A pesquisa sobre uma nova terapia para câncer, que faz o sistema imunológico atacar tumores, mostra que esse tratamento pode aumentar o risco de infarto e derrame nos pacientes. Essa questão surge porque a terapia pode afetar a regulação do sistema imunológico nos principais vasos sanguíneos do coração.
Essa investigação foi liderada por pesquisadores da NYU Langone Health e do Perlmutter Cancer Center. Eles se concentraram em um grupo de medicamentos chamado inibidores de pontos de verificação imunológica. Esses remédios bloqueiam moléculas que normalmente controlam a atividade do sistema imunológico, evitando reações excessivas e inflamações.
Os tumores conseguem roubar esses pontos de verificação para enfraquecer as defesas do corpo. Assim, ao bloquear esses pontos, o tratamento permite que o sistema imunológico ataque e destrua as células tumorais. No entanto, esse processo pode gerar inflamações prejudiciais em órgãos como coração, cérebro e estômago.
Estudos anteriores mostraram que cerca de 10% das pessoas com aterosclerose, que é o acúmulo de placas de gordura nas artérias, sofrem um infarto ou derrame após o tratamento para câncer. Entretanto, as razões exatas para isso não estavam claras até esse estudo.
Para entender melhor o que acontece, os pesquisadores analisaram como os inibidores de pontos de verificação imunológica interagem com as células do sistema imunológico nas placas arteriais. A análise genética demonstrou que os mesmos pontos de verificação atacados pelos tratamentos contra câncer também aparecem nas células imunológicas das artérias.
Um dos autores do estudo, Chiara Giannarelli, destaca que as descobertas mostram como um remédio para câncer pode provocar uma resposta imunológica excessiva nas artérias, aumentando o risco de doenças cardíacas. Ela alerta que pacientes com câncer e seus médicos devem estar atentos a novos problemas cardíacos após a terapia.
O estudo, publicado em uma revista médica, analisou a atividade genética de milhares de células imunológicas retiradas de placas de 50 pacientes que estavam fazendo um procedimento cirúrgico devido à aterosclerose. Essa análise foi feita para entender melhor a interação entre o tratamento e as células do coração.
Além disso, a pesquisa também investigou como o diabetes tipo 2, que é um fator de risco conhecido tanto para o câncer quanto para doenças cardíacas, pode tornar os pacientes com aterosclerose mais vulneráveis aos efeitos negativos dos inibidores. A equipe avaliou a atividade dos pontos de verificação em tecidos arteriais de oito pacientes diabéticos e de quatro voluntários saudáveis. Ninguém tinha histórico de aterosclerose.
Os resultados mostraram que os pacientes diabéticos apresentavam menos comunicação entre os pontos de verificação, o que pode levar a uma inflamação maior. Outros experimentos indicaram que o uso de inibidores dificulta o combate à aterosclerose.
Normalmente, médicos recomendam dietas com baixo teor de gordura para reduzir o acúmulo de placas e inflamações. Os experimentos com roedores confirmaram que essas dietas melhoram a comunicação entre os pontos de verificação nas artérias. Porém, os pacientes com câncer podem enfrentar um desafio, pois os medicamentos bloqueiam esses mesmo pontos, anulando os benefícios anti-inflamatórios das dietas.
Giannarelli argumenta que câncer, diabetes e doenças cardíacas não são problemas isolados, e é importante considerar como o tratamento de uma condição pode afetar as outras. Agora que há uma melhor compreensão da relação entre essas doenças, especialistas podem começar a explorar novas estratégias para reduzir os riscos de problemas de saúde causados pelo tratamento.
Moore, que também participou do estudo, alerta que a pesquisa não avaliou diretamente o comportamento dos pontos de verificação em pacientes com câncer, mas planos para investigações futuras já estão em andamento.
Os financiamentos para essa pesquisa vieram de várias instituições, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde e a Associação Americana do Coração, entre outros. O trabalho conta com a colaboração de vários pesquisadores da NYU Langone e de outras instituições.
No total, os pesquisadores envolvidos na pesquisa apontam a necessidade de continuar estudando esses fatores e como eles se interconectam. Essa abordagem poderá abrir novas portas para tratamentos mais seguros e eficazes no futuro. A prevenção e o monitoramento são essenciais, especialmente para pacientes com um histórico de saúde que os coloca em risco.
