Indivíduos com predisposição genética para a doença de Alzheimer apresentam alterações nos níveis sanguíneos que indicam danos nas conexões neuronais até 11 anos antes de os sintomas de demência aparecerem. Isso pode ser notado nos níveis da proteína “beta-sinucleína”. Um time de pesquisa internacional, incluindo cientistas de instituições renomadas, trouxe esses dados à tona. O biomarcador estudado pode ajudar na detecção precoce da neurodegeneração, possibilitando um momento adequado para iniciar o tratamento.
Atualmente, novas medicações para tratamento da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, estão sendo lançadas no mercado. Esses “anticorpos amiloides” ajudam a remover depósitos pequenos do cérebro e podem atrasar a progressão da doença. Contudo, é importante que o tratamento comece nos estágios iniciais. “O diagnóstico precoce se torna cada vez mais essencial. Porém, atualmente, o Alzheimer é frequentemente diagnosticado muito tarde. Precisamos avançar nas técnicas de diagnóstico para aproveitarmos ao máximo esses novos medicamentos”, afirma um especialista na área.
Por conta disso, a equipe de pesquisa tem estudado a beta-sinucleína há algum tempo. A concentração dessa proteína no sangue reflete o dano neuronal e é fácil de medir. Eles veem nisso um potencial biomarcador para detectar a neurodegeneração precocemente. Isso é reforçado pelos resultados mais recentes do estudo. O uso desse marcador pode ir além do Alzheimer, já que ele indica danos neuronais relacionados a outros problemas, como um AVC. Entretanto, a pesquisa mostra que é mais relevante no contexto da doença de Alzheimer.
Fragmentos das Sinapses
A beta-sinucleína é uma proteína que se encontra principalmente nas regiões onde os neurônios se conectam, conhecidas como sinapses. Essas sinapses, que permitem a troca de sinais entre os neurônios, se deterioram ao longo da doença de Alzheimer. À medida que isso acontece, a beta-sinucleína é liberada e entra na corrente sanguínea, podendo ser detectada em um exame de sangue. Um dos pesquisadores destaca que a degradação sináptica se inicia muito cedo, antes mesmo de qualquer comprometimento cognitivo ser percebido. Isso faz da beta-sinucleína um indicador que sinaliza essa perda antes que os sintomas apareçam. Ou seja, os níveis de proteína no sangue aumentam.
Doença de Alzheimer Familiar
Os resultados do estudo se baseiam em dados da rede de pesquisa DIAN, que foca na forma hereditária do Alzheimer. Essa versão é causada por mutações no DNA e é passada de geração em geração, fazendo com que casos de demência apareçam em famílias. O especialista ressalta que a forma hereditária do Alzheimer é bem rara e pode surgir na juventude ou na meia-idade. No entanto, do ponto de vista patológico, é semelhante à variante esporádica, que é mais comum e geralmente aparece mais tarde na vida. Com as atuais informações, sabe-se que essas mutações quase sempre levam à demência. É possível prever quando os sintomas devem começar, levando em conta a idade em que problemas cognitivos surgiram em parentes mais velhos.
Correlação do Marcador Sanguíneo com a Sintomatologia
No estudo recente, mais de 100 adultos com essas mutações genéticas tiveram o sangue analisado quanto à beta-sinucleína. Eles estavam na faixa de 30 a 40 anos. Durante o estudo, cada participante passou por avaliações de seu desempenho cognitivo. Cerca de um terço teve sinais de demência, enquanto os outros não mostraram sintomas. Em alguns casos, os pesquisadores também conseguiram avaliar a saúde dos participantes usando amostras do líquido cefalorraquidiano e exames de imagem do cérebro. Alguns indivíduos passaram por várias avaliações, permitindo um monitoramento de sua condição ao longo dos anos.
Assim, os dados coletados ajudaram a entender como os níveis de beta-sinucleína mudam com o avanço da doença de Alzheimer. O nível da proteína no sangue começa a aumentar aproximadamente 11 anos antes do esperado surgimento dos primeiros sintomas. Isso quer dizer que já existem sinais iniciais de degradação sináptica. Outras mudanças patológicas no cérebro, que também ocorrem na doença, tendem a acontecer mais tarde. Além disso, após o surgimento dos sintomas, a relação é clara: quanto mais grave for a incapacidade cognitiva, mais altos serão os níveis de beta-sinucleína no sangue. Portanto, esse biomarcador reflete mudanças patológicas em momentos pré-sintomáticos e sintomáticos.
Perspectivas Futuras
Um dos pesquisadores acredita que efeitos semelhantes podem ocorrer também na forma esporádica da doença de Alzheimer. Dada a semelhança com a variante hereditária, essa possibilidade é considerada bastante provável, embora precise ser confirmada em novos estudos. Se isso se confirmar, o biomarcador poderá ser utilizado em diagnósticos fundamentais para confirmar ou descartar casos suspeitos de Alzheimer. E há mais potencial: além da detecção precoce, esse marcador pode ajudar na avaliação da eficácia de uma terapia, verificando se ela está conseguindo retardar a perda sináptica e, assim, a progressão da doença. Tal ferramenta de monitoramento seria valiosa tanto em pesquisas clínicas quanto no tratamento do dia a dia. No futuro, poderemos contar com uma variedade de biomarcadores para avaliar o estado da doença de Alzheimer. A expectativa é que a beta-sinucleína tenha um papel importante nesse contexto.
