SuperAgers: Memórias que Persistem na Maturidade
SuperAgers são pessoas com mais de 80 anos que têm uma memória tão boa quanto a de quem tem 30 anos a menos. Isso mostra que é possível manter uma saúde mental excepcional durante toda a vida.
Essas pessoas costumam ser bem sociáveis, possuindo relacionamentos fortes e um estilo de vida ativo. Além disso, seus cérebros parecem resistir à formação de placas e emaranhados que estão ligados à perda de memória, muitas vezes associada ao Alzheimer.
A pesquisa em andamento está trazendo informações importantes que podem ajudar os cientistas a criar novas maneiras de atrasar ou até mesmo prevenir a demência, ligada a doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e a degeneração frontotemporal.
Nos últimos 25 anos, pesquisadores de uma instituição renomada estão estudando pessoas com 80 anos ou mais, conhecidas como “SuperAgers”, para entender por que suas mentes permanecem tão afiadas.
Esses indivíduos incríveis se saem muito bem em testes de memória, comparáveis a pessoas 30 anos mais jovens, o que desafia a ideia antiga de que o declínio mental é parte natural do envelhecimento.
Durante décadas de pesquisa, os cientistas perceberam que os SuperAgers costumam ter traços de personalidade e estilo de vida em comum, como serem bem sociáveis e extrovertidos. Contudo, descobertas mais surpreendentes vieram das análises dos cérebros desses indivíduos. A Dra. Sandra Weintraub, uma especialista na área, destacou que as revelações dos cérebros deles foram impactantes.
Identificando os traços biológicos e comportamentais que estão atrelados ao envelhecimento saudável, os pesquisadores desejam desenvolver novas estratégias para fortalecer a resiliência cognitiva e retardar ou evitar o Alzheimer e outras formas de demência.
“As nossas descobertas mostram que uma memória excepcional na terceira idade não só é possível como está relacionada a um perfil neurobiológico distinto. Isso abre novas oportunidades para intervenções que podem preservar a saúde do cérebro na velhice”, comentou Weintraub, que é co-autora de um recente artigo sobre os achados.
Esse estudo foi publicado em uma edição especial de uma revista voltada ao Alzheimer, marcando 40 anos do programa de centros de doença de Alzheimer e 25 anos de um centro de coordenação de pesquisa sobre a doença.
Cérebro dos SuperAgers é Resiliente e Resistente
O conceito de “SuperAger” foi criado pelo Dr. M. Marsel Mesulam, que fundou um centro renomado sobre neurologia cognitiva e doença de Alzheimer, no final dos anos 1990.
Desde 2000, cerca de 290 SuperAgers participaram da pesquisa e os cientistas analisaram 77 cérebros de SuperAgers que foram doados após a morte. Alguns desses cérebros apresentavam proteínas amyloid e tau, que são características do Alzheimer, enquanto outros não mostraram acúmulo dessas substâncias.
“Percebemos que existem dois mecanismos que fazem alguém se tornar um SuperAger”, explicou Weintraub. “Um é a resistência: eles não produzem as placas e os emaranhados. O outro é a resiliência: mesmo que produzam, isso não afeta a saúde do cérebro deles.”
Outras Descobertas Importantes
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Performance memorável: SuperAgers conseguem pontuar pelo menos 9 em 15 em testes de memória, comparável a indivíduos de 50 e 60 anos.
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Estrutura cerebral jovial: Diferente do que acontece em cérebros que envelhecem normalmente, os SuperAgers não apresentam afinamento significativo do córtex cerebral. Eles até têm o córtex cingulado anterior mais grosso do que adultos mais jovens. Essa região é vital para integrar informações sobre decisões, emoções e motivação.
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Características celulares únicas: Os SuperAgers têm mais neurônios de von Economo, que estão ligados ao comportamento social, e neurônios entorrinais maiores, essenciais para a memória, em comparação aos seus pares que envelhecem de forma típica.
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Sociabilidade como traço comum: Apesar de terem estilos de vida variados e diferentes abordagens para exercícios, os SuperAgers se mostram bastante sociáveis e relatam ter relacionamentos interpessoais fortes.
Doação de Cérebro: Uma Imortalidade Científica
No centro de pesquisa especializado, os SuperAgers são avaliados anualmente e têm a opção de doar seus cérebros para avaliação posterior pelos cientistas.
“Muitas das descobertas deste artigo são resultado da análise das amostras de cérebros de SuperAgers generosos, que foram acompanhados por décadas”, disse a Dra. Tamar Gefen, co-autora do estudo. “Eu fico impressionada como a doação de cérebros pode possibilitar descobertas muito tempo após a morte, proporcionando uma forma de imortalidade científica.”
O artigo, intitulado “Os Primeiros 25 Anos do Programa SuperAging”, tem outros autores da mesma instituição, incluindo Dr. Mesulam e Changiz Geula, um pesquisador na área de biologia celular e neurociências.
Esses achados mostram que a saúde mental e a memória são mais complexas do que se pensava anteriormente. As descobertas têm o potencial de mudar as abordagens para o cuidado e o estudo do envelhecimento, oferecendo esperança para muitas pessoas que desejam ter uma velhice saudável e ativa.