a dez.

    Os participantes que estavam usando medicamento GLP-1 frequentemente relataram que se sentiam menos embriagados.

    Depois da parte de consumo de álcool, os participantes foram para uma área de recuperação até que seus níveis de álcool diminuíssem. A medida da concentração de álcool no ar foi feita a cada 30 minutos, enquanto os níveis de glicose no sangue foram verificados duas vezes. Três horas depois, responderam a novas perguntas. Após quatro horas, quando seu nível de álcool ficou abaixo de 0,02% e receberam autorização de um médico do estudo, puderam ir embora.

    DiFeliceantonio, autor principal do estudo, explica que outros medicamentos usados para controlar o consumo de álcool, como naltrexona e acamprosato, atuam no sistema nervoso central. Os dados iniciais do estudo indicam que os GLP-1 podem diminuir o consumo por um mecanismo diferente, retardando o esvaziamento gástrico e, assim, levando a uma subida mais gradual do álcool no sangue.

    A ideia do estudo surgiu durante um encontro de corpo docente do Fralin Biomedical Research Institute, sendo conduzida por Warren Bickel, professor e diretor do Centro de Pesquisa em Recuperação de Dependências, que faleceu em 2024. A pesquisa também se baseou em uma análise de postagens em redes sociais, onde usuários relataram uma diminuição nos desejos por álcool ao tomarem medicamentos para diabetes tipo 2 e obesidade.

    Fatima Quddos, pesquisadora e autora principal de ambos os estudos, destaca que a orientação de Bickel foi crucial em todas as fases da pesquisa. Ele sempre buscava maneiras rápidas de ajudar as pessoas, e o uso de um medicamento já considerado seguro pode ser uma alternativa para ajudar a reduzir o consumo de álcool.

    Embora seja um estudo inicial, os pesquisadores consideram que as diferenças observadas entre os grupos mostram resultados claros e fornecem dados importantes para futuros testes dos medicamentos como terapia para quem deseja diminuir a bebida.

    Quddos, que se formou recentemente, expressa sua empolgação com o potencial da pesquisa, que pode não só avançar o entendimento científico, mas também abrir portas para novas terapias. A esperança de oferecer novas alternativas para quem luta contra a dependência é o que dá sentido a esse trabalho.

    A combinação de tópicos relevantes, como saúde e bem-estar, faz com que o estudo tenha um impacto que vai além do acadêmico, atingindo diretamente a vida das pessoas. As descobertas sugerem que, com mais pesquisas, esses medicamentos podem, de fato, oferecer um novo caminho para quem busca controlar suas relações com o álcool.

    Share.