O Relógio de Sol em Goiás: Um Estilo de Vida Voltado para a Natureza

    Um casal em Goiás decidiu adotar um estilo de vida que rejeita totalmente o uso de relógios e calendários modernos, abrindo mão também da tecnologia, como eletricidade e mídias digitais. Essa escolha vai além de simplesmente viver de forma sustentável; trata-se de uma maneira de redefinir o tempo em suas vidas, movendo-se dos padrões tradicionais impostos pela sociedade para os ciclos da natureza, como a luz do sol e as fases da lua.

    Esse experimento no Cerrado é uma busca por autossuficiência e bem-estar psicológico. Ao optar por não seguir o tempo cronológico, que rege a vida cotidiana com prazos e obrigações, o casal redireciona sua atenção para o que chamam de “tempo vivido”, que é informado pelas mudanças nas estações e pelas fases da lua.

    Mudança de Paradigma

    Essa decisão de eliminar relógios e calendários se insere em um movimento global maior conhecido como “Slow Living”, que valoriza uma vida mais tranquila e menos apressada. No entanto, o casal leva essa filosofia a um passo radical, buscando o que chamam de “soberania temporal total”. Para eles, o tempo não é mais uma questão de medições precisas, mas sim de saber identificar o “momento certo” para realizar as atividades, uma prática que altera a forma de ver o cotidiano.

    A mudança significa deixar de lado a pressão do tempo linear, como o “Chronos”, para abraçar um tempo mais qualitativo, denominado “Kairos”. Essa nova perspectiva se concentra em viver o presente de maneira plena, em sintonia com a natureza.

    A Bússola Temporal do Gnômon

    Para medir o tempo, o casal usa um relógio de sol, ou gnômon, que mostra as horas através da sombra projetada pelo sol. Esse meio, no entanto, não é considerado um instrumento de precisão, mas sim um guia para ajudá-los a alinhar suas atividades com os ciclos naturais. Com isso, eles buscam não a exatidão, mas sim a sintonia com o que chamam de “tempo cíclico”, onde as horas podem ser desenhadas pela observação da luz e das sombras.

    Rejeição ao Tempo Moderno

    Ao se afastar do relógio e dos padrões da sociedade moderna, o casal busca escapar da “tirania do Chronos”, que frequentemente gera estresse devido à obrigação constante de cumprir prazos. Sem essa pressão externa, eles se sentem mais livres para viver o presente, longe das urgências que geralmente nos cercam na vida cotidiana.

    Agricultura Baseada na Lua

    Esse estilo de vida também reflete uma abordagem agrícola fundamentada nos ciclos naturais, especialmente os da lua e as estações do Cerrado. O casal utiliza o calendário lunar como guia para suas atividades no campo, acreditando que as fases da lua influenciam o crescimento das plantas. Por exemplo, na lua crescente, eles plantam vegetais que crescem acima do solo, enquanto a lua nova é ideal para tubérculos e raízes.

    Desafios da Desconexão

    Viver sem tecnologia exige uma reestruturação total de suas rotinas diárias. Como se abastecer de água e lidar com outras necessidades sem o uso de eletricidade? O casal encontrou soluções manuais e utiliza a gravidade para gerenciar seus recursos. Eles fazem uso de sistemas simples, como arames e roldanas, para simplificar tarefas cotidianas, sendo sempre autossuficientes.

    O Preço da Ignorância

    Ao se afastarem das notícias e da tecnologia, eles criaram um “vácuo informativo”, que traz tanto benefícios quanto riscos. A eliminação do consumo de informações da mídia reduz a ansiedade causada pela enxurrada de notícias. Entretanto, viver assim também aumenta a vulnerabilidade a emergências, pois eles podem ficar sem informações críticas sobre doenças ou mudanças climáticas.

    Reflexão Final

    A experiência do casal em Goiás propõe uma nova forma de encarar o tempo e a vida. Embora seu estilo possa parecer distante da realidade moderna, ele levanta questões importantes sobre a maneira como nós, como sociedade, percebemos e medimos nosso tempo. O que fica claro é que é possível viver de maneira mais simples e menos apressada, utilizando ciclos naturais como guia e desfrutando de um tempo que prioriza o momento presente.

    Essa proposta pode nos levar a refletir: até que ponto a preocupação com o tempo é autocausada e quanto de estresse poderíamos evitar ao adotar um ritmo mais natural de vida?

    Share.