O ácido linoleico é uma gordura ômega-6 que está presente em óleos de sementes, como o de soja e girassol, além de produtos de origem animal, como carne de porco e ovos. Pesquisadores da medicina de Weill Cornell descobriram que esse ácido pode ajudar a aumentar o crescimento do câncer de mama do tipo “triplo negativo”, que é difícil de tratar. Essa descoberta pode abrir caminhos para novas estratégias alimentares e medicamentosas no combate ao câncer de mama e outros tipos de câncer.

    No estudo, publicado em 14 de março na revista Science, os cientistas descobriram que o ácido linoleico ativa uma via importante de crescimento nas células tumorais, ligando-se a uma proteína chamada FABP5. Ao comparar os subtipos de câncer de mama, perceberam que essa ativação ocorre nas células tumorais do tipo triplo negativo, que tem altos níveis de FABP5, mas não em outros subtipos que são sensíveis a hormônios. Em modelos de camundongos com câncer de mama triplo negativo, uma dieta rica em ácido linoleico acelerou o crescimento do tumor.

    O Dr. John Blenis, que é professor de pesquisa sobre câncer e autor sênior do estudo, comentou que essa descoberta ajuda a explicar como as gorduras na dieta se relacionam com o câncer. Também possibilita entender melhor quais pacientes poderiam se beneficiar de recomendações nutricionais personalizadas.

    O ácido linoleico, que vem da comida, é considerado essencial para várias funções do corpo em mamíferos. Entretanto, o seu consumo aumentou muito nas dietas ocidentais desde a década de 1950, especialmente com o aumento do uso de óleos de sementes em alimentos fritos e ultraprocessados. Isso levanta preocupações, pois se acredita que o consumo excessivo de ômega-6 possa ser uma das causas do aumento de algumas doenças, incluindo os cânceres de mama. No entanto, muitos estudos anteriores mostraram resultados mistos e não conseguiram encontrar um mecanismo biológico que ligasse os ômega-6 ao câncer.

    Neste novo estudo, os pesquisadores focaram no câncer de mama, relacionado a fatores que podem ser alterados, como a obesidade. Eles investigaram a capacidade dos ácidos graxos ômega-6, especialmente o ácido linoleico, que é o principal na dieta ocidental, de ativar uma via de crescimento importante chamada mTORC1.

    Um achado inicial importante foi que o ácido linoleico, de fato, ativa a mTORC1 em modelos celulares e em animais com câncer de mama, mas apenas nos subtipos triplo negativos. Esse termo se refere à ausência de três receptores, incluindo os de estrogênio, que costumam estar presentes nas células tumorais da mama e que podem ser alvo de tratamentos específicos. Os cientistas descobriram que essa ativação específica acontece porque o ácido graxo poli-insaturado forma um complexo com o FABP5, que é produzido em altas quantidades nos tumores triplo negativos, mas não em outros subtipos. Isso leva à montagem e ativação da mTORC1, que é um regulador fundamental do metabolismo celular e do crescimento das células cancerosas.

    Quando alimentaram camundongos que simulam o câncer de mama triplo negativo com uma dieta rica em ácido linoleico, viram que isso aumentou os níveis de FABP5, ativou a mTORC1 e fez os tumores crescerem mais. Além disso, a equipe também encontrou níveis elevados de FABP5 e ácido linoleico em amostras de tumores e sangue de pacientes recém-diagnosticados com câncer de mama triplo negativo.

    Os resultados mostram que o ácido linoleico pode ter um papel no câncer de mama, mas de maneira mais específica do que se acreditava antes. O estudo também é considerado o primeiro a mostrar um mecanismo específico pelo qual esse ingrediente comum da dieta pode influenciar a doença.

    A descoberta da importância do FABP5 nesse processo sugere que ele pode ser um bom “biomarcador”, ajudando em intervenções nutricionais e terapêuticas mais personalizadas para pacientes com câncer de mama triplo negativo, que atualmente não tem tratamentos direcionados.

    Os pesquisadores ainda estão apenas começando a explorar os efeitos da sinalização ômega-6-FABP5-mTORC1 em outras doenças. No estudo, mostraram que a mesma via pode aumentar o crescimento de alguns subtipos de câncer de próstata.

    O Dr. Nikos Koundouros, primeiro autor do estudo, comentou que pode haver um papel mais amplo para a sinalização FABP5-mTORC1 em outros tipos de câncer e até em doenças crônicas comuns, como obesidade e diabetes.

    Share.