A Unimed Ferj, responsável pela gestão de 344 mil beneficiários desde novembro, firmou um acordo com a Unimed do Brasil, conforme determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No entanto, enquanto a direção do acordo apresenta essa mudança como uma solução, profissionais da saúde, incluindo hospitais e clínicas, acreditam que a situação é, na verdade, uma continuação de problemas sérios que já perduram há mais de dez anos no Rio de Janeiro.

    Desde que a Unimed Ferj assumiu a operação, a dívida acumulada já supera R$ 2 bilhões, um aumento em relação aos R$ 1,6 bilhão quando a Ferj herdou a gestão da Unimed-Rio. Para os prestadores de serviços de saúde, essa nova estrutura não resolve a crise, mas apenas a aprofunda. Somente 7% da arrecadação fica com a Unimed Ferj, quantia insuficiente para cobrir as operações diárias, muito menos para saldar a dívida existente. A expectativa de que essa mudança possa sanar problemas financeiros é vista como irreal.

    Um dos principais problemas é a falta de clareza sobre de onde virão os novos recursos necessários para assegurar o funcionamento do sistema e o pagamento aos prestadores que continuam atendendo seus pacientes. Atualmente, muitos hospitais e clínicas estão obrigados a prestar serviços sem contratos claros e sem garantias de pagamento, o que está colocando em risco a continuidade do atendimento. A situação se agrava com a pressão sobre esses prestadores, que são forçados a suportar as finanças de uma operadora que enfrenta dificuldades.

    Além disso, a falta de transparência é um ponto crítico. Não há informações públicas confiáveis sobre a arrecadação ou a destinação dos recursos, gerando incertezas sobre quanto da dívida é atribuída à antiga gestão da Unimed-Rio e quanto se deve à atual administração da Ferj. A ANS, que supervisiona esse processo, deve promover maior clareza e responsabilidade sobre as finanças do modelo.

    Na ponta, a realidade é alarmante. Algumas redes hospitalares já suspenderam atendimentos e empresas de home care estão rejeitando novos pacientes que necessitam de cuidados contínuos. Essa dificuldade não é apenas uma questão política, mas uma consequência direta da inadimplência e da insegurança nos contratos.

    Diante desse cenário, a ANS precisa agir com seriedade e não como uma mera observadora. Se a agência está dirigindo essa transição, ela também deve garantir a transparência necessária e a viabilidade econômica do novo modelo.

    Até agora, já houve várias tentativas de resolver esses problemas, mas elas não foram eficazes, deixando um saldo maior de dívidas e fragilizando ainda mais a rede de atendimento. Para que o sistema de saúde suplementar funcione, é essencial que haja fluxo financeiro adequado, contratos bem definidos e previsibilidade nos pagamentos. Sem isso, não há atendimento, e sem atendimento, todo o sistema perde o sentido.

    Os prestadores de serviço exigem, entre outras coisas, maior transparência em relação aos dados financeiros, garantias mínimas e um plano emergencial que resolva as pendências financeiras. É fundamental que esses profissionais, que são a verdadeira linha de frente do atendimento, tenham voz nas discussões que envolvem a ANS e outras instituições.

    A situação é crítica: a continuidade do atendimento e a saúde de milhares de pessoas no Rio de Janeiro estão em jogo. Sem um sistema de prestadores viável, a saúde suplementar não pode se sustentar.

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