Você já pensou em onde a vida pode começar em outras galáxias? Uma descoberta recente trouxe essa questão de volta com força total. Cientistas conseguiram detectar, pela primeira vez, moléculas orgânicas complexas fora da nossa Via Láctea. E onde elas estavam? Presas em gelo interestelar ao redor de uma estrela que ainda está se formando.
O achado que pegou os astrônomos de surpresa
Essa revelação vem de um estudo feito por pesquisadores de várias partes do mundo, que foi confirmado pelo European Southern Observatory (ESO). Usando o Telescópio Espacial James Webb (JWST) e o observatório ALMA, os cientistas encontraram moléculas orgânicas congeladas na região onde novas estrelas surgem, na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia bem próxima da nossa. Essas moléculas estavam ao redor de uma protoestrela chamada ST6, que ainda está em gestação, envolta em poeira e gelo. Entre elas, estavam o metanol (CH3OH), etanol (C2H5OH) e até precursores de aminoácidos, substâncias fundamentais para a vida na Terra.
A astrônoma Marta Sewiło, que faz parte da equipe do estudo, afirmou que é a primeira vez que moléculas orgânicas complexas congeladas são encontradas fora da Via Láctea. Ela complementou que esses compostos são essenciais para entender como a química da vida começa. Encontrá-los em outra galáxia sugere que esses processos podem ser universais.
O que é a Grande Nuvem de Magalhães?
Se você olhar para o céu do hemisfério Sul, consegue ver uma mancha que parece uma nuvem, mas, na verdade, é uma galáxia anã. A Grande Nuvem de Magalhães (GNM) orbita a Via Láctea e está a cerca de 160 mil anos-luz da Terra. É uma vizinha tão próxima que funciona como um laboratório natural para os astrônomos.
O ambiente da GNM é considerado “primitivo”, tendo menos metais e poeira, o que a torna similar ao universo logo após o Big Bang. Por causa disso, achar moléculas orgânicas por lá é um sinal de que a química necessária para a vida pode aparecer mesmo em condições bem diferentes das que temos na Via Láctea.
O gelo que guarda segredos cósmicos
As moléculas detectadas estavam preservadas em gelo, que forma uma camada congelada em torno dos grãos de poeira interestelar. Esse gelo age como um “laboratório natural”, onde átomos e moléculas vão se juntando lentamente, criando compostos mais complexos. Quando uma estrela começa a aquecer, parte desse gelo evapora e libera o material químico no espaço. Essa liberação pode, teoricamente, contribuir para a formação de planetas e luas.
Os cientistas afirmam que esse processo é similar ao que acontece em regiões de formação estelar da Via Láctea, como a Nebulosa de Órion. Até agora, however, ninguém havia provado que isso também ocorre em outras galáxias. Marta Sewiło fez uma comparação interessante: “É como encontrar uma receita familiar em outro lugar; o ambiente muda, mas os ingredientes e o modo de preparo continuam os mesmos.”
Como foi feita a detecção
O James Webb analisou a luz infravermelha que atravessa o gelo interestelar ao redor da estrela ST6. Cada tipo de molécula absorve luz de uma maneira específica, criando uma “assinatura” no espectro. Ao comparar esses padrões com dados de laboratório, os pesquisadores conseguiram identificar as substâncias presentes. O ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), que fica no deserto do Atacama, no Chile, isolou as emissões de rádio da mesma região. Juntando os dados dos dois instrumentos, a equipe obteve um retrato detalhado da composição química do local, confirmando a presença das moléculas orgânicas congeladas.
O que isso significa para a busca por vida
Calma lá, não estamos falando de extraterrestres ainda! Mas essa descoberta amplia bastante o campo da astrobiologia. Se moléculas orgânicas complexas podem surgir em ambientes tão distantes e adversos, isso indica que os ingredientes básicos da vida podem ser mais frequentes do que pensávamos. Esses compostos podem viajar em cometas e asteroides, contaminando planetas jovens e fornecendo a “faísca química” para o nascimento da vida. Essa ideia é chamada de panspermia, e, apesar de estar em debate, a nova descoberta dá um bom empurrão a favor dela.
Um olhar para o passado do universo
Além de levantar questões sobre a vida, o estudo também ajuda a entender a química do universo primitivo. A Grande Nuvem de Magalhães possui uma concentração de metais baixa, parecida com as galáxias de épocas antigas. Observar a formação de moléculas complexas lá é como abrir uma porta para o passado e ver como a matéria se organizava há bilhões de anos.
De acordo com Maria Drozdovska, pesquisadora do Instituto Max Planck de Astronomia, estamos testemunhando o mesmo processo que aconteceu quando o universo tinha apenas alguns bilhões de anos. Isso indica que a química que pode dar origem à vida pode ter começado muito antes do que a gente imaginava.
Essa descoberta é um grande passo para entender o universo e a possibilidade de vida fora da Terra. Ela abre portas para novas pesquisas e questionamentos que podem mudar a forma como vemos a origem da vida em nosso planeta e em outros lugares. O futuro da exploração espacial promete muitas surpresas, e essa é apenas uma delas.


