No dia 29 de novembro, durante o jogo entre Bayern de Munique e St. Pauli, torcedores da torcida organizada Südkurve exibiram uma faixa em protesto contra as opiniões de Uli Hoeness, presidente honorário do Bayern, sobre a regra 50+1. A faixa dizia: “Uli, quando finalmente ficará claro para você… O futebol na Alemanha é inimaginável sem 50+1!”.
A norma 50+1, estabelecida em 1998, exige que os clubes mantenham pelo menos 50% mais um de seus direitos de voto nas mãos de seus associados. A ideia é evitar a intervenção massiva de investidores externos que poderiam priorizar o lucro em vez dos valores democráticos e históricos do futebol alemão.
Hoeness tem criticado essa legislação, afirmando que ela impede o avanço do esporte e defende que muitos clubes se beneficiariam ao permitir a venda de ações para investir em contratações internacionais. Ele citou clubes como Borussia Monchengladbach e Hamburgo como exemplos que poderiam se beneficiar dessa mudança, e acredita que isso ajudaria na competitividade do campeonato.
Por outro lado, os torcedores enfatizam que a 50+1 é fundamental para preservar a essência do futebol na Alemanha, onde os clubes são vistos como parte da identidade local e comunitária. A resistência a mudanças nesse sentido é clara, com torcedores de diversos clubes da Bundesliga rejeitando o modelo que prevalece em outras ligas europeias, onde investidores podem dominar as decisões.
O jornalista Guilherme Ferreira, que acompanha o futebol da Alemanha desde 2018, destacou que essa ligação emocional dos torcedores com seus clubes é uma das características que diferenciam o futebol alemão de outras ligas. Para a torcida, o vínculo com a comunidade é mais importante do que a possibilidade de um campeonato mais competitivo, mesmo com o domínio do Bayern.
A resistência a mudanças como a proposta de Hoeness é evidente, refletindo o desejo dos torcedores de que seus clubes mantenham laços fortes com suas origens e raízes. A norma 50+1 garante aos sócios a “palavra final” em decisões importantes e participa ativamente das assembleias anuais, garantindo voz ativa aos torcedores.
Em termos de desempenho financeiro, pesquisa recente mostra que clubes como o Eintracht Frankfurt têm obtido sucesso em vendas que garantiram lucros significativos, indica que é possível ter um desempenho econômico positivo sem abrir mão da norma 50+1. O clube, por exemplo, lucrou 286 milhões de euros com negociações envolvendo jogadores, além de conquistar a Europa League em 2022.
Esse cenário demonstra que o sucesso pode coexistir com a preservação dos valores tradicionais do esporte. Em comparação com outras ligas, a Bundesliga é a única que adota essa regra restritiva, enquanto clubes da Premier League, por exemplo, são geridos majoritariamente por investidores, o que pode levar a mudanças que afastam torcedores e alteram a essência do que é ser um clube de futebol.
A discussão sobre a permanência da regra 50+1 continua, assim como a mobilização dos torcedores em defesa do que consideram os valores fundamentais do futebol na Alemanha.
