A História de Desmond Doss, o Herói Nacional
Durante a Batalha de Okinawa, em maio de 1945, o médico do exército e objetor de consciência Desmond Doss salvou cerca de 80 soldados — tudo isso sem estar armado. A história dele, retratada no filme Hacksaw Ridge, é ainda mais inspiradora do que parece.
Desmond Doss era um cristão devoto e membro rigoroso da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ele seguia à risca o mandamento “não matarás”, o que o tornou um objetor de consciência durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, seu patriotismo o levou a se alistar no Exército dos EUA como médico.
Durante o treinamento básico, Doss se recusou a tocar em armas. Isso não o fez muito popular entre seus companheiros, que o viam como um risco em meio ao conflito. Contudo, Doss surpreendeu a todos com sua bravura. Em 1944, ao desembarcar em Guam, ele levou sua Bíblia para o campo de batalha e tratou feridos sob fogo inimigo, recebendo uma Estrela de Bronze por sua coragem.
Quando Doss e seu regimento chegaram a Okinawa, seus colegas já não o viam mais como um fardo. Eles estavam contentes por tê-lo ao lado deles na temida “Hacksaw Ridge”.
Desmond Doss: O Objetor de Consciência e Herói de Guerra
Desmond Doss nasceu em Lynchburg, Virginia, em 1919. Desde pequeno, sua vida era guiada por fortes crenças religiosas que o levavam a rejeitar a violência. Além disso, ele se abstinha de trabalhar aos sábados, o que o colocou em conflito com a rigidez militar.
Em 1942, quando foi convocado, não tentou se isentar, pois acreditava ser uma honra servir ao país. Doss afirmou, em uma entrevista de 1987, que não queria tirar vidas, mas defendia seu direito de servir do jeito que acreditava ser certo.
Sua recusa em carregar armas e seu respeito pelo sábado causaram deboches entre os soldados. Ele sofreu com o que começou como uma brincadeira, mas rapidamente se transformou em assédio. O diretor que fez um documentário sobre Doss, Terry Benedict, comentou que muitos o viam como um fracassado que não deveria estar no exército.
Mesmo assim, Doss não se deixou abalar. Ele afirmou a seu comandante, o Capitão Jack Glover, que sempre estaria ao seu lado, salvando vidas enquanto outros tiravam. Com o tempo, seus colegas perceberam que a presença de Doss era valiosa.
A Verdade por Trás de Hacksaw Ridge
Em 1944, enquanto servia em Guam e nas Filipinas, Doss provou seu comprometimento com seus companheiros. No entanto, foi durante a Batalha de Okinawa, em maio de 1945, que sua coragem foi realmente testada.
No campo de batalha, Doss corria sob fogo inimigo para socorrer soldados feridos. Ele estava em imenso perigo, já que os soldados inimigos focavam em médicos para desmotivar os combatentes. Sua unidade tinha a tarefa de escalar um penhasco íngreme, conhecido como Maeda Escarpment, onde milhares de soldados japoneses os esperavam.
Com balas voando ao seu redor, Doss se arrastava entre os soldados feridos. O desafio era retornar esses soldados em segurança, sem causar mais ferimentos. Em um momento de inspiração, Doss lembrou-se de um nó que nunca havia feito antes e criou um laço especial. Esse nó o ajudou a descer os feridos do penhasco.
Determinando-se a salvar quantos mais pudesse, Doss pedia a Deus que o ajudasse: “Por favor, ajude-me a resgatar mais um.” Em um período de 12 horas, Doss salvou cerca de 80 homens, incluindo o Capitão Glover, que mais tarde o chamou de “uma das pessoas mais corajosas que já viveram”.
Embora o filme mostre Doss tratando um soldado inimigo, essa cena não é totalmente confirmada. Doss tentou ajudar soldados japoneses feridos, mas, ao ser ameaçado, desistiu.
A Continuação da História
Apesar de ter sobrevivido à Batalha de Hacksaw Ridge quase sem ferimentos, Doss foi gravemente ferido por estilhaços apenas duas semanas depois. Mesmo machucado, ele continuou ajudando outros soldados até que um tiro quebrou seu braço.
Após a guerra, Doss foi recebido como um herói. O Presidente Harry Truman lhe concedeu a Medalha de Honra em 12 de outubro de 1945. Entretanto, sua volta à vida normal não foi fácil. Ele passou mais de cinco anos tratando de tuberculose, que contraiu durante a guerra, e suas lesões o impediram de trabalhar em tempo integral.
Doss dedicou o resto de sua vida a cuidar de sua fazenda e a servir sua comunidade até sua morte em 2006, aos 87 anos. Sua história ganhou nova vida com o lançamento do filme Hacksaw Ridge em 2016, que, em sua maioria, retratou de forma precisa sua trajetória, embora com algumas liberdades criativas.
A Precisão de Hacksaw Ridge
Desmond Doss Jr. comentou que muitos produtores de Hollywood estavam interessados na história de seu pai, mas Doss sempre queria que qualquer filme sobre ele fosse fiel aos fatos. Os diretores do filme, Mel Gibson e Bill Mechanic, também buscavam essa precisão.
Embora tenham feito algumas mudanças, como nas origens do pai de Doss e na linha do tempo de sua vida pessoal, eles queriam contar a verdade de forma interessante. O filme foi aclamado pela crítica, elogiado pela precisão e criticado pela violência.
Mel Gibson comentou que a representação da brutalidade da Batalha de Okinawa tornou a história de Doss ainda mais impactante. No entanto, houve um ponto importante omitido: no dia em que Doss foi ferido, ele ofereceu sua própria maca a um soldado ferido e esperou cinco horas por ajuda, sendo atingido no braço por um atirador japonês.
Apesar das alterações, a história verdadeira por trás de Hacksaw Ridge permanece impressionante e digna de ser contada, mostrando que, em tempos de conflito, a coragem e a compaixão podem surgir de maneiras surpreendentes.
