As plantas de arroz conseguem lidar com o calor durante o dia, mas à noite, elas precisam de um refresco. A pesquisa para desenvolver variedades de arroz que suportem temperaturas mais altas à noite está se tornando uma prioridade para os criadores.

    Nos Estados Unidos, cerca de 50% do arroz é cultivado no Arkansas, especialmente na região do Delta. O estado abriga cerca de 1,4 milhão de acres plantados com essa cultura, que é alimento básico para mais da metade da população mundial. Esses dados são importantes para entender a relevância do arroz na alimentação global.

    Os criadores de arroz têm tentado incorporar genes que conferem tolerância ao calor noturno nas variedades cultivadas em Arkansas, mas essa tarefa não é fácil. Vibha Srivastava, professora do Departamento de Biotecnologia de Plantas da Universidade de Arkansas, destaca que os pesquisadores estão começando a explorar essa área e já têm feito avanços significativos, com resultados promissores.

    Uma outra abordagem que pode ser considerada é a edição genética, que é diferente da modificação genética comum, pois não envolve a inserção de sequências de DNA de outros organismos. Srivastava está explorando essas possibilidades em um artigo de revista, onde discute como essas técnicas podem ajudar a desenvolver arroz resistente ao calor noturno.

    O artigo em questão também tem a colaboração de Christian De Guzman e Samual B. Fernandes, ambos da Estação Experimental Agrícola de Arkansas. Juntos, eles discutem as melhores práticas e técnicas de criação de arroz para lidar com as temperaturas elevadas durante a noite.

    Esse artigo é o primeiro a reunir toda a literatura científica sobre a tolerância ao calor noturno no arroz, o que é uma grande contribuição para o campo. Além disso, já houve informações sobre esses desafios publicadas em estudos anteriores, que se concentram na resposta do arroz ao calor da noite.

    Recentemente, os pesquisadores receberam um financiamento federal de quase 586 mil dólares por quatro anos para investigar e criar arroz que suporte essas temperaturas elevadas noturnas. O artigo publicado na revista traz detalhes sobre as informações coletadas para essa proposta de financiamento.

    Durante a floração e o preenchimento do grão, o arroz é mais sensível ao calor noturno do que ao calor diurno. Em termos gerais, a temperatura ideal para o cultivo do arroz varia de acordo com a localidade, porém a maioria das variedades é sensível a temperaturas noturnas acima de 28°C.

    Temperaturas mais altas durante a noite podem levar a perdas significativas na produção do grão e na qualidade, resultando em uma característica chamada “chalkiness”, que é indesejada e afeta negativamente tanto a moagem quanto o sabor do arroz.

    Estudos recentes mostram que o estresse causado pelo calor noturno pode resultar em até 90% de perda na produção, além de aumento significativo na chalkiness. Srivastava destaca que os mecanismos genéticos que levam à suscetibilidade ao estresse noturno ainda não estão totalmente claros, mas já se sabe que um aumento na taxa de respiração durante a noite afeta o crescimento das plantas.

    Atualmente, não existem variedades modernas de arroz nos Estados Unidos que resistam a temperaturas elevadas durante a fase reprodutiva. Entretanto, existe uma variedade indiana chamada Nagina 22 que possui boa tolerância ao calor noturno. Quando testada em Arkansas, ela apresentou algumas características indesejáveis, como grãos pequenos e alta chalkiness.

    Apesar de Nagina 22 ter potencial, ao ser cruzada com variedades modernas, as características desejáveis ainda não foram completamente aproveitadas, já que os genes dessa resistência não foram identificados. Srivastava aponta que, até que isso seja feito, a edição genética pode ser uma alternativa para melhorar as características da Nagina 22 e seus híbridos.

    Alguns programas de melhoramento de arroz em Arkansas também estão desenvolvendo linhagens que podem ser testadas na edição genética, desde que mostrem melhora em relação ao rendimento e à chalkiness após o estresse noturno.

    Entretanto, um dos desafios ao trabalhar com Nagina 22 é reduzir ainda mais a chalkiness, que é a característica indesejada. A pesquisa sobre o DNA do arroz, especialmente a região chamada Chalk5, pode abrir caminhos interessantes para melhorar a qualidade do grão.

    O objetivo final dos pesquisadores é aumentar a produção do arroz, além de melhorar seu sabor, mas a qualidade do produto final é um fator crucial na pesquisa. Por isso, todas as abordagens buscam equilibrar esses aspectos.

    Pesquisas nacionais e regionais mostram uma tendência de aquecimento à noite nos Estados Unidos. Um relatório recente indicou que as temperaturas noturnas estão se elevando mais rapidamente que as temperaturas diurnas.

    Com os desafios climáticos, a necessidade de adaptar o cultivo do arroz para essas novas condições se torna ainda mais evidente. O avanço na pesquisa genética pode ser uma chave para garantir que o arroz continue a ser um alimento essencial no futuro.

    Em resumo, à medida que as noites ficam mais quentes, é fundamental que o setor agrícola encontre maneiras de adaptar as culturas de arroz. A investigação e o desenvolvimento de novas técnicas de melhoramento podem ajudar a garantir a segurança alimentar para as próximas gerações.

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