Principais Destaques
- O investimento de US$ 91 bilhões da Alphabet a coloca entre os três maiores investidores em infraestrutura do mundo.
- A receita do Google Cloud, de US$ 15,2 bilhões, é semelhante à da divisão de software da IBM.
- O crescimento dos lucros, de 33%, supera os resultados da Microsoft, Meta e Amazon no mesmo período.
A Alphabet, que é dona do Google, sempre teve seus momentos marcantes. O surgimento do Google Search fez a empresa se tornar indispensável, o Android a tornou global, e a popularidade do YouTube a consolidou culturalmente. Agora, vivemos um novo momento. Pela primeira vez, a Alphabet ultrapassou a marca de US$ 100 bilhões em receita trimestral, com um lucro de US$ 34,9 bilhões. Mas essa conquista é mais que um número, é a transformação da identidade da empresa.
O que define este período não são apenas anúncios, celulares ou visualizações de vídeos. O foco agora é na inteligência artificial (IA), que deixou de ser um projeto de pesquisa no Google para estar presente em tudo que a empresa faz.
A IA: De um Experimento a um Mercado Bilionário
Quando Sundar Pichai, CEO da Alphabet, se referiu ao último trimestre como “ótimo”, isso foi só uma demonstração de humildade. A nova estratégia da empresa, centrada na IA, está se consolidando. Ao desenvolver seus próprios modelos e treinar esses sistemas na nuvem, a Alphabet criou um ciclo que conecta suas diversas áreas.
Esse conceito fica evidente na divisão do Google Cloud. Sua receita cresceu 34% em relação ao ano passado, atingindo US$ 15,2 bilhões, enquanto o lucro operacional mais que dobrou, chegando a US$ 3,6 bilhões. O backlog de contratos é de US$ 155 bilhões, evidenciando que são parcerias de longo prazo, com empresas que usam a infraestrutura do Google para desenvolver seus produtos de IA.
O modelo Gemini, principal projeto da Alphabet, é fundamental nesse novo cenário. Ele processa 7 bilhões de tokens por minuto e já tem 650 milhões de usuários ativos em seu aplicativo. Esses números lembram os primeiros anos do YouTube, onde um produto se transformou em uma plataforma revolucionária.
O Desempenho da Publicidade e o Crescimento das Assinaturas
Apesar de a IA ser o motor de crescimento da Alphabet, a publicidade ainda representa a maior parte das receitas. Neste último trimestre, a receita de anúncios foi de US$ 74,2 bilhões, com o Search contribuindo com mais de US$ 56 bilhões e o YouTube, com uma alta de 15%, chegando a US$ 10,3 bilhões.
Contudo, outra mudança notável está em uma linha mais discreta do balanço. As receitas de assinaturas, plataformas e dispositivos totalizaram US$ 12,9 bilhões, um aumento de 21% em relação ao ano anterior. Isso inclui 300 milhões de usuários pagando por YouTube Premium e Google One. A Alphabet está caminhando de maneira cuidadosa para construir uma receita recorrente, similar ao que fez a Apple com seus serviços.
Embora a publicidade continue sendo o coração da Alphabet, as assinaturas estão se tornando seu novo pulso.
A Construção da Infraestrutura Digital
O que distingue este trimestre não é apenas o lucro, mas o quanto a Alphabet está investindo em sua infraestrutura. Os bens e equipamentos da empresa cresceram 31%, atingindo US$ 223,8 bilhões. A previsão de gastos para o ano é de entre US$ 91 bilhões e US$ 93 bilhões, colocando a Alphabet entre os maiores investidores em infraestrutura globalmente, junto com a Amazon e a China Mobile.
Esse investimento demonstra uma transformação da Alphabet, que está se tornando não só uma criadora de software, mas também uma construtora de sistemas físicos que suportam o mundo digital. A dívida de longo prazo dobrou para US$ 21,6 bilhões, e os investimentos em tecnologias, centros de dados e parcerias em hardware de IA cresceram para US$ 63,8 bilhões.
A Alphabet encerrou o trimestre com US$ 98,5 bilhões em caixa e títulos. Esse capital permite que a empresa siga construindo a infraestrutura necessária para a era da IA.
Mudanças na Crescimento Regional
O crescimento da Alphabet não é mais região-dependente. A região Ásia-Pacífico registrou um aumento de 22%, seguida pela Europa, Oriente Médio e África com 17%, e os Estados Unidos com 13%. A demanda por IA não é só um fenômeno ocidental, mas um desejo global.
Disciplina Durante a Expansão
Mesmo enfrentando uma multa de US$ 3,5 bilhões de reguladores da Europa, a Alphabet conseguiu um lucro operacional de US$ 31,2 bilhões, subindo 9% em relação ao ano passado. Sem a multa, o crescimento do lucro seria de 22%, aumentando a margem operacional para 33,9%. Essa eficiência é impressionante em um ano de altas despesas com pesquisa.
Os gastos com pesquisa e desenvolvimento chegaram a US$ 15,1 bilhões, um aumento de 21%. No entanto, a força de trabalho cresceu apenas 5%, atingindo 190 mil empregados. A empresa está investindo mais em inovação, mas não está aumentando a burocracia. Além disso, retornou US$ 11,5 bilhões para os acionistas através de recompra de ações e manteve um dividendo de US$ 0,21, mostrando que está se comportando como uma empresa madura em um mercado impulsionado pela IA.
Lucros da Hype Criada pela Própria Alphabet
Os lucros da Alphabet neste trimestre não vêm apenas das operações. A empresa, na verdade, registrou US$ 12,8 bilhões em outros rendimentos, a maior parte provenientes de ganhos não realizados de US$ 10,7 bilhões em investimentos em ações. Isso adicionou US$ 8,3 bilhões ao lucro líquido e US$ 0,68 por ação.
Ou seja, a Alphabet lucrou não só com a venda de IA, mas também com a crescente crença do mercado nessa tecnologia. Assim, a empresa se tornou tanto construtora quanto beneficiária da hype que ajudou a criar.
O Cenário Geral
Os US$ 100 bilhões da Alphabet neste trimestre não são apenas uma marca para comemorar, mas um sinal a ser interpretado. A empresa que antes organizava a informação do mundo agora constrói os sistemas que processam e distribuem essa informação. O Google Cloud monetiza a computação; o Search e o YouTube monetizam a descoberta; já as assinaturas monetizam a confiança e a lealdade. Cada camada se alimenta da outra, numa estrutura comercial robusta.
A Alphabet não está apenas se adaptando à era da IA, mas está moldando as bases físicas e econômicas desse novo mundo. Cada busca, cada vídeo e cada modelo treinado agora depende um pouco mais das máquinas do Google. A empresa que traçou o mapa da internet agora está construindo sua rede de energia.


