O Brasil vive uma crise de saúde mental, com um aumento significativo de afastamentos no trabalho por transtornos mentais. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), entre 2022 e 2024, esse tipo de afastamento cresceu 134%. Especialistas alertam sobre a importância de reconhecer os sinais iniciais de problemas psicológicos e de buscar ajuda quando necessário.
O psicólogo e professor da PUC-Rio, Matheus Karounis, afirma que fatores como a sobrecarga de trabalho e demandas excessivas são os principais responsáveis pelo aumento das doenças mentais no ambiente laboral. Ele explica que o estresse crônico ocorre quando os funcionários enfrentam prazos impossíveis e a falta de controle sobre suas atividades, o que prejudica o bem-estar psicológico.
Um exemplo dessa realidade é o caso de Mariana Alves, de 30 anos, que foi diagnosticada com Burnout enquanto trabalhava como líder de loja. Após uma rotina extremamente exigente e desgastante, ela decidiu pedir demissão em janeiro deste ano. Mariana relatou que sua rotina incluía múltiplas funções e que frequentemente trabalhava além do seu horário, sem nenhuma pausa, resultando em esgotamento emocional.
Cirlene Luiza Zimmermann, coordenadora da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho, informou que a pesquisa do MPT analisou afastamentos superiores a 15 dias, que permitiram acesso a benefícios do INSS. Os setores mais afetados incluem a administração pública, bancos, atividades de saúde e transporte coletivo.
Informações coletadas pelo Ministério da Previdência Social revelaram que a concessão de benefícios de incapacidade temporária relacionados a transtornos mentais e comportamentais está em crescimento. O Ministério do Trabalho está, também, planejando iniciativas para enfrentar os riscos psicossociais no trabalho. Essas iniciativas englobam capacitações e publicação de materiais informativos sobre o assunto.
A detecção precoce de problemas de saúde mental é fundamental. O psicólogo Karounis destaca que trabalhadores devem estar atentos a mudanças no comportamento, como fadiga crônica, dificuldade de concentração, alterações de humor e queixas físicas. No caso do publicitário Matheus de Freitas, que sofreu crises de pânico e ansiedade, a falta de atenção a seus sintomas inicialmente agravou sua situação. Após buscar ajuda médica, Matheus conseguiu retomar o equilíbrio emocional.
Caso um trabalhador perceba que está com a saúde mental comprometida, o primeiro passo é procurar ajuda profissional. É importante ter uma avaliação detalhada de um psicólogo ou psiquiatra. Uma profissional da área digital, que não se identificou, precisou se afastar do trabalho a pedido de seu psiquiatra para cuidar da saúde mental. Ela ressaltou a importância da comunicação com os superiores, que geralmente se mostram compreensivos em situações assim.
Karounis recomenda que trabalhadores adotem práticas de autocuidado, como exercícios físicos, técnicas de relaxamento e uma alimentação equilibrada. Aprender a dizer “não” a demandas excessivas e estabelecer limites é essencial para preservar a saúde mental. Além disso, o diálogo aberto com a chefia pode facilitar adaptações necessárias no ambiente de trabalho, contribuindo para um bem-estar geral mais eficaz.
