Nos últimos anos, a saúde mental se tornou um tema relevante nas discussões sobre gestão nas empresas. Este assunto ganhou destaque em plataformas como LinkedIn, em campanhas internas, episódios de podcasts e colaborações com startups. No entanto, uma pergunta importante surge: as empresas realmente consideram a saúde mental como parte fundamental de sua estratégia e cultura, ou apenas a veem como um benefício promocional?
Muitas organizações se preocupam em oferecer serviços de terapia para se promoverem, mas sem um investimento consciente na transformação das condições de trabalho. Há exemplos de parcerias que são superficiais e que não são divulgadas de maneira eficaz. Isso pode fazer com que os colaboradores não tenham acesso adequado aos serviços, seja devido a barreiras financeiras ou operacionais. A consequência é que essas iniciativas acabam sem a adesão esperada, mas depois ainda são celebradas como conquistas. Esse comportamento é conhecido como “mental health washing”, uma expressão que descreve ações que não têm impacto real.
A realidade é que, quanto maior o número de pessoas em terapia, melhor é o ambiente de trabalho. Isso está relacionado à redução do absenteísmo, do presenteísmo (quando o trabalhador não está totalmente presente, mesmo estando no trabalho) e dos custos com planos de saúde. Equipes mais equilibradas, lideranças mais atentas e ambientes mais seguros são algumas das vantagens trazidas por uma atenção verdadeira à saúde mental.
Entretanto, muitos locais de trabalho ainda adotam uma abordagem quase intencional de ocultar seus programas de apoio psicológico. Esses programas podem estar disponíveis, mas, na prática, são difíceis de acessar. Além disso, muitas empresas delegam a responsabilidade pelo cuidado da saúde mental ao colaborador, achando que apenas disponibilizar um benefício é suficiente.
Em um país onde muitos recebem um salário mínimo, exigir coparticipação ou que o colaborador pague integralmente pela terapia é equivaler a não oferecer nada. Essa situação coloca o cuidado da saúde mental em disputa com necessidades básicas, como alimentação.
Os números evidenciam um quadro preocupante: em 2024, mais de 472 mil pessoas precisaram se afastar do trabalho devido a transtornos mentais, e a previsão é que esse número ultrapasse meio milhão até o final do ano. De acordo com dados de um censo sobre saúde mental, o presenteísmo atinge 31% nas empresas do país. A rotatividade de funcionários é alta, e os custos com planos de saúde crescem.
Apesar desse cenário alarmante, algumas organizações ainda veem a saúde mental como um benefício secundário, em vez de reconhecer sua importância como uma estrutura essencial para proteção, produtividade e sustentabilidade empresarial.
A saúde mental deve ser considerada parte da gestão de riscos, um dos pilares da responsabilidade social e uma obrigação legal estabelecida nas Normas Regulamentadoras NR-1 e NR-17. Ela também representa um compromisso ético com todos que contribuem para o funcionamento da empresa.
Enquanto algumas empresas oferecem acesso real a serviços de saúde mental, capacitarem seus líderes e utilizam dados para melhorar suas práticas, outras apenas disponibilizam aplicativos com funcionalidades limitadas, sem incentivar o uso. Portanto, a questão que permanece é: sua empresa está mais preocupada em parecer que se importa ou em realmente cuidar de seus colaboradores?
