A História das Bruxas: Mulheres na Mira do Medo e da Intolerância

    A figura da bruxa é um tema recorrente em contos e mitos de diversas culturas pelo mundo. Geralmente representada como uma mulher malvada, velha e com nariz adunco, a bruxa simboliza o lado obscuro da presença feminina. Essa representação sugere que as bruxas têm um poder incontrolável e aterrorizante.

    Entretanto, a origem da bruxa é muito menos tenebrosa. Inicialmente, aquelas que hoje consideramos bruxas eram, na verdade, curandeiras e figuras respeitadas em suas comunidades. Essas mulheres desempenhavam papéis essenciais, ajudando com curas, partos e outras práticas sagradas. Elas eram conhecidas como sábias, e seu conhecimento era valorizado.

    A História das Bruxas Desde os Tempos Bíblicos

    De acordo com estudiosos, a ideia de bruxaria existe desde que a humanidade começou a lidar com doenças e desastres. No Oriente Médio, antigas civilizações não apenas veneravam deusas femininas poderosas, mas também confiavam a mulheres a execução de rituais sagrados. Essas sacerdotisas, por sua sabedoria e habilidades, eram cruciais em momentos difíceis.

    Essas sábias eram chamadas para curar doenças, ajudar partos e resolver problemas de fertilidade. Elas eram vistas como figuras positivas, essenciais para a sociedade. Por isso, a pergunta que surge é: como a imagem benéfica dessas mulheres se transformou na figura maligna que conhecemos?

    Alguns estudiosos acreditam que essa mudança ocorreu com a expansão dos povos indo-europeus, que trouxeram uma cultura guerreira e de adoração a deuses masculinos. Outros apontam que, com a chegada dos hebreus em Canaã, uma visão monoteísta e patriarcal começou a prevalecer, considerando a bruxaria como algo perigoso e proibido.

    A Transformação da Bruxa em Símbolo do Mal

    Centenas de anos depois, a desconfiança em relação às bruxas chegou à Europa. No século 14, com a Peste Negra matando um terço da população, a insegurança aumentou. As pessoas atribuíram suas desgraças ao Diabo e aos seus supostos seguidores. A Inquisição Católica, que já existia, intensificou suas ações contra essas “bruxas”.

    Essas mulheres eram acusadas de participar de rituais obscuros, onde práticas consideradas imorais, como danças nuas e orgias, supostamente aconteciam. Para proteger a Igreja, era necessário dominar essas mulheres, tornando-se alvo de um sistema de perseguição.

    Nessa época, dois inquisidores católicos escreveram um livro essencial para a caça às bruxas: o Malleus Maleficarum. Esse manual ajudou caçadores de bruxas a identificar e punir aquelas que eram vistas como vulneráveis e, portanto, mais suscetíveis ao Diabo. O texto afirmava que toda a bruxaria tinha origem em desejos carnais das mulheres.

    As descrições vívidas desse manual alimentaram a perseguição por mais de 200 anos, e sua popularidade rivalizava com a da Bíblia. O interessante é que, apesar de já existirem outros manuais sobre caça às bruxas, este foi o primeiro a associar bruxaria a um gênero específico.

    Caçadas às Bruxas: Um Instrumento de Misoginia

    No final do século 17, a histeria em torno da caça às bruxas atingiu seu ápice na Europa. Países como a França e a Alemanha foram os mais afetados. A cidade de Würzburg, na Alemanha, se destacou como o local mais violento de perseguição, onde centenas de mulheres foram condenadas à morte.

    Estudos recentes revelam que, em algumas cidades, não havia mais mulheres devido à quantidade de execuções. Milhares foram presas, e sob tortura, qualquer marca no corpo era suficiente para levar uma mulher à forca. As torturas eram brutais, e a Igreja utilizava dispositivos de dor para forçar confissões.

    Durante essas sessões, o Malleus Maleficarum alertava os torturadores a não olhar nos olhos das acusadas para não serem seduzidos por seu poder maligno. Quando esses horrores terminaram, cerca de 60 mil pessoas haviam sido mortas na Europa.

    A Caçada às Bruxas na América

    Nos Estados Unidos, a caça às bruxas mais famosa ocorreu em Salem, Massachusetts. No século 17, a região enfrentava tensões, como guerras com nativos, disputas de terra e divisões religiosas. Esse ambiente contribuiu para o clima de histeria.

    Os julgamentos de Salem começaram em 1692, após duas meninas, Elizabeth e Abigail, afirmarem ter visto uma visão aterradora. Sob pressão, elas apontaram para três mulheres como bruxas: Tituba, uma escrava; Sarah Good, uma mendiga; e Sarah Osborne, uma viúva.

    A histeria rapidamente se espalhou, resultando em mais de 200 pessoas acusadas, 27 condenadas e 19 mortas. O fim dos julgamentos aconteceu quando membros influentes da comunidade foram acusados, levando os líderes a encerrar a perseguição.

    As confissões das meninas podem ter sido uma forma de buscar liberdade em uma sociedade opressiva. A simples tensão da vida em Salem levou a esse clamor por atenção.

    Um Renascimento da Bruxaria com o Wicca

    Com o passar do tempo, a imagem da bruxa foi se transformando. Inspirações da história violenta e marginais serviram para referência em fantasias e movimentos culturais. No entanto, houve também um renascimento espiritual que deu origem ao Wicca.

    Em 1921, a arqueóloga britânica Margaret Murray publicou um livro onde defendia que a bruxaria não era apenas uma prática obscura, mas uma força religiosa significativa. Embora suas teorias tenham sido contestadas, o trabalho de Murray reacendeu um interesse nas bruxas, que durou por séculos.

    O Wicca, que significa “artesanato dos sábios”, celebra práticas antigas com ervas e elementos naturais para promover cura, amor e harmonia, sempre respeitando o princípio de não causar mal a ninguém.

    Conclusão

    A história das bruxas reflete os desafios que as mulheres enfrentaram ao longo do tempo em um mundo dominado pelo patriarcado. Embora a figura da bruxa tenha sido vilificada, ela também representa força, resistência e poder feminino. Assim, a narrativa das bruxas continua a ser um importante símbolo nas discussões sobre gênero e poder na sociedade moderna.

    Share.