Adultos de origem sul-asiática e leste-asiática que vivem no Reino Unido podem ter maneiras diferentes de desenvolver pressão alta ao longo da vida, segundo uma pesquisa recente. Esse estudo foi publicado em uma revista da American Heart Association.
Os pesquisadores analisaram os registros de saúde de mais de 3.400 adultos que se identificaram como sul-asiáticos ou leste-asiáticos na UK Biobank. Estudos anteriores mostraram que quem tem origem sul-asiática no Reino Unido apresenta maior risco de doenças cardíacas em comparação com pessoas de origem europeia. Também foi observado que sul-asiáticos nos Estados Unidos têm taxas de mortalidade mais altas de doenças cardíacas do que brancos. Neste estudo, os pesquisadores investigaram as diferenças nos padrões de pressão arterial e os impactos disso na saúde cardiovascular.
De acordo com So Mi Jemma Cho, autora principal do estudo, há uma grande variação no controle da pressão alta entre diferentes grupos étnicos. Ela enfatizou a importância de entender esses padrões para combater doenças cardíacas desde cedo, principalmente porque pressão alta é um fator chave para problemas cardíacos.
A pesquisa usou dados de sul-asiáticos e leste-asiáticos que tiveram pelo menos duas leituras de pressão arterial após os 18 anos. Os pesquisadores acompanharam eventos de doenças cardíacas, como infartos e derrames, por meio de registros de internações e atendimentos ambulatoriais. Eles avaliaram os padrões de pressão arterial de cinco em cinco anos e como isso se relacionava com o risco cardiovascular.
A análise revelou pontos importantes:
- Os adultos sul-asiáticos apresentaram aumento da pressão arterial mais cedo e mais rápido do que os leste-asiáticos. Aos 30 anos, a pressão sistólica média era de 124,9 mmHg em homens sul-asiáticos, enquanto era de 120,7 mmHg para os leste-asiáticos.
- Homens sul-asiáticos atingiram pressão arterial sistólica de 130 mmHg ou mais, considerada alta, 10 anos mais cedo em comparação aos homens leste-asiáticos. Para as mulheres, a diferença foi de 7 anos.
- A combinação dos dois grupos sul-asiáticos mostrou que ambos alcançariam 130 mmHg em média aos 40 anos, enquanto para os leste-asiáticos essa média era aos 49 anos.
- A pressão alta na juventude em sul-asiáticos estava relacionada a um maior risco de doenças cardíacas ao longo da vida. Já para os leste-asiáticos, a pressão alta na meia-idade estava ligada ao aumento de risco de doenças cardiovasculares.
- Um aumento de um desvio padrão na pressão arterial sistólica na meia-idade entre os leste-asiáticos elevou o risco de doenças cardíacas em 2,5 vezes, e o risco de derrames quase quadruplicou.
- A pressão diastólica na juventude ficou muito ligada a doenças arteriais periféricas em sul-asiáticos, aumentando o risco em 2,18 vezes.
- Esses achados se mantiveram quando a trajetória da pressão arterial foi analisada com base na ancestralidade genética, não apenas na etnia informada.
Esses resultados mostram a necessidade de adaptar os testes de pressão arterial e o momento do tratamento para subpopulações asiáticas diferentes. Isso ajuda a promover um cuidado mais personalizado e estratégias de prevenção para grupos que historicamente foram pouco estudados.
Detalhes do estudo indicam que os dados vieram da UK Biobank, que envolve 503.325 adultos que vivem no Reino Unido e que tinham entre 40 e 69 anos quando se inscreveram entre 2006 e 2010. Informações sobre saúde e aspectos biomédicos foram coletadas de participantes registrados no sistema de saúde britânico.
- A análise incluiu 3.453 participantes. Desses, 3.077 se autodeclararam sul-asiáticos e 376 leste-asiáticos. Entre os sul-asiáticos, 47% se identificaram como mulheres e 53% como homens. Nos leste-asiáticos, 64,9% eram mulheres e 35,1% homens.
- A Diretriz de 2017 da ACC/AHA define pressão alta como 130/80 mmHg ou mais.
- Na UK Biobank, sul-asiáticos incluem pessoas da Índia, Paquistão, Bangladesh, Butão, Maldivas, Nepal ou Sri Lanka. Leste-asiáticos referem-se a pessoas da China.
- Aos 40 anos, a pressão alta afetava quase o dobro dos sul-asiáticos se comparados aos leste-asiáticos.
- Sul-asiáticos iniciavam tratamento para pressão alta três anos mais cedo, em média, do que os leste-asiáticos, e com leituras de pressão arterial um pouco mais altas.
- A incidência de doenças cardíacas em sul-asiáticos era quatro vezes maior do que nos leste-asiáticos.
- Fatores de risco incluíram situação de tabagismo, dieta e condição socioeconômica, avaliados com base em diferentes parâmetros.
As limitações do estudo indicam que os resultados podem não se aplicar a pessoas asiáticas fora do Reino Unido, devido a diferenças em sistemas de saúde e contextos culturais.
Os dados mostram que fatores de risco cardiovascular, como a pressão alta, não são experimentados da mesma forma em comunidades frequentemente agrupadas sob a classificação “asiática”. Essa variação na epidemiologia da hipertensão deve gerar novas pesquisas para entender melhor as diferenças sociais e genéticas que afetam a pressão arterial nas populações asiáticas.
Esses achados sugerem uma interação complexa entre fatores sociais e genéticos que resulta em experiências diferentes quanto à pressão alta. Há muito trabalho a ser feito para entender melhor os riscos cardiovasculares e os resultados enfrentados por essas populações. A pesquisa traz à tona a necessidade de focar em estratégias que melhorem o cuidado para esses grupos diversos.
