As células do sistema imunológico do corpo humano estão em constante comunicação, trocando informações com células cancerígenas, outras células do sistema imunológico e micróbios. Essas interações resultam em padrões específicos de expressão molecular que são fundamentais para o entendimento e tratamento de diversas doenças, como câncer, doenças autoimunes, infecções e inflamações. No entanto, a identificação desses padrões é um desafio para os cientistas, já que as moléculas nas células são extremamente pequenas.
Pesquisadores de CellPrint Biotechnology, da Case Western Reserve University e da Cleveland Clinic Foundation, liderados pelo professor David Kaplan, deram um passo importante para revelar esses padrões nas células do sangue. Seu estudo foi publicado em uma revista científica especializada.
O professor Kaplan explicou que a nova abordagem utiliza uma versão avançada da citometria de fluxo. Essa tecnologia permite detectar o que acontece dentro de células individuais, utilizando um feixe de laser que atravessa as células e analisa suas moléculas. A nova versão dessa tecnologia possui uma resolução até cem vezes melhor do que as técnicas tradicionais, permitindo a detecção de moléculas muito pequenas e a análise de como elas estão interligadas. “Nossa tecnologia demonstrou uma sensibilidade excepcional, e com o recente desenvolvimento da citometria dimensional controlada, conseguimos alta precisão”, destacou Kaplan.
A pesquisa revelou que o interferon, uma proteína produzida pelo corpo em resposta a infecções, pode ativar vias genéticas importantes para a primeira linha de defesa imunológica. A equipe usou amostras de sangue de voluntários saudáveis e conseguiu medir alterações moleculares de maneira consistente, provando que seu método é capaz de capturar tanto a visão geral quanto os detalhes mais sutis das interações celulares.
Além disso, ao testar o mesmo método em amostras de sangue tratadas com um medicamento que induz a morte celular, surgiram padrões inesperados. Algumas moléculas mantiveram suas relações, enquanto outras se desagregaram e novas conexões se formaram. Essa observação é relevante, pois sugere que medicamentos podem afetar o funcionamento interno das células de maneiras que técnicas menos sensíveis não conseguiriam detectar.
Em outra fase do estudo, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de pacientes com distúrbios de células plasmáticas, como mieloma múltiplo e amiloidose. O método utilizado identificou padrões de sinalização distintos entre diferentes tipos de células. Os monócitos, que combatem infecções, e as células T auxiliares, que regulam a resposta imunológica, apresentaram interações moleculares únicas. Essas diferenças podem ajudar a entender melhor como essas doenças se desenvolvem e progridem.
O professor Kaplan destacou a importância da nova tecnologia, que possibilita a análise detalhada das redes de sinalização em células do sangue a partir de amostras clínicas. Ele enfatizou que essas descobertas podem ajudar médicos e cientistas a compreender melhor o comportamento das doenças, possibilitando novos caminhos para diagnóstico, prognóstico e tratamento.
Compreender a sinalização celular é fundamental, já que está envolvido em diversas doenças. As aplicações dessa descoberta são amplas, permitindo que os médicos monitorem as doenças em tempo real, avaliem como os pacientes respondem aos tratamentos e identifiquem caminhos ocultos em diversos casos de câncer e problemas no sistema imunológico. A pesquisa do professor Kaplan e sua equipe mostra que, ao prestar mais atenção às comunicações dentro das células imunológicas do sangue, a ciência avança na transformação de sinais sutis em informações clínicas valiosas.
