O Brasil atravessa uma grave crise de saúde mental, evidenciada pelo aumento de 134% nos afastamentos do trabalho por transtornos mentais entre 2022 e 2024, segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT). Especialistas apontam que a sobrecarga de trabalho e demandas excessivas são principais fatores que levam ao adoecimento mental.

    De acordo com Matheus Karounis, psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), quando os trabalhadores enfrentam tarefas e prazos irrealistas, isso resulta em estresse crônico e problemas de saúde. Ele destaca também que a falta de autonomia nas atividades contribui para o desgaste mental do funcionário.

    O relato de Mariana Alves, de 30 anos, exemplifica essa situação. Ela trabalhou como líder de loja e, após três anos de intensa atividade, pediu demissão em janeiro de 2025. Em sua narrativa, Mariana diz que sua rotina era desgastante e que suas funções iam muito além do que caberia em um cargo de liderança. “Sempre chegava mais cedo e saía mais tarde, muitas vezes trabalhando até mesmo em meus dias de folga”, conta. Ao ser diagnosticada com Burnout, ela ficou surpresa, relatando sentir-se paralisada e incapaz de se mover em momentos de extrema pressão.

    A coordenadora da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, Cirlene Luiza Zimmermann, esclarece que a pesquisa do MPT analisou apenas os afastamentos acima de 15 dias, que permitem o acesso a benefícios previdenciários. Segundo os dados, os setores mais afetados incluem a administração pública, bancos, hospitais, e o transporte coletivo.

    Em resposta a essa situação, o Ministério da Previdência Social informou sobre a concessão de benefícios por incapacidade temporária para transtornos mentais e comportamentais, buscando apoiar aqueles que precisam. O Ministério do Trabalho também está desenvolvendo iniciativas relacionadas à saúde mental, planejando ações para prevenção de riscos psicossociais e atualizações nas normas regulatórias.

    Karounis alerta que os trabalhadores devem estar atentos a sinais como fadiga crônica, dificuldades de concentração e alterações de humor. Ficar atento a esses sintomas é crucial para buscar ajuda profissional o quanto antes. Matheus de Freitas, publicitário de 30 anos, compartilhou sua experiência com crises de pânico e ansiedade. Ele percebeu que estava mal ao sentir falta de ar e tontura em momentos de descanso. Apesar de ter ignorado os sinais inicialmente, procurou ajuda médica após sua primeira crise.

    Diante de dificuldades emocionais, Karounis recomenda que os trabalhadores busquem orientação com psicólogos ou psiquiatras. Uma profissional de 28 anos, que preferiu não se identificar, também compartilhou sua experiência de afastamento para cuidar da saúde mental. A gestora da empresa se mostrou compreensiva e a incentivou a priorizar seu bem-estar.

    Esse processo de comunicação com a chefia é essencial, de acordo com Karounis. Manter um diálogo aberto pode facilitar adaptações no ambiente de trabalho e garantir o apoio necessário. Além disso, o psicólogo sugere estratégias de autocuidado, como exercícios físicos, alimentação saudável e sono adequado. Estabelecer limites nas demandas do trabalho é fundamental para preservar a saúde mental.

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