A tecnologia de inteligência artificial (IA) foi usada em um estudo recente para reanalisar tomografias computadorizadas (TC) que inicialmente serviram para verificar tumores, sangramentos ou infecções. Essa análise também revelou acúmulo de cálcio nas artérias, um sinal de doenças cardiovasculares em deterioração.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da NYU Langone Health e mostra uma nova abordagem chamada “triagem oportunística”. Nessa técnica, radiologistas utilizam imagens médicas já existentes para identificar doenças além daquelas que a TC originalmente buscava detectar.
Os detalhes do estudo foram apresentados em uma reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte, em Chicago, no dia 4 de dezembro. Os pesquisadores reanalisaram um grande número de tomografias de abdômen, feitas por diversos motivos, e focaram em parte da aorta, a principal artéria que liga o coração ao abdômen.
Utilizando dados dessas tomografias comuns, a equipe aplicou IA para medir a quantidade de cálcio na aorta, atribuindo uma pontuação padrão ao nível de calcificação. Isso ajudou a prever o risco de eventos cardiovasculares graves, como bloqueios nos vasos sanguíneos e até infartos.
A professora Miriam Bredella, uma das principais responsáveis pelo estudo, destacou que, em vez de depender de tomografias dedicadas às artérias coronárias – que são raras e nem sempre cobertas por planos de saúde –, a ideia é usar IA para analisar as tomografias abdominais. Isso deveria permitir a detecção mais precoce de problemas cardíacos.
Os pesquisadores revisitaram 3.662 tomografias de pacientes, na maioria idosos, entre 2013 e 2023. Essas pessoas já haviam feito uma TC abdominal e uma dedicada às artérias coronárias. Os resultados mostraram que a medição de calcificação na aorta a partir das tomografias abdominais foi eficaz para prever a calcificação nas artérias coronárias do mesmo paciente.
Além disso, a pesquisa indicou que quem apresentava calcificação na aorta tinha 2,2 vezes mais chances de sofrer um grande evento cardíaco ou precisar de procedimentos para restabelecer o fluxo sanguíneo no coração após três anos de acompanhamento.
A pesquisa revelou também que 29% dos participantes, que antes achavam não ter calcificação, apresentavam indícios precoces de acúmulo de cálcio nas artérias. Isso é um sinal claro de que muitos podem estar em risco e não sabem.
Esse novo achado reforça o que foi apresentado em um estudo anterior sobre a triagem de oportunística para diagnosticar perda óssea, também chamada de osteoporose. Nesse estudo, a equipe de Bredella analisou tomografias feitas para rastrear câncer de pulmão em 3.708 pacientes, a maioria fumantes ou ex-fumantes. Essas tomografias mostraram sinais severos de perda óssea em todas as raças e classes socioeconômicas.
A osteoporose é uma doença que muitas vezes passa despercebida, principalmente entre grupos raciais minoritários. O estudo indicou que a osteoporose estava presente em 38% dos negros, 55% dos asiáticos, 56% dos hispânicos e 72% dos brancos que participaram. O uso da tecnologia de triagem oportunística também detectou altos níveis de gordura corporal e endurecimento arterial, problemas frequentemente associados à perda óssea.
Os pesquisadores apontaram que esses resultados mostram como a triagem oportunística pode ser útil para diagnosticar e tratar a osteoporose em grupos que têm maior risco, como pessoas idosas ou fumantes. A ideia é criar um caminho para usar essa triagem a fim de melhorar o acesso ao diagnóstico de doenças como osteoporose e doenças cardíacas, além de triagens para câncer e diabetes.
No entanto, Bredella ressalta que mais pesquisa é necessária para entender se os dados de imagem e a análise oferecem uma identificação precoce suficientemente eficaz de pessoas em risco maior de doenças coronárias ou osteoporose. Com isso, o tratamento poderia realmente reduzir gravidade e mortalidade dessas condições.
O financiamento para o estudo sobre calcificação aórtica foi apoiado por subsídios do National Institutes of Health, que ajudam a impulsionar a pesquisa nessa área. O trabalho também contou com a colaboração de diversos pesquisadores, alguns dos quais estiveram envolvidos no estudo sobre osteoporose, que foi realizado em parceria com instituições renomadas.
Junto aos pesquisadores principais, a equipe incluiu médicos e especialistas de diversas áreas, demonstrando a colaboração entre universidades e instituições de saúde para enfrentar esses problemas de saúde pública. Esse esforço conjunto pode trazer novas soluções importantes para o diagnóstico e tratamento de doenças que afetam milhões de pessoas.
Esses estudos ressaltam a importância da tecnologia na medicina contemporânea. Com inovações como a IA, os médicos podem analisar melhor os dados existentes, ajudando a triar e identificar pacientes que podem precisar de atenção médica especial.
Num momento em que a saúde pública é tão discutida, a triagem oportunística surge como uma alternativa viável para aumentar a detecção precoce e melhorar os cuidados com doenças que causam grande impacto na vida das pessoas. A busca contínua por novas estratégias pode, assim, salvar vidas.
