Resumo dos Fatos

    • As startups norte-americanas levantaram US$ 63,1 bilhões no terceiro trimestre de 2025, 38% a mais do que no mesmo período do ano passado.
    • Os EUA dominam esse total, com cerca de 70% do financiamento anual indo para rodadas acima de US$ 100 milhões, somando US$ 157 bilhões.
    • As empresas de IA captaram 57% do investimento regional, lideradas pela rodada de US$ 13 bilhões da Anthropic.
    • Os investimentos em estágios avançados chegaram a US$ 42,9 bilhões, enquanto o financiamento inicial caiu 25%.

    O mercado de capital de risco está buscando estabilidade, e a América do Norte está mostrando como isso acontece. A empolgação não é exagerada, pois os investidores ainda estão cautelosos. Mas, pelo menos, o movimento já começou novamente, com os Estados Unidos liderando essa recuperação.

    Nos últimos anos, os EUA se tornaram o centro de atração dos investimentos globais de risco. As rodadas bilionárias em inteligência artificial (IA) e computação avançada transformaram o país na força motriz da recuperação.

    No terceiro trimestre de 2025, as startups da região levantaram incríveis US$ 63,1 bilhões, um salto de 38% em comparação ao ano anterior. Contudo, o número de acordos caiu levemente, ficando em cerca de 2.200. Os investidores estão escrevendo menos cheques, mas com valores muito maiores.

    Até agora, as startups nos EUA absorveram cerca de US$ 157 bilhões através de rodadas gigantes. A captação de US$ 40 bilhões da OpenAI, com o apoio da SoftBank, já representa quase um quarto desse total. O dinheiro está se concentrando em um pequeno grupo, moldando o cenário de crescimento para todos os outros.

    Por que o capital está se concentrando em IA e hardtech?

    Embora a IA não seja toda a história do capital de risco, ela está presente em quase todas as rodadas importantes deste ano. Os investidores mudaram o foco de financiar novas aplicações para apoiar a infraestrutura física e computacional que as sustenta, como chips, sistemas de dados, robótica e laboratórios quânticos.

    As startups de IA na América do Norte levantaram US$ 35,7 bilhões no terceiro trimestre de 2025, quase o dobro do total do ano anterior. A rodada de US$ 13 bilhões da Anthropic deu o tom, enquanto a Cerebras Systems arrecadou US$ 1,1 bilhão. Ambas as empresas, assim como outras como Figure AI e PsiQuantum, estão investindo em projetos de infraestrutura em larga escala, e os capitalistas estão respondendo com investimentos robustos.

    Os investimentos costumam seguir o princípio da escassez. Há poucas empresas capazes de criar modelos avançados, desenvolver chips personalizados ou operar data centers em grande escala. Por isso, os investidores estão apostando forte nesse pequeno círculo. O resultado é um mapa financeiro que se torna mais estreito, mas mais profundo, com o dinheiro fluindo para áreas mais promissoras.

    A ênfase nas rodadas de estágios avançados

    Se a maior parte do capital está indo para empresas mais maduras, o que acontece com o restante do mercado? As rodadas de investimento em estágios avançados e crescimento absorveram US$ 42,9 bilhões no terceiro trimestre de 2025, sendo o terceiro maior total do ano. Essas empresas possuem progresso visível e clientes recorrentes e, em um mercado cauteloso, esse tipo de certeza conta muito.

    O financiamento em estágios iniciais atingiu US$ 15,6 bilhões, seu melhor resultado em cinco trimestres. No entanto, o número de acordos está diminuindo. Muitas das maiores rodadas iniciais são levantadas por empresas que já atuam como se fossem de estágio avançado. A Commonwealth Fusion Systems, fundada em 2017, arrecadou US$ 863 milhões em uma rodada que parecia mais um financiamento de expansão do que de um startup.

    O financiamento semente também continua sob pressão, totalizando US$ 4,6 bilhões, uma queda de 25% em relação ao segundo trimestre de 2025. Esse desequilíbrio mostra como o capital de risco está sendo redefinido. Os investidores preferem apoiar empresas com base consolidada, deixando os novos empreendedores enfrentando ciclos de captação mais longos e incertos.

    No segundo trimestre de 2025, as startups de IA conseguiram levantar US$ 34,5 bilhões, tornando-se o terceiro maior total trimestral já registrado. Mesmo com menos acordos, os investimentos em IA mantiveram o financiamento tecnológico da América do Norte surpreendentemente firme.

    Canadá e México se beneficiam da onda de investimento

    O padrão de investimentos começa nos EUA, mas se estende além das suas fronteiras. O ecossistema do Canadá está se destacando na computação quântica, na segurança em IA e nas energias limpas, apoiado por parcerias com investidores globais de tecnologia. Um exemplo notável foi a rodada de US$ 600 milhões da Quantinuum, apoiada pela Nvidia, que destacou a crescente força do país em tecnologias orientadas por pesquisa.

    Mais ao sul, o cenário de financiamento do México é menor, mas está se tornando cada vez mais visível. Fintech e comércio eletrônico estão atraindo atenção constante, impulsionada pela adoção digital e pelo crescimento dos sistemas de pagamento baseados em remessas. O México está se posicionando como uma ponte entre o capital dos EUA e os mercados de consumo da América Latina, testando ideias que podem escalar regionalmente.

    Ambos os mercados mostram que a resiliência do financiamento na América do Norte é mais ampla do que parece. Os EUA ditam o tom, mas seus vizinhos aprendem a se mover em harmonia, construindo forças complementares que enriquecem a narrativa regional.

    Saídas e a visão mais ampla

    Com o aumento do financiamento, outra dúvida é se a liquidez segue o mesmo caminho. Por enquanto, a resposta é sim. O IPO da Figma em julho se tornou um dos momentos marcantes do trimestre, alcançando uma avaliação de US$ 26 bilhões após sua estreia no Nasdaq. A Netskope, a Firefly Aerospace e a StubHub também realizaram listagens bem-sucedidas, enquanto compradores privados como Atlassian e OpenAI lideraram aquisições de bilhões de dólares.

    Essas saídas mostram que o ciclo está voltando a funcionar. A liquidez retorna, dando confiança aos investidores para reinvestir e ajudando as startups a entenderem o caminho viável para o sucesso. O estado deste mercado depende não apenas da quantidade de capital atraído, mas de como esse capital circula.

    Ainda assim, o risco de concentração permanece. Grande parte da força da América do Norte está em um pequeno grupo de empresas de deeptech e IA, cujas avaliações sustentam o ecossistema. Se essas empresas continuarem a se sair bem, 2026 pode prolongar o ciclo de alta atual. Se falharem, a correção pode atingir todos rapidamente.

    Conclusão

    O mercado de venture capital da América do Norte recuperou sua estabilidade ao focar-se, em vez de se expandir descontroladamente. Os Estados Unidos permanecem seu núcleo, impulsionados por escalabilidade e maturidade tecnológica. Canadá e México acrescentam nuances a essa história, reforçando a relevância da região em computação quântica, fintech e IA aplicada.

    O entusiasmo de 2021 já passou, dando lugar à disciplina. Os investidores estão escrevendo menos cheques, mas fazendo uma pesquisa mais rigorosa. As startups estão sendo construídas para durar, e não somente para uma negociação rápida. A próxima fase do capital de risco não será definida por quantas empresas conseguem financiamento, mas sim por quantas podem resistir após isso.

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