As graves violências registradas na cidade de El Fasher, no Sudão, podem ser qualificadas como crimes de guerra e contra a humanidade, segundo o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI). Este alerta foi feito na segunda-feira, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) relatava que dezenas de milhares de pessoas estão deixando suas casas devido aos combates na região de Kordofan.
Desde abril de 2023, o Sudão vive um intenso conflito pelo poder entre o general Abdel Fatah al Burhan, comandante do Exército, e o general Mohamed Daglo, líder das Forças de Apoio Rápido (FAR), um grupo paramilitar. Essa luta pelo controle do país se agravou após um golpe de Estado em 2021.
Em outubro, as FAR conseguiram tomar El Fasher, última grande cidade na região de Darfur que ainda estava fora de seu domínio, após 18 meses de cerco e combates. Desde então, múltiplas denúncias de atrocidades têm surgido, incluindo execuções sumárias, violência sexual, ataques a trabalhadores humanitários, saques e sequestros. A procuradoria do TPI expressou grande preocupação com esses relatos.
O conflito agora se expande para Kordofan, uma área estratégica entre Darfur e a capital, Cartum. No último domingo, as FORs paramilitares informaram que concentraram suas tropas ao longo de uma nova frente. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) relatou que mais de 36 mil civis sudaneses foram forçados a abandonar suas casas em Kordofan do Norte em apenas uma semana.
Uma nova avaliação da ONU alertou que a fome se espalha para novas regiões, com destaque para El Fasher e Kadugli, em Kordofan do Sul. O relatório indica que outras 20 áreas em Darfur e Kordofan também estão em risco de crise alimentar.
Moradores de Kordofan do Norte relataram que várias localidades se tornaram alvos militares, com o Exército e as FAR lutando pelo controle da cidade de El Obeid, a capital da região. Suleiman Babiker, um residente, comentou que, após a tomada de El Fasher, o número de veículos das FAR aumentou consideravelmente. Ele também destacou que os moradores agora evitam ir aos campos para trabalhar devido ao medo dos confrontos.
Outro habitante, que preferiu não se identificar, também notou um aumento no número de veículos e equipamentos militares nas proximidades de El Obeid nas últimas semanas.
Além disso, Martha Pobee, secretária-geral adjunta da ONU para a África, alertou que Kordofan poderá ser o próximo foco das operações militares. Ela denunciou “grandes atrocidades” e represálias étnicas cometidas pelas FAR, enfatizando a semelhança entre a violência atual e a que ocorreu em Darfur.
A ONU informou que pelo menos 50 civis, incluindo cinco voluntários do Crescente Vermelho, foram mortos em recentes episódios de violência em Kordofan do Norte. O conflito no Sudão já resultou na morte de dezenas de milhares de pessoas e forçou quase 12 milhões a deixarem suas casas, configurando a pior crise humanitária do mundo, de acordo com a ONU.
