Uso de Aspirina em Pacientes com Diabetes Tipo 2
Um estudo preliminar aponta que pessoas com diabetes tipo 2 (DT2) e risco aumentado de doenças cardiovasculares (DCV) que tomaram aspirina em baixa dose tiveram menos chances de enfrentar eventos graves cardiovasculares, como infarto, derrame ou óbito. Esses dados serão apresentados nas sessões científicas da Associação Americana do Coração em 2025.
Os pesquisadores perceberam que, em estudos recentes, a aspirina não mostrou benefícios em pessoas sem doenças cardiovasculares já estabelecidas. No entanto, o diabetes tipo 2 é um fator importante de risco para tais doenças.
Os autores da pesquisa, liderados pela doutora Aleesha Kainat, mencionaram seu interesse em entender melhor o uso da aspirina em adultos com diabetes tipo 2 que apresentam risco moderado a alto para DCV, um grupo que pode não ter sido incluído em ensaios anteriores.
Metodologia do Estudo
Os pesquisadores examinaram dados de saúde eletrônicos de mais de 11.500 adultos ao longo de uma década. Todos já tinham sido diagnosticados com diabetes tipo 2 e apresentavam risco moderado a alto de eventos cardiovasculares. Os pesquisadores também consideraram o controle dos níveis de glicose no sangue e a adesão ao uso de medicamentos.
Kainat ficou surpresa com a magnitude dos resultados. Aqueles que relataram o uso de aspirina em baixa dose apresentaram muito menos casos de infarto, derrame ou óbito ao longo de 10 anos, comparados a aqueles que não usaram o medicamento. O benefício foi maior para os que tomaram a aspirina de forma consistente durante a maior parte do período.
Resultados do Estudo
A análise revelou que:
- Adultos com diabetes tipo 2 que tomaram aspirina em baixa dose tiveram 42,4% menos infartos do que os que não tomaram (61,2%).
- O risco de derrame foi menor no grupo que usou aspirina (14,5%) em comparação ao que não usou (24,8%).
- A taxa de óbitos por qualquer causa em 10 anos foi de 33% entre os que usaram aspirina, em contraste com 50,7% dos que não usaram.
- O uso da aspirina foi associado à redução do risco de eventos cardíacos, com benefícios mais significativos nos que tomaram o medicamento mais frequentemente.
Kainat enfatizou que a análise não incluiu pessoas com alto risco de sangramentos. Isso é uma limitação importante, já que o risco de sangramento é uma preocupação ao prescrever medicamentos. Ao decidir o uso da aspirina, é fundamental considerar essa questão individualmente.
Importância dos Resultados
Esse estudo traz informações relevantes para diminuir casos de eventos cardiovasculares graves em pessoas com diabetes tipo 2, uma vez que essas doenças são uma das principais causas de morte neste grupo. O diabetes tipo 2, além disso, é um fator que contribui para o aumento das doenças cardíacas e derrames.
A doutora Amit Khera, que não participou do estudo, mas é especialista no assunto, ressaltou que, apesar de a Associação Americana do Coração não recomendar o uso de aspirina em baixa dose para prevenção primária em adultos com diabetes tipo 2 sem histórico de doenças cardiovasculares, os resultados levantam questões para estudos futuros.
Limitações do Estudo
O estudo tem suas limitações. Trata-se de uma análise observacional, baseada em dados reais de registros médicos, e não em ensaios clínicos. Isso significa que não é possível afirmar que o uso da aspirina previne diretamente eventos cardiovasculares. Além disso, o uso de aspirina foi registrado nos prontuários, o que pode não refletir com precisão a frequência real com que as pessoas tomaram o medicamento.
Pode haver outras diferenças entre os grupos que tomaram ou não a aspirina que influenciam os resultados. Kainat salienta a importância de balancear os benefícios e os riscos da aspirina, especialmente para pessoas com maior risco de sangramento.
Conclusão
A pesquisa destaca a necessidade de mais investigações para avaliar os benefícios da aspirina em pessoas com diabetes tipo 2, especialmente em conjunto com novos tratamentos que estão sendo desenvolvidos. Isso é essencial à medida que novos medicamentos para diabetes e doenças cardíacas surgem no mercado.
Detalhes do Estudo
- O uso de aspirina foi avaliado com base na frequência registrada nos prontuários médicos durante cerca de oito anos.
- A pesquisa incluiu registros de 11.681 adultos com diabetes tipo 2 que apresentavam riscos moderados a altos segundo o escore de risco cardiovascular.
- A média de idade dos participantes foi de 61,6 anos, com uma distribuição quase igual de homens e mulheres.
- Pessoas com risco elevado de sangramento foram excluídas do estudo.
Contexto Geral
Infartos e derrames são causas significativas de morte nos EUA, com muitos indivíduos com diabetes tipo 2 enfrentando esses riscos. Mais da metade da população adulta americana tem diabetes tipo 2 ou pré-diabetes, o que destaca a relevância do tema.
Embora a aspirina seja um anticoagulante e usada para reduzir o risco de DCV, a diretriz da Associação Americana do Coração recomenda seu uso principal em casos já estabelecidos de doenças cardíacas ou derrames.
Na prevenção primária, o uso de aspirina pode ser considerado para adultos de 40 a 70 anos em risco mais elevado, mas sem risco aumentado de sangramentos. O uso em pessoas diabéticas ainda não está bem estabelecido.
Em suma, os resultados dessa pesquisa abrem novas possibilidades para entender como a aspirina pode desempenhar um papel na saúde de pessoas com diabetes tipo 2 e não devem ser ignorados na discussão sobre estratégias de prevenção para doenças cardiovasculares.
