A análise de sangue pode ajudar a diferenciar rapidamente acidentes vasculares cerebrais (AVCs) hemorrágicos de AVCs isquêmicos, antes mesmo do paciente chegar ao hospital. Essa informação é baseada em um estudo inicial que será apresentado na Conferência Internacional de AVC da Associação Americana do AVC em Los Angeles, de 5 a 7 de fevereiro de 2025. Esse evento é importante para pesquisadores e médicos que estudam AVC e saúde cerebral.
O tempo é crucial em casos de AVC. Quanto mais rápido um AVC é diagnosticado e tratado, menor o dano ao tecido cerebral. Quando os sintomas aparecem, é essencial saber se o AVC é hemorrágico (por sangramento) ou isquêmico (por coágulo). A distinção é importante para o tratamento correto. Normalmente, isso se faz por meio de exames de imagem, que podem demorar horas, enquanto os neurônios continuam a morrer.
A diferenciação entre os tipos de AVC é crítica porque os tratamentos são diferentes. Para AVC isquêmico, é necessário desobstruir o vaso sanguíneo, seja com medicamentos ou remoção do coágulo. Já no AVC hemorrágico, o foco é controlar a pressão arterial e administrar medicamentos que revertam o efeito de anticoagulantes, explica o Dr. Love-Preet Kalra, autor principal do estudo e residente de neurologia no Hospital RKH Klinikum Ludwigsburg, na Alemanha.
Os pesquisadores testaram se os níveis da proteína GFAP (proteína ácida fibrilar glial) no sangue poderiam auxiliar na rápida identificação do tipo de AVC. Essa proteína é específica do cérebro e é liberada na corrente sanguínea quando há dano às células cerebrais, sendo já usada para avaliar lesões cranianas.
Em um estudo paralelo publicado em 2024, Kalra e sua equipe verificaram que os níveis de GFAP podiam identificar rapidamente pacientes com AVC hemorrágico que estavam sem resposta. A pesquisa analisou se a GFAP poderia separar AVCs hemorrágicos de isquêmicos e outras condições que imitam um AVC. As amostras de sangue foram coletadas pela equipe de ambulância antes da chegada ao hospital.
O estudo revelou que os níveis de GFAP eram quase sete vezes mais altos em pacientes com AVC hemorrágico em comparação com AVCs isquêmicos. Por exemplo, a média foi de 208 picogramas por mililitro (pg/mL) para AVCs hemorrágicos e 30 pg/mL para AVCs isquêmicos. Além disso, esses níveis eram mais de quatro vezes maiores em relação a pessoas que apresentavam condições que imitam um AVC.
Os testes mostraram que valores abaixo de 30 pg/mL podiam excluir AVC hemorrágico em pacientes com déficits neurológicos moderados a severos. A análise também indicou que, ao se usar limites baseados na idade, a precisão para prever um AVC hemorrágico variava de 90% a 95%. Os grupos etários foram organizados em três faixas: abaixo de 72 anos, entre 72 e 83 anos, e acima de 83 anos. O corte para a faixa etária abaixo de 72 anos foi bem baixo.
Kalra expressou surpresa com os altos níveis de GFAP em pacientes com AVC hemorrágico que usavam anticoagulantes. Ele destacou que em pacientes com AVC agudo moderado ou severo, um valor de GFAP abaixo de 30 pg/mL foi capaz de excluir o diagnóstico de AVC hemorrágico em todos os casos estudados.
Caso estudos maiores confirmem esses resultados, as medições precoces de GFAP podem alterar a abordagem ao tratamento de pacientes com sintomas de AVC. Kalra explicou que se o tratamento para controlar a pressão arterial e reverter medicamentos anticoagulantes for feito antes da chegada ao hospital, isso poderia mudar significativamente a prática clínica. No futuro, até mesmo tratamentos com anticoagulantes ou trombolíticos poderiam ser aplicados antes da internação.
Uma limitação atual desse teste é que requer um passo de centrifugação para separar os componentes do sangue. Além disso, os níveis de GFAP aumentam com a idade, o que pode criar situações em que pequenos AVCs hemorrágicos não sejam identificados ou sejam confundidos com AVCs isquêmicos em idosos.
O estudo mostrou que os níveis de GFAP, um marcador de lesão cerebral, são superiores em pacientes com hemorragias cerebrais em comparação com aqueles que têm AVCs isquêmicos. Isso sugere que a GFAP pode ser um teste útil para avaliar lesões cerebrais já fora do hospital. Contudo, o estudo teve um número relativamente pequeno de participantes e é importante que tanto o sangue do paciente quanto o teste de GFAP sejam realizados como um exame de “ponto de atendimento” no local. Hoje em dia, a maioria das ambulâncias e serviços médicos de emergência não têm acesso a esse painel de sangue.
O estudo incluiu 353 pessoas, com idade média de 75 anos e 47% eram mulheres, que chegaram ao pronto-socorro dentro de seis horas após o início dos sintomas de AVC. Pacientes com histórico de tumor cerebral ou que tiveram AVC ou lesão cerebral traumática nos últimos três meses foram excluídos da análise.
As amostras de sangue foram coletadas antes da chegada ao Hospital RKH Ludwigsburg, na Alemanha, onde foram analisadas para níveis de GFAP usando um analisador de sangue portátil. Exames de imagem identificaram hemorragia intracerebral em 76 pessoas, AVCs isquêmicos em 258 e condições que imitam AVC, como convulsões ou enxaqueca, em 19 pessoas. Os níveis de GFAP foram comparados entre os grupos com base no diagnóstico na alta hospitalar.
Com o avanço da tecnologia e mais estudos na área, podemos esperar por inovações que tornem o diagnóstico e o tratamento de AVCs mais ágeis e eficazes, trazendo benefícios diretos à saúde das pessoas.


