É amplamente aceito que a redução dos níveis de colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade) traz benefícios significativos para tratar e prevenir doenças cardiovasculares. Conhecido como o “colesterol ruim”, o LDL elevado pode obstruir as artérias e aumentar o risco de infartos e derrames.

    Em um editorial recente, pesquisadores da Faculdade de Medicina Schmidt, da Universidade Florida Atlantic, pedem que os cardiologistas busquem manter níveis mais baixos de colesterol LDL. A ideia é começar com doses altas das estatinas mais potentes, como rosuvastatina e atorvastatina. Os autores destacam que essas estatinas devem ser a primeira opção na pandemia do tratamento de doenças cardiovasculares, junto com mudanças no estilo de vida.

    As mudanças no estilo de vida são importantes tanto sozinhas quanto em combinação com outros tratamentos. Algumas práticas eficazes incluem parar de fumar, manter o peso e a pressão arterial dentro dos limites saudáveis, praticar exercícios regularmente e limitar o consumo de álcool.

    Apesar da eficácia dessas mudanças, cerca de 40% dos adultos nos Estados Unidos têm síndrome metabólica, um conjunto de fatores de risco como obesidade, pressão alta, dislipidemia e resistência à insulina. Essas pessoas têm um risco cardiovascular semelhante ao de quem já teve infarto ou derrame, mas muitos não recebem diagnóstico ou tratamento adequado.

    Os autores também ressaltam que apenas 21% dos americanos atendem ao mínimo de atividade física diário recomendada. Aumentar essa atividade é possível em qualquer idade, inclusive entre os mais velhos.

    Com base em dados de ensaios clínicos e suas análises conjuntas, os autores concluem que as estatinas, especialmente a rosuvastatina e a atorvastatina, têm o melhor e mais consistente suporte para serem prescritas na prevenção e tratamento, tanto em homens quanto em mulheres, incluindo idosos.

    A maioria dos pacientes tende a manter a dose inicial da estatina prescrita. Por isso, os autores sugerem que os cardiologistas considerem começar com a dose mais alta e, se necessário, reduzir depois. Eles também destacam que os benefícios das estatinas e do ácido acetilsalicílico (aspirina) se somam e podem até ser sinérgicos. Para pacientes em prevenção secundária, a aspirina deve ser indicada. Já na prevenção primária, a decisão deve ser individualizada, considerando se o risco residual de obstrução é maior do que o risco de sangramento, especialmente gastrointestinal.

    “Os cardiologistas devem lembrar que todas as terapias medicamentosas devem ser adicionadas às mudanças no estilo de vida apenas após atingir as doses máximas das estatinas. As estatinas têm a maior e mais convincente evidência clínica entre as terapias adjuvantes para tratar e prevenir doenças cardiovasculares”, afirmou Charles H. Hennekens, M.D, autor sênior e professor na Faculdade de Medicina e Medicina Preventiva.

    Os pesquisadores também compartilham uma visão cautelosa sobre terapias adicionais, como ezetimibe e evolocumab, que são usadas de forma mais intensa do que o necessário. Por exemplo, no ensaio IMPROVE-IT, a adição de ezetimibe à simvastatina trouxe apenas um pequeno benefício. Já o estudo FOURIER demonstrou que o evolocumab é eficaz em pacientes com hipercolesterolemia familiar, mas apenas quando já estão em doses máximas de estatinas. O FOURIER foi um teste concluído na prevenção secundária, enquanto o ILLUMINATE é um teste em andamento para pacientes de alto risco que têm colesterol elevado.

    “Esses achados sugerem que essas terapias devem ser reservadas para pacientes de alto risco que não atingiram suas metas de LDL com estatinas apenas”, explicou Hennekens.

    Os autores também comentaram o papel dos ácidos graxos ômega-3. Ensaios anteriores mostraram resultados positivos, mas estudos mais recentes não mostraram benefício considerável. Eles acreditam que isso pode estar relacionado ao uso extensivo de estatinas. No estudo REDUCE-IT, um ensaio em grande escala, o icosapent etila foi o único ácido graxo ômega-3 a apresentar benefícios significativos quando adicionado a doses comprovadas de estatinas de alta potência. Os pacientes que receberam icosapent etila, uma forma purificada de ácido eicosapentaenoico, tiveram uma queda de 25% em eventos cardiovasculares graves, com um número necessário para tratamento de apenas 21.

    Hennekens também mencionou a sabedoria de Benjamin Franklin, que disse em 1736 que “uma onça de prevenção vale uma libra de cura”. Essa frase ainda se aplica muito bem aos dias de hoje.

    O primeiro autor do editorial é John Dunn, um estudante de medicina do terceiro ano da Faculdade de Medicina Schmidt.

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