No final do ano passado, o Google voltou a entrar na corrida de Realidade Aumentada e Virtual com o Android XR. Em vez de competir diretamente com dispositivos como o Vision Pro da Apple ou Quest da Meta, a empresa focou no que sabe fazer melhor: software. O Android XR funciona como a base para a criação de dispositivos de realidade aumentada e virtual, permitindo que fabricantes desenvolvam produtos variados.

    A Samsung foi a primeira grande parceira a apoiar o projeto, lançando o Galaxy XR em outubro. Esse foi o primeiro dispositivo a rodar a plataforma renovada do Google. A relação entre Google e Samsung se tornou tão próxima que, muitas vezes, é difícil saber onde uma empresa termina e a outra começa.

    Durante o evento Android Show (Edição XR) deste ano, essa conexão ficou ainda mais evidente. O Google apresentou uma nova onda de recursos, dispositivos e ferramentas que vão compor o ecossistema de tecnologias XR.

    Entre as novidades, o Galaxy XR recebeu alguns upgrades. Como é construído sobre o Android XR, muitas das funcionalidades anunciadas são resultado de uma parceria entre Samsung e Google. O objetivo é tornar o headset mais prático, deixando de ser um dispositivo voltado apenas para nichos específicos e se tornar atraente para quem busca uma experiência mais imersiva em suas atividades do dia a dia.

    Um dos destaques foi o recurso chamado PC Connect, que permite conectar o headset à área de trabalho do Windows. Assim, os usuários podem interagir com suas janelas na realidade aumentada, jogar e realizar tarefas em um imenso espaço virtual. Esse recurso ainda está em fase de teste, mas já promete aumentar a utilidade do dispositivo.

    Outra novidade é o Likeness, um novo sistema de avatares que reproduz as expressões faciais do usuário em videochamadas. Embora ainda não esteja no nível do Vision Pro da Apple, a demonstração pareceu bastante natural, melhorando a experiência em comparação aos avatares em estilo cartoon que existiam antes.

    Uma característica surpreendente foi o System-Level Autospatialization, que transforma conteúdos 2D em 3D. Durante a demonstração, um botão simples conseguiu mudar aplicativos, jogos e vídeos de janelas planas para cenas espaciais em camadas. Esse anúncio pode ser discreto, mas tem potencial para se tornar um dos principais recursos do Android XR quando for lançado.

    O Google também mencionou o Travel Mode, que está previsto para chegar mais tarde. Esse recurso promete estabilizar a visão durante movimentos, tornando mais confortável o uso do headset em transporte, como em voos ou ônibus. Assim, será possível assistir a vídeos ou trabalhar em várias abas sem a sensação desconfortável que acontece normalmente.

    Além do Galaxy XR, o Google anunciou que está desenvolvendo mais tipos de dispositivos com empresas como Gentle Monster e Warby Parker, focando em óculos com inteligência artificial. Estão em andamento dois modelos:

    1. Um que funciona sem tela, utilizando a tecnologia Gemini para assistência por voz, câmera e multimodal.
    2. Outro que terá uma tela nas lentes para exibir informações rápidas, como navegação, legendas e sobreposições contextuais.

    Os primeiros óculos estão previstos para serem lançados no próximo ano e marcam a entrada do Google no mercado de “wearables” de IA do dia a dia, sem ser apenas um substituto para os headsets.

    Outro aspecto interessante apresentado foi o Project Aura, que traz um conjunto de óculos AR leves. Eles usam lentes transparentes para sobrepor janelas digitais ao mundo real. O produto promete um amplo campo de visão e é ideal para atividades que exigem as mãos livres, como assistir a vídeos de receitas ou seguir guias.

    A demonstração mostrou um pouco de como esse dispositivo funcionará no dia a dia. Ele pode ser visto como uma versão reduzida da experiência do Android XR, onde o usuário ainda pode realizar várias tarefas, mas em um formato mais leve e menos imersivo. O diferencial do Project Aura reside em sua bateria acoplada, que também serve como um trackpad. Os gestos para controle são semelhantes aos do Galaxy XR, permitindo ao usuário controlar as funções apenas movendo as mãos no ar, sem necessidade de outros acessórios.

    Esse modelo também está previsto para ser lançado no próximo ano e representa uma opção intermediária entre headsets de VR completos e óculos de IA simples.

    Para acompanhar todos esses novos dispositivos, o Google está lançando uma nova prévia do SDK do Android XR para desenvolvedores. Essa atualização facilita a criação de aplicativos para os óculos de IA, introduz novos APIs espaciais e inclui integrações de amostra de parceiros. O objetivo é permitir que os desenvolvedores criem experiências que funcionem de maneira consistente em headsets, óculos de AR e dispositivos híbridos, sem precisar reescrever tudo para cada formato.

    Após o evento, ficou claro que Google e Samsung estão encarando a XR como um projeto conjunto. O Google fornece a inteligência artificial e o software, enquanto a Samsung oferece a parte de hardware. Em vez de lançar apenas um headset principal, o Google está criando um ecossistema completo, incluindo headsets, óculos e dispositivos de AR cabeados, todos interligados pelo Android XR e pela tecnologia Gemini.

    Com tudo isso, o futuro da estratégia XR do Google parece menos focado em um único dispositivo e mais como uma família de wearables, todos trabalhando em conjunto. Assim, a evolução da tecnologia pode oferecer um leque de opções que atendem às diversas necessidades do mercado.

    Share.