Abusos Infantís em Creches: O Que Sabemos

    Recentemente, alguns pais têm compartilhado experiências preocupantes sobre casos de abuso entre crianças em creches. Essa situação levanta muitas questões: Quão comum é esse tipo de comportamento? O que acontece e como as creches podem lidar com isso?

    O Que Dizem os Dados?

    Atualmente, não temos números nacionais que acompanhem esses incidentes em creches. O órgão regulador de creches do país fala sobre “incidentes graves”, mas faltam detalhes sobre o que isso realmente envolve. Muitas vezes, isso nem inclui abusos.

    Cada estado e território também registra alegações de comportamento abusivo em crianças pequenas, mas as normas variam muito. Assim, é difícil ter um panorama claro do que está acontecendo.

    Os dados mais confiáveis sobre abuso infantil vêm do Estudo Australiano de Maus-Tratos na Infância de 2023. Neste estudo, 8.503 pessoas com 16 anos ou mais foram entrevistadas sobre suas experiências.

    Dos entrevistados, 28,5% relataram ter sofrido algum tipo de abuso infantil. Especificamente sobre o abuso por parte de outras crianças, os números foram:

    • 10% relataram abuso sexual por outras crianças conhecidas.
    • 2,5% mencionaram abuso por parceiros adolescentes.
    • 1,4% falaram de abuso por adolescentes desconhecidos.
    • 1,6% relataram abuso por irmãos.

    Esses dados foram baseados em adultos lembrando de suas experiências de infância, então pode ser que alguns casos não sejam representados corretamente, especialmente os que aconteceram quando eram bem pequenos.

    O Problema Está Crescendo?

    Embora esteja difícil obter dados precisos, o estudo mencionado sugere que o abuso sexual entre crianças está se tornando mais comum. Entre jovens de 16 a 24 anos, 18,2% relataram abusos por colegas, enquanto 11,7% disseram que sofreram abuso por adultos.

    Esse padrão indica que estamos avançando na redução de abusos praticados por adultos, mas o abuso entre crianças está aumentando.

    Por Que Isso Acontece?

    As razões por trás desse comportamento podem ser vistas tanto do ponto de vista individual quanto situacional. Muitas vezes, crianças que mostram comportamentos prejudiciais podem ter sido expostas a abusos, violência em casa ou conteúdos inadequados, como pornografia. Elas podem estar revivendo ou processando algo que viram ou viveram.

    Além disso, situações que permitem esse tipo de comportamento incluem a falta de supervisão. Em creches, isso pode ocorrer se houver poucos funcionários ou se eles estiverem sobrecarregados, sem o treinamento adequado.

    Como as Creches Podem Reagir?

    Pesquisas indicam que é fundamental criar ambientes seguros para as crianças. Além de garantir supervisão, isso envolve os seguintes aspectos:

    • Todos, incluindo crianças, educadores e pais, precisam entender sobre segurança do corpo (o que é um toque apropriado? Quais são os limites saudáveis?).
    • Todos devem saber reconhecer se algo não está certo.
    • Todos precisam se sentir seguros para conversar sobre suas preocupações.
    • Adultos de confiança devem levar incidentes ou preocupações a sério.

    Com essa abordagem, mesmo que uma criança esteja em risco de machucar outra ou tocar inadequadamente, será difícil que isso aconteça. Assim, cria-se uma cultura que promove interações saudáveis entre as crianças.

    É essencial que, em qualquer ambiente, cada criança sinta que está segura.

    Como as Creches Devem Falar Sobre o Corpo?

    As crianças têm uma curiosidade natural sobre seus corpos e o corpo dos outros. Isso faz parte do crescimento e do aprendizado. Quando uma criança faz algo inapropiado, um bom centro de educação infantil deve lidar com a situação de forma calma.

    Por exemplo, se uma criança disser: “Fiquei estranha porque o Sam me pediu para abaixar as calças”, a educadora deve responder de maneira empática, sem envergonhar ninguém. É uma oportunidade para ensinar que não devemos pedir aos amigos para fazer isso e que podemos dizer não.

    Embora a educação sobre consentimento seja frequentemente associada ao ensino médio, ela deve começar bem antes. Educadores podem auxiliar nesse aprendizado. Por exemplo, ao trocar uma fralda, devem informar a criança: “Você precisa de uma troca de fralda porque fez xixi. Você quer que o Alex ou a Kim façam isso?”.

    Esse tipo de comunicação ajuda as crianças a entenderem que apenas adultos de confiança podem tocar seus órgãos genitais, sempre com respeito e diálogo. Esses pequenos exemplos, repetidos ao longo do tempo, também ajudam os pais a aprenderem sobre comportamentos saudáveis e seguros.

    Não Devemos Demonizar Crianças

    Por fim, é importante não demonizar crianças que mostram comportamentos sexuais prejudiciais. A maioria delas não se torna um agressor na vida adulta. O que elas precisam é de apoio, orientação e supervisão, e não de estigmas ou exclusão.

    Embora algumas creches ou escolas optem por isolar crianças que ferem outras, essa abordagem raramente resolve o problema e pode agravá-lo. Precisamos criar oportunidades para relacionamentos positivos e ajudar as crianças a experimentar formas adequadas de toque, como cumprimentos, abraços e interações respeitosas, sempre sob supervisão de adultos.

    As situações de abuso entre crianças são muito sérias e preocupantes, mas podem ser prevenidas. Com supervisão adequada, educação sobre segurança do corpo desde cedo e respostas empáticas às crianças, podemos protegê-las melhor.

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