Na última semana, uma ação policial no Rio de Janeiro resultou em um dos dias mais sangrentos da história recente do país. A megaoperação, chamada Operação Contenção, ocorreu nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, mobilizando cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar. O objetivo da operação era conter o avanço do Comando Vermelho (CV) e cumprir mais de 100 mandados de prisão relacionados a integrantes da facção.
O saldo da operação foi alarmante: 121 pessoas morreram, um número que supera o que ocorreu no Massacre do Carandiru, em 1992. A repercussão da ação foi imediata, provocando debates sobre as consequências da violência nas comunidades, principalmente nas favelas. Além das perdas humanas e materiais, os moradores têm de lidar com um clima de medo, insegurança e tensão, que afetam diretamente sua saúde mental e bem-estar.
### Os Efeitos do Medo no Corpo e na Mente
A constante ameaça de violência transforma a maneira como o corpo humano reage ao ambiente. O organismo, em situação de estresse, ativa um estado de alerta permanente, como se o perigo estivesse sempre presente, mesmo em momentos de aparente calmaria. Essa resposta automática faz com que o sistema nervoso permaneça ligado, liberando hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina. Quando esse ciclo não é interrompido, a qualidade do sono é afetada, o apetite muda e surgem sinais de cansaço físico e emocional.
Especialistas afirmam que a exposição repetida à violência mantém o cérebro em um estado de alerta constante, o que pode resultar em problemas de memória, atenção e regulação emocional.
### Impactos a Longo Prazo: Depressão e Ansiedade
A convivência com a violência pode levar ao desenvolvimento de doenças como a ansiedade, a depressão e o estresse pós-traumático. Crianças e adolescentes expostos a essa realidade podem ter dificuldades de comportamento e desempenho escolar. Para os adultos, o cenário é igualmente preocupante: insônia, sensação de impotência e um cansaço profundo são comuns, refletindo um corpo que não consegue relaxar.
Além disso, a repetição de episódios violentos prejudica a perspectiva de futuro dos moradores. A incerteza em relação à segurança faz com que muitos evitem planejar a vida a longo prazo. Essa pressão emocional, junto com a escassez de acesso a tratamentos adequados, intensifica o sofrimento psicológico nas comunidades.
### Trauma Individual e Coletivo
Os efeitos da violência não se restringem a experiências individuais. O trauma pode ser tanto pessoal, ocorrido ao vivenciar um tiroteio ou perder alguém querido, quanto coletivo, afetando um grupo inteiro. O medo compartilhado altera as relações sociais e enfraquece o senso de comunidade. Mesmo aqueles que não estiveram diretamente envolvidos percebem as consequências em um ambiente marcado pela tensão.
### Desafios no Acesso a Cuidados Psicológicos
Buscar ajuda profissional em comunidades vulneráveis pode ser um desafio. Muitos evitam procurar tratamento por medo do estigma social, falta de tempo ou a ideia de que é preciso lidar com os problemas sozinho. Como resultado, sintomas de ansiedade e estresse se tornam vistos como normais na rotina.
Ainda que haja disposição para buscar tratamento, o acesso frequentemente se mostra limitado. A alta demanda e a escassez de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) dificultam um acompanhamento adequado para aqueles que sofrem com problemas de saúde mental. Essa interrupção nos cuidados pode agravar os sintomas e prolongar o ciclo de adoecimento.
A realidade de comunidades afetadas pela violência ressalta a urgência de abordar as questões de saúde mental de forma mais abrangente, criando espaços seguros para que as pessoas possam expressar e trabalhar suas experiências.
