Um estudo recente sugere que o microbioma intestinal de uma criança aos 2 anos pode influenciar sua saúde emocional anos depois. Pesquisadores descobriram que níveis elevados de bactérias da ordem Clostridiales e da família Lachnospiraceae estão ligados a uma maior conectividade em redes cerebrais relacionadas a emoções, além de um risco maior de sintomas de ansiedade e depressão aos 7 anos e meio.

    Essas conexões indicam que as bactérias intestinais de início de vida podem programar circuitos cerebrais envolvidos na regulação emocional. Os resultados destacam o eixo intestino-cérebro como um alvo potencial para intervenções precoces em saúde mental, por meio de dieta ou probióticos.

    Fatos Principais

    • Conexão Intestino-Cérebro: As bactérias intestinais parecem moldar redes cerebrais ligadas a emoções e humor.

    • Padrões Previsíveis: Crianças pequenas com mais bactérias do grupo Clostridiales e Lachnospiraceae mostraram maior risco de ansiedade e depressão depois.

    • Potencial Terapêutico: Ajustar as bactérias intestinais desde cedo, através de probióticos ou mudanças na dieta, pode reduzir os riscos de problemas de saúde mental mais tarde.

    Um estudo da UCLA mostra que o microbioma intestinal de crianças pequenas pode afetar seu risco de desenvolver depressão, ansiedade ou outros sintomas emocionais na infância, especialmente quando esses problemas se manifestam. A relação parece estar ligada à forma como as bactérias ajudam na comunicação entre as áreas do cérebro que controlam as emoções.

    Esse estudo, publicado na revista Nature Communications, observou que crianças com maior quantidade de bactérias das ordens Clostridiales e Lachnospiraceae apresentaram maior risco de sintomas internos — que incluem depressão e ansiedade — na infância tardia.

    A ligação funciona de maneira indireta: a composição inicial do microbioma intestinal estava associada a diferenças na conectividade entre as redes cerebrais emocionais, que se relacionam a episódios de ansiedade e depressão mais tarde na vida da criança.

    Os achados sugerem que as bactérias intestinais no início da vida podem influenciar circuitos cerebrais que impactam a saúde emocional infantil. Sem intervenções, sintomas de depressão e ansiedade podem se tornar problemas persistentes conforme a criança cresce, conforme afirmado pela Dra. Bridget Callaghan, autora sênior do estudo.

    “Conectar padrões do microbioma na infância com a conectividade cerebral e os sintomas de ansiedade e depressão indica que as bactérias intestinais podem moldar a saúde mental durante os anos cruciais da infância”, diz Callaghan, que é também professora de Psicologia na UCLA.

    Pesquisas anteriores sobre o eixo intestino-cérebro em crianças focaram mais em bebês e crianças pequenas, explorando como a composição microbiana pode influenciar o desenvolvimento cerebral em áreas como movimento, linguagem e aprendizado, sem se concentrar muito na saúde mental.

    A equipe de Callaghan se propôs a descobrir se o microbioma intestinal das crianças poderia ter um efeito em cascata nos resultados de saúde mental nos anos seguintes, quando os problemas emocionais como depressão e ansiedade começam a surgir.

    O estudo se baseia em dados coletados do projeto Growing Up in Singapore Towards Healthy Outcomes (GUSTO). Esta pesquisa longitudinal coletou diversos dados de saúde de crianças em Singapura, como amostras de fezes aos 2 anos, exames de ressonância magnética do cérebro aos 6 anos e questionários com os cuidadores sobre problemas comportamentais das crianças aos 7 anos e meio. Os pesquisadores da UCLA analisaram os dados de 55 participantes do estudo GUSTO.

    A análise estatística identificou combinações de padrões de conectividade cerebral aos 6 anos que estavam mais fortemente associadas a sintomas internos relatados aos 7 anos e meio. Os pesquisadores examinaram como os perfis microbianos intestinais às 2 anos estavam associados a esses padrões cerebrais.

    A relação entre sintomas internos e bactérias das ordens Clostridiales e Lachnospiraceae segue padrões semelhantes de pesquisas que envolvem saúde mental em adultos. Callaghan informou que esses grupos de microrganismos estão ligados à resposta ao estresse e à depressão em adultos, além de estar associados aos efeitos de adversidades na infância.

    Algumas bactérias desses grupos podem ser mais sensíveis a estressores, o que poderia explicar sua associação com o desenvolvimento de sintomas emocionais mais tarde.

    Callaghan espera que futuras pesquisas experimentais revelem se essas associações são causais e se precisam ser tratadas. “Precisamos descobrir quais espécies dentro desses grupos estão guiando os resultados. Assim que tivermos essa informação, há maneiras relativamente simples de mudar o microbioma, como probióticos ou ajustes na dieta, que podem ajudar a abordar esses problemas,” afirmou Callaghan.

    Dra. Francesca Querdasi e Dra. Jessica Uy são co-autoras principais do estudo, e Dra. Jennifer S. Labus da UCLA também fez parte da pesquisa. O trabalho contou com a colaboração de diversas instituições, incluindo a A*STAR, o Hospital KK para Mulheres e Crianças, o Sistema de Saúde da Universidade Nacional e a Escola de Medicina Yong Loo Lin da Universidade Nacional de Singapura.

    Perguntas Frequentes

    • Como as bactérias intestinais influenciam a saúde mental?
      Algumas bactérias afetam a comunicação entre regiões do cérebro que regulam as emoções, moldando padrões relacionados à ansiedade e depressão.

    • O que o estudo descobriu sobre o microbioma das crianças?
      Crianças pequenas com níveis mais altos de Clostridiales e Lachnospiraceae estavam mais propensas a apresentar sintomas internos anos depois.

    • Isso pode levar a tratamentos ou estratégias de prevenção?
      Sim, uma vez que espécies bacterianas específicas sejam identificadas, intervenções como probióticos ou mudanças na dieta podem apoiar o desenvolvimento emocional.

    Resumo do Estudo

    O eixo microbioma-intestino-cérebro desempenha um papel fundamental na saúde mental, mas há pouca pesquisa que vincule o microbioma à função cerebral, especialmente durante o desenvolvimento, quando muitos problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, começam a aparecer.

    Este estudo observacional usou métodos estatísticos para identificar combinações de redes cerebrais que se correlacionam com sintomas emocionais. Os pesquisadores mostraram que o microbioma das crianças aos 2 anos está associado a sintomas emocionais mais tarde, enfatizando a importância do papel das bactérias intestinais na saúde mental das crianças.

    Share.