A canção “O Tempo Não Para”, lançada em 1988, é um dos grandes marcos da música brasileira. Escrito por Cazuza em um período delicado de sua vida, quando descobriu ser portador do HIV, o tema da música combina uma confissão íntima, um protesto social e o retrato de uma geração marcada pelo desencanto.
Nos primeiros versos, Cazuza expressa suas dores e angústias de forma contundente e direta. Ele canta sobre suas experiências e sentimentos, utilizando uma linguagem que ressoa com muitos:
*”Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara.”*
Essas palavras revelam um sentimento de revolta e impotência. A imagem do “disparo contra o sol” ilustra a luta do cantor contra forças que parecem inatingíveis. O sol aqui pode simbolizar o destino, a sociedade e questões pessoais, como a doença. Atirar contra algo impossível, como o sol, demonstra uma rebeldia sem esperança de resultados, mas que é necessária para expressar sua frustração.
Cazuza transforma suas mágoas em letras, usando a arte como uma forma de resistência. Em vez de munição, ele dispara sentimentos, ironias e críticas. Essa forma poética é um reflexo do seu jeito de encarar o mundo: a música como uma arma para enfrentar as adversidades.
A mensagem também possui um lado trágico, pois o ato de “disparar” denota fragilidade e uma batalha contra uma realidade que parece impossível de mudar. O personagem da canção está ciente de suas limitações, lutando contra uma correnteza que não pode controlar. Esse reconhecimento de vulnerabilidade está presente na declaração de que ele é “um cara”, longe de ser um herói invencível.
Portanto, o “disparo contra o sol” se torna um símbolo de resistência e de luta, mesmo quando as chances parecem mínimas. É um grito de alguém que se recusa a ficar em silêncio, mesmo diante da sensação de derrota.
A música, em sua totalidade, representa uma crítica a uma sociedade que muitas vezes marginaliza e rejeita. Cazuza coloca-se em uma posição de ataque, direcionando sua indignação para o mundo ao seu redor e, por vezes, para si mesmo. Essa canção continua a reverberar nas almas e mentes de quem a ouve, denunciando injustiças e expressando os sentimentos de uma geração que enfrenta seus próprios desafios.
